terça-feira, 26 de abril de 2022

A COVID-19 E OS ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Em 15 de março de 2020, há exatos dois anos foi diagnosticado o primeiro caso de Covid-19 no Estado do Ceará. A primeira onda aconteceu precocemente em relação ao restante do Brasil e assumiu proporções gigantescas, inicialmente em Fortaleza devido à alta densidade populacional e ao grande número de assentamentos precários, eis que mais da metade da população vive miseravelmente em um só cômodo.

Dessa forma, a pandemia descortinou uma realidade perversamente escondida. A mortalidade foi muito maior nos pobres e nos idosos pobres. As mortes inicialmente permaneceram desconhecidas à maior parte da população mais abastada. Aos poucos o quadro se agravou, e outras classes e faixas etárias foram brutalmente acometidas.

Tudo só não foi pior devido à dedicação de trabalhadores da saúde incansáveis, principalmente nos órgãos públicos, que anônimos aos poderosos, foram responsáveis por mais de 95% do atendimento. As internações aconteceram em todas as unidades. Os hospitais foram transformados em unidades de Covid e as UPAs (Unidades de pronto atendimento) foram transformadas em hospitais. Em poucos meses foram criados cinco mil leitos extras, sendo mil e quinhentos de terapia intensiva, espalhados em todas as regiões do Estado.

Tudo foi planejado em poucos meses e, assim, evitou-se uma tragédia anunciada de um sistema de saúde abandonado pelas autoridades. Pois, no início da pandemia, o sistema contava somente com pouco mais de 400 leitos de UTI, já havia um déficit de décadas.

A força de trabalho contou com a dedicação inesquecível de todos. As enfermeiras cumpriram além do juramento, as fisioterapeutas fizeram o impossível. Entre os médicos, principalmente os mais jovens e pouco experientes fizeram a maioria. Aceitaram o desafio sem pestanejar.

Alunos anteciparam a formatura e assumiram postos no front, mesmo sem o treinamento adequado. Esses fizeram a diferença!

Mas, infelizmente, foram milhares de mortes, entre jovens e idosos, famílias decepadas por inteiro, inúmeros órfãos de pai e mãe. Em 18 de maio faleceram no Ceará 267 pessoas por Covid. Poderia ter sido ainda pior, já que os números apontavam para aproximadamente 400 mortes por dia. Foi para nunca mais esquecermos...

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/03/2022. Opinião. p.19.

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