quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ALGORITMO DA VIOLÊNCIA I (A carne é fraca)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O jovem contempla, atemorizado, as incertezas do desconhecido porvir. Ensinado a se envergonhar de se mostrar sentimental, expressa na violência a metamorfose do medo.
Algoritmo é vocábulo originário do latim: algorismus, por influência do grego arithmos, que significa: números. Portanto, trata-se de processo de cálculo ou resolução de um grupo de problemas análogos. A grande vantagem em estudar a problemática da violência pelo método algorítmico, é o de conseguir delimitar e estratificar as responsabilidades geradoras da violência. Assim decodificada, torna-se factível priorizar-se as causas e, planejar medidas essenciais ao seu combate e prevenção.
Como é muito difícil e complexo combatê-la, talvez seja mais eficiente, estabelecer estratégias de combate e sobretudo preveni-la, e, por maior que seja o número de jovens marginais presos e não presos, eles não são a maioria da população juvenil (segundo a PEC da Juventude aprovada pelo Congresso em setembro de 2010 e o Estatuto da Juventude sancionado em 2013. Considera-se jovem no Brasil todo o cidadão entre 15 a 29 anos de idade).
Assisto pasmado à diversidade de sugestões e opiniões que surgiram nas mídias sociais e profissionais, autoridades governamentais, chocadas, como todos nós, pós-explosão das chacinas nos presídios, organização criminosa, greves de policiais, e a recém-informada ocorrência de aumento do número de assassinatos, saques e roubos no estado do Espírito Santo. Além das não noticiadas... Pois mesmo as noticiadas, são logo esquecidas.
As opiniões e sugestões são das mais superficiais. Permita-me sugerir, que os gatilhos da violência, entre nós, já foram identificados, ordenados. Contudo, isso não significa, que possam ser impedidos de agir. A Ciência é dinâmica para ser ciência. Temos suficientes pesquisas de “diagnóstico de situação” sobre a origem da violência. Faltam-nos profilaxias, tratamento da “doença da violência”.
Enumero as principais etiologias por ordem de grandeza: 1. Desemprego; 2. Miséria; 3. Doenças dos genitores; 4. Morte de um dos pais; 5. Prisão; 6. Separação; 7. Pai trabalhando em outra localidade; 8. Mãe trabalhando em tempo integral; 9. Maus tratos infanto-juvenis.
Assim sendo, é possível buscar medidas, ações, atitudes coordenadas e sequenciais, para não desperdiçar os nossos parcos recursos que são compreensivamente limitados. Cada um dos nove itens mencionados é de terapêutica especifica.
Decisões tomadas de afogadilho, emocionalmente, tendem à ineficiência, como acontece na maioria das vezes. Aprende-se mais com os erros do que com os acertos e, se errarmos quanto a essa patologia da violência, poderemos corrigir o erro.
Estaremos, então, no caminho certo. Cada vez mais atemorizados com a situação do aqui e do agora, necessitamos de uma atuação imediata, enérgica e agressiva.
Será que a tarefa de enfrentar a violência é mais complexa do que o enfrentamento da adulteração da carne?
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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