sexta-feira, 26 de abril de 2024

Crônica: “O sopro divino, de revestrés” ... e outros causos

O sopro divino, de revestrés

"No enterro do véi Djalma, tem 20 anos isso, vivi uma das mais trágicas experiências que a criatura pode passar no planeta. O que absorvi, a caminho do cemitério, naquele dia, condoída pela partida de um amigão de papai, foi coisa do outro mundo. Aos fatos. Estava eu a dois passos de um tal Chico Furão, que segurava a ponta de cá do caixão, quando ele liberou uma bufa tão fenomenal que o séquito empalideceu. Na minha mente, até seu Djalma aspirou a catinga e, bulindo-se no esquife, disse: 'Assim eu re-morro, macho!'"

Passadas duas décadas do episódio insólito, eis que, de novo, eu, Gleucemia Nonata, tornei a sentir catinga assemelhada, senão pior. Deu-se no elevador do prédio, ao subir pro meu apartamento. Um jovem de seus 18 anos, sozinho à hora em que adentrei à cabine, soltou um 'ninja' letal que me fez viajar em dolorosas lembranças. Mirando o fucim do camarada, disparei na cara dele, horrorizada:

- Esse seu peido tem a assinatura de Chico Furão! Tem vergonha de soltar gases assim na minha frente, não, rapazinho?

- Se a senhora preferir, fico de costas! - respondeu o intrépido menino, lascando outro petardo intestinal.

A propósito de correio eterno

Zezinho nunca pegou no pesado, de carteira assinada, fazendo bico. Aqui e acolá, isto sim, suava a camisa surrupiando galinha na vizinhança. Vivia às custas do pai, que, de repente, papocou. E Zezinho pirou. Remorso muito. Ao lembrar dos carões recebidos, do exemplo de dignidade do genitor, da paciência de seu velho, desequilibrou mentalmente. Foi visto deambulando no bairro, estranhamente à busca de algo. Explicou-me:

- Procuro um velório para pedir ao morto que leve flores e recado pra finado papai!

Amém?!?

Homem em alta velocidade numa moto, melado pelo modo de dirigir em ziguezague, atropela um porco e se estatela na rodagem. Duas caridosas velhinhas correm ao encontro dele, abanam-lhe as faces. Penalizadas, mas também horrorizadas com a dezena de preservativos espalhados em redor...

- Quem é o senhor?

- Sou o padre Napoleão...

- Tá tresvaliando! - concluiu uma delas, descrente que aquilo foi coisa de religioso.

Do amigo Sávio Pinheiro, republicando!

Zuza Lemos no consultório do Dr. Rubens. Por tudo que ouve e vê, médico constata que o septuagenário paciente abriga sério problema no coração. Carece de muito cuidado. Prescreve verdadeiro sacrifício: absolutamente nenhum esforço físico durante 8 dias. Zuza indaga do doutor que tipo de esforço não pode fazer. Explica melhor:

- O senhor sabe que eu gosto duma brincadeirinha de noite, umas camaradagens com a criatura lá de casa, né dotô?

O clínico geral responde firme, em nome da vida:

- Sexo, Zuza, nem pensar! Aconselho você e sua mulher a dormirem em quartos separados. Se insistir, você vai morrer! Vai morrer!

O velho sertanejo volta triste pra casa. Explica à consorte que Dr. Rubens receitara repouso absoluto. Sequer podia pensar naquilo. Quando deu de noite, marido e mulher vão dormir em quartos separados. Primeira, segunda e terceira noite, beleza; Zuza Lemos cumpre rigorosamente as recomendações. Na madrugada da quarta noite, porém, a mulher é acordada com os gritos do marido, na porta do quarto dela. Ele, aos berros...

- Mulher!!! Pelo amor de Deus, mulher!

- Que foi, home? Que é, Zuza?

- Abre essa porta que eu quero morrer!

Fonte: O POVO, de 8/03/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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