domingo, 17 de abril de 2022

A POLIGAMIA DOS MÓRMONS

Nos anos sessenta, começaram a chegar, em Fortaleza, os primeiros mórmons norte-americanos, via de regra rapazes jovens, que deixavam os EUA, quase sempre procedentes do estado Utah, e que eram instados a passar pelo menos um ano em outro país, no mais das vezes, um do terceiro mundo, para exercer um trabalho missionário, com vistas à atração de novos fiéis para a sua grei.

Nestas plagas e naqueles tempos, a sua maior atenção para conquistar adeptos, tinha como foco pessoas mais abastadas, formadores de opinião, inclusive, como médicos e professores universitários, a exemplo do Prof. Newton Teófilo Gonçalves.

No expedito esforço desse proselitismo religioso, esses garbosos rapazes, sempre em dupla, (não confundir com a da polícia rotulada de “Cosme e Damião”), passavam, sem anúncio prévio, de porta em porta, nas casas mais elegantes, e, polidamente, pediam para falar com o chefe da família, tal como aconteceu com o Prof. Newton, cuja lhaneza de trato justificava o hospitaleiro acolhimento.

Nessas inoportunas visitas, os “boys” lançavam mão de uma série de argumentos, anunciando os seus fundamentos religiosos e também as vantagens de ser integrante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, denominação oficial do dito grupo confessional.

O rol de justificativas, desfiladas uma a uma, não encontrava eco no perlustrado médico, que refutava as investidas, deixando claro o seu não convencimento para trocar de religião, justo a que ele professava desde que passou a ser gente.

Não encontrando mais elementos essenciais para convencê-lo das vantagens de se tornar mórmon, os visitantes apelaram para o último argumento, guardado como um trunfo, à semelhança de uma carta escondida na manga da camisa, bem a propósito para gerar um impacto, à conta do conhecido machismo nordestino.

– A nossa religião permite e até apoia ter mais de uma mulher – disse um dos insistentes rapazes.

– Como assim, meus filhos? Você quer dizer mais esposas? – Perguntou o professor educadamente.

– Sim. Se o senhor se converter, tornando-se um mórmon, terá direito a ter quatro esposas.

– Ora, meus caros jovens, – retorquiu o professor – eu mal dou conta de uma, imaginem ter de assumir as responsabilidades conjugais com quatro esposas, simultaneamente.

Diante da resposta, os joviais norte-americanos recolheram os seus apetrechos, e bateram em retirada. Eles ignoravam, inteiramente, o quão o afamado médico era fiel à D. Maria Alice, a sua amada esposa, cuja feliz união, de mais de cinquenta anos, somente sofreu a ruptura pela nefasta ação da indesejada das gentes.

* Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011. 112p. p.93-94.

Fonte: SILVA, M.G.C. da. A poligamia dos mórmons. In: SOBRAMES – CEARÁ. Sopro de luz. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2020. 364p. p. 241-242.

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