terça-feira, 12 de abril de 2022

QUARESMA, TEMPO DE VIVER PARA DENTRO

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

A Quaresma nos convida a cuidar da nossa vida interior. Para nós, cristãos, o tempo é precioso demais para ser desperdiçado. "Deixa a vida me levar" não é opção de vida para nós, cristãos.

A vida é sempre uma travessia para o novo e desconhecido. Somos peregrinos, num caminho de desafios que podem atrofiar a visão e nos colocar à margem do caminho, sozinhos, sem perspectivas ou em um caminho repleto de sinais que nos impulsionam para frente e preenchem nosso coração de ousadia.

O tempo da Quaresma é para nós, cristãos, um privilégio, uma retomada do ritmo da marcha, de esvaziar as mochilas do supérfluo, reabastecer-nos do essencial, retomar as metas discernidas e assumidas diante de Deus.

O que dá sentido ao tempo vivido é a atenção que damos ao nosso mundo interior. A maior parte das pessoas vive ignorando a vida interior, esquecem que a vida de dentro se revela na de fora. A vida interior precisa de tempo para morar no silêncio.

Silêncio é lugar de entrega e encontro. Esse tempo da quaresma nos chama a realizar uma faxina interior e a nos desfazer das bagagens tóxicas que consumimos na rotina agitada e estressante.

*A oração, a esmola e o jejum* são atitudes do tempo da Quaresma. *A oração *é adentrar-nos no nosso próprio interior para ouvir a voz de Deus*.* Mas, dificilmente podemos entrar no interior se nos encontrarmos com o coração endurecido, hermético, agitado.

*O jejum *é um "olhar amoroso e vigilante" sobre e para si mesmo, uma tomada de consciência sincera na direção da transformação profunda*.* Tem a finalidade de nos possibilitar a experiência da falta*.*

Descobrir que, além dos alimentos, é o Senhor da vida que nos nutre. O jejum e a sobriedade favorecem a aproximação espiritual a Deus e aos irmãos que sofrem.

Diante de uma sociedade que valoriza o ser humano em função do que consome - "consumo, logo existo" - nosso jejum é o grito que anuncia que o ser humano é valioso em si mesmo, porque assim o é para Deus.

A oração e o jejum nos capacitam a compartilhar com os outros a generosidade que Deus desperta. E isto tem um nome: esmola. Quanto mais vivemos em Deus, menos somos nós o centro e mais nos doamos.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do Seminário Apostólico de Baturité.

Fonte: O Povo, de 12/03/2022. Opinião. p.18.

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