Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O jovem
contempla, atemorizado, as incertezas do desconhecido porvir. Ensinado a se
envergonhar de se mostrar sentimental, expressa na violência a metamorfose do
medo.
Algoritmo é
vocábulo originário do latim: algorismus,
por influência do grego arithmos, que
significa: números. Portanto, trata-se de processo de cálculo ou resolução de um
grupo de problemas análogos. A grande vantagem em estudar a problemática da violência
pelo método algorítmico, é o de conseguir delimitar e estratificar as
responsabilidades geradoras da violência. Assim decodificada, torna-se factível
priorizar-se as causas e, planejar medidas essenciais ao seu combate e
prevenção.
Como é muito
difícil e complexo combatê-la, talvez seja mais eficiente, estabelecer
estratégias de combate e sobretudo preveni-la, e, por maior que seja o número de
jovens marginais presos e não presos, eles não são a maioria da população
juvenil (segundo a PEC da Juventude aprovada pelo Congresso em setembro de 2010
e o Estatuto da Juventude sancionado em 2013. Considera-se jovem no Brasil todo
o cidadão entre 15 a 29 anos de idade).
Assisto
pasmado à diversidade de sugestões e opiniões que surgiram nas mídias sociais e
profissionais, autoridades governamentais, chocadas, como todos nós,
pós-explosão das chacinas nos presídios, organização criminosa, greves de
policiais, e a recém-informada ocorrência de aumento do número de assassinatos,
saques e roubos no estado do Espírito Santo. Além das não noticiadas... Pois
mesmo as noticiadas, são logo esquecidas.
As opiniões
e sugestões são das mais superficiais. Permita-me sugerir, que os gatilhos da
violência, entre nós, já foram identificados, ordenados. Contudo, isso não
significa, que possam ser impedidos de agir. A Ciência é dinâmica para ser
ciência. Temos suficientes pesquisas de “diagnóstico de situação” sobre a
origem da violência. Faltam-nos profilaxias, tratamento da “doença da
violência”.
Enumero as
principais etiologias por ordem de grandeza: 1. Desemprego; 2. Miséria; 3.
Doenças dos genitores; 4. Morte de um dos pais; 5. Prisão; 6. Separação; 7. Pai
trabalhando em outra localidade; 8. Mãe trabalhando em tempo integral; 9. Maus
tratos infanto-juvenis.
Assim sendo,
é possível buscar medidas, ações, atitudes coordenadas e sequenciais, para não
desperdiçar os nossos parcos recursos que são compreensivamente limitados. Cada
um dos nove itens mencionados é de terapêutica especifica.
Decisões
tomadas de afogadilho, emocionalmente, tendem à ineficiência, como acontece na
maioria das vezes. Aprende-se mais com os erros do que com os acertos e, se
errarmos quanto a essa patologia da violência, poderemos corrigir o erro.
Estaremos,
então, no caminho certo. Cada vez mais atemorizados com a situação do aqui e do
agora, necessitamos de uma atuação imediata, enérgica e agressiva.
Será que a tarefa de enfrentar a violência é mais
complexa do que o enfrentamento da adulteração da carne?
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros
neonatologistas brasileiros.
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