Por jornalista Tarcísio Matos,
de O Povo
Consulta termina em goleada
Cearense é bicho exagerado - incomparável nas
comparações. Lembra quando tio Joaquim, vendo-me “engurujado” no sofá da sala,
disse que eu parecia “um pedaço de toicinho dentro dum saco de farinha”? Pois
esse mesmo irmão de mãe foi ao médico tratar duma espinha reincidente no
interior da narina e a conversa com o otorrino foi de muitos gols, de um lado e
de outro.
Examinado o nariz do incomodado paciente, doutor
(torcedor doente do Ceará Sporting Clube) sublinha uma das prováveis causas:
defesas baixas.
- Aí o adversário, as bactérias, fazem a festa!
- Explique melhor! – pede tio Joaquim, fanático pelo
Tricolor de Aço.
- Digamos que o Vovô meta 6 a 0 no Fortaleza, ainda no
primeiro tempo. Ataque fez estragos porquê? Porque a defesa contrária estava
fraca...
Tio Joaquim, doído mais da goleada gratuita que da
espinha operosa, retruca:
- E se a defesa do Leão tivesse Cícero, Louro, Zé Paulo,
Basílio e Carneiro? Não levava um, doutor! Com Hamilton Rocha, Geraldino
Saravá, Adilton e Mimi no ataque, era 10 a 0 naquela carniça!!!
Pago
quando morrer
Viúvo, quem diria! Seu Zé agora sozinho no mundo. A amada
Maria Anete no Grande Além. Jeito é chorar, velho! Chora, empurra o pau a
chorar! Faz bem: irriga os canais lacrimais, desinflama a alma dorida de
saudade. Pranteia a ausência do teu bem-querer, que daqui a pouco tem a missa
de corpo presente e o enterro.
Ao pé do caixão, por sinal muito bonito, Zé parecia
criança a choramingar lapada de mãe enfezada. Agarrado à madeira envernizada,
queria uma coisinha mais de vida, da vida que de quem partiu, partindo um
coração – tenros 45 aninhos tinha Anete. Seu Zé berra, beija, bafeja, baba,
bodeja e birita.
Quinta dose de cana (pra suportar tamanha solidão, só
melado) e quem aparece no velório, instalado na sala de visitas da casa do Zé?
Protógenes, “rapai véi” rico feito o cão, bodegueiro afamado. Veio cobrar 500
contos do “cônjuge sobrevivente de uma sociedade conjugal desfeita com a morte
do outro”; exéquias, só um detalhe.
Potó, alcunha do comerciante, abraça o viúvo por trás,
ora esparramado sobre o caixão. Como se buscasse desvencilhar-lhe da dor os
braços, conchega Zé ao peito e entoa a oração de Santo Expedito. Sabedor da
real intenção do credor no recinto, o desconsolado senhor, apontando pra morta
querida, desabafa lacrimoso:
- Bem que podia ser tu aí, nera Potó!?!
‘Top
de trás pra frente é pot’
Sabe o Val, que tocava fogo num tamborete da cozinha
sempre que levava chifre da mulher? Não tem mais um tamborete em casa! Todo
instante vendo chifre em cabeça de cavalo, deu em vender pote online e
quartinha output. Gaba-se de comerciante top; pra mulher, uma “topeira”.
Confira no desabafo da Chaguinha:
- Chifre é como assombração, geralmente aparece pra quem
tem medo.
- Que mais, Chaguinha? – indago preocupado com Val.
- Caba véi endoido. Onde já se viu botar na loja o nome
“Val Divino”, mesmo que fique na padre Valdevino! Tem mais: ele falou pro nosso
caçula de 5 anos, depois do almoço, que o menino tinha cinco minutos pra dormir
meia hora... Entendeu?!?
Fonte: O POVO, de 4/02/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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