segunda-feira, 25 de abril de 2022

ECONOMIA E CULTURA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Segundo Adonias Filho, não houve no Nordeste brasileiro o romance modernista, mas sim o ciclo pré-modernista e o pós- modernista. O primeiro, de Franklin Távora e Domingos Olympio, colocava em plano secundário os elementos sociais e na fase principal da cena, de forma invulgar, a chamada ação episódica. No segundo, com destaque, entre outros, para a querida e incomparável Rachel de Queiroz e para José Américo de Almeida, os elementos sociais superam a ação episódica, traduzindo com rigor o documentário. “Mas, ao fechar-se o segundo ciclo, Graciliano Ramos abre a terceira fase: acrescenta ao documentário, sem anular a irradiação social, as indagações psicológicas”. Por trás das obras dos autores mencionados, existem componentes políticos, econômicos e religiosos compatíveis com os momentos em que foram escritas. A literatura nordestina, com certeza, é a que apresenta com maior realismo as características de um povo que mata e reza para não morrer. A visão do intelectual, além de ser abrangente, é caracterizada por conter, na maioria das vezes, sentimentos sociais, diferentemente daquilo que pensam muitos tecnocratas. A produção literária do Nordeste precisa ser levada em consideração pelos formuladores de políticas econômicas globais. Talvez seja mais importante a leitura de “O Quinze”, “A Bagaceira”, “Vidas Secas” e tantos outros livros do que de compêndios estrangeiros de economia política, mesmo de alguns mestres famosos como Friedman, Hansen, Ackley, Leftwich etc. O Nordeste tem suas peculiaridades e também suas vantagens comparativas que precisamos transformá-las em vantagens competitivas. Da maneira como não tivemos no romance a fase modernista, segundo Adonias filho, podemos, mediante prioridades concretas para a educação e a tecnologia, entrar mais rapidamente na fase pós- informática. Precisamos dar um salto de informação e de conhecimento. Os economistas, em particular, necessitam aprender com os verdadeiros literatos, para que possam ler e escrever o romance do nordeste desenvolvido. Não basta a educação formal, mas também a educação comportamental. A não conexão entre a teoria socioeconômica e a realidade cultural é o motivo principal do impasse do futuro, não só para o Nordeste mas para as regiões e países subdesenvolvidos do mundo.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, 25/03/2022. Ideias.

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