Por João Gabriel Tréz
Amigos de Horácio Dídimo ouvidos pelo Vida & Arte;
destacam que legado deixado pelo escritor é marcado por bondade, delicadeza e
amor
Horácio Dídimo, para os amigos e colegas, era conhecido como
"anjo", "arcanjo". É o que contam aqueles ouvidos pelo Vida
& Arte. "Havia quem o apelidasse assim pela forma leve que ele tratava as pessoas", conta o
escritor Raymundo Netto, gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha. "As pessoas que
conheço que passaram por ele têm sempre uma lembrança muito saudosa, doce,
cativante da pessoa que ele foi. Antenado, sempre lendo os novos autores, com
espírito de solidariedade e respeito à própria literatura", elenca.
"Para nós da Fundação Demócrito Rocha, a importância dele era imensa: ele
é autor de vários títulos editados por nós e chegou a emprestar o nome para um
prêmio promovido pelas Edições Demócrito Rocha. Em vida, o professor Horácio
teve reconhecimento e, onde ele esteja, espero que receba a luz de gratidão das
pessoas que aqui ficaram", afirma Raymundo.
Depois de aposentado, Horácio continuou ativo na arte da escrita. "Escrever nunca foi
difícil para mim. As ideias vão aparecendo e eu vou transformando em uma poesia
que fica guardada até o momento em que eu vejo que ela está pronta para ir para
um livro", afirmou ao O POVO (Vida & Arte, em 23/3/2015).
Além da produção em ficção e poesia, foi autor de publicações no campo do
ensaio. Lançou o 40º livro da carreira, A Estrela Azul da Fé e da Poesia, aos
80 anos de idade. Em agosto último, foi homenageado com a publicação Horácio
Dídimo em Estudo, organizada pelos professores Fernanda Diniz, Cintya Oliveira
e Wellington Rodrigues, que reúne artigos sobre a obra do cearense.
A professora Maria Elias Soares, do Departamento de Letras Vernáculas do
curso de Letras da UFC, lembra como principal memória relacionada ao escritor o
projeto Biblioteca da Vida Rural Brasileira. "O objetivo era
produzir livros infantis para serem distribuídos na zona rural. Ele escreveu
textos ilustrados pelo professor Geraldo Jesuíno da Costa e eram eles os que
mais faziam sucesso, mais chegavam perto das crianças dessas zonas", conta. Ela
aponta ainda que a doçura da personalidade se fazia presente na atuação acadêmica
que ele teve, inclusive como chefe de departamento. "Ele sempre foi de
uma delicadeza imensa. Quando entrei na Universidade, ele já era professor e
durante um período foi chefe de departamento, sendo sempre muito atencioso e
cuidadoso com colegas e alunos", relembra.
Amiga próxima de Horácio, a escritora e professora Angela Gutiérrez, do
Departamento de Literatura do curso de Letras da UFC e membro da Academia
Cearense de Letras (ACL), ressalta que a disciplina de Literatura Infantil na
grade curricular do curso de Letras foi criada pelo escritor. "Ninguém melhor do
que ele para falar do assunto, uma vez que ele era o maior autor de literatura
infantil do Ceará, um dos maiores do Brasil", afirma. No campo da amizade,
Angela destaca o comportamento amável do escritor. "Durante a vida
inteira de convivência, na UFC, na ACL, ele só falava de bondade, paz. Era
alguém extremamente bom, generoso. Além de ser esse homem extraordinário, era
um grande poeta, cuja poesia tinha uma aparente simplicidade, mas era muito
profunda", afirma a professora. "Dizíamos que ele era nosso anjo. Eu
acho que ele foi direto pro céu, porque o Horácio já era um anjo aqui na Terra.
E a obra fica, admirada, do primeiro livro até agora", ressalta
Angela.
Fonte: O Povo, de
4/09/18. Caderno Vida & Arte, p.3.
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