Por Marcelo Alcântara
Holanda (*)
Oswaldo
Cruz, gigante da Medicina na primeira metade do século XX, aliou a ciência à
saúde pública. Conduziu as primeiras campanhas de vacinação em massa salvando
milhares de vidas de brasileiros. Enfrentou enorme resistência que atingiu um
ápice com a Revolta da Vacina (1904). Época com analfabetismo elevado, sem
televisão, muito menos redes sociais. Fake
news de então, nas fofocas e em mídia impressa, espalhavam o medo que a
vacina anti-varíola, que usava o vírus causador da doença em vacas,
desfigurasse o rosto de quem a recebesse, assemelhando-o a um bezerro.
Insurgentes pegaram em armas no Rio de Janeiro, acusando o "despotismo
sanitário" de Cruz. A história mostrou quem tinha razão. A varíola foi
erradicada, o Brasil cresceu, o SUS nasceu, e temos hoje o maior programa de
vacinações gratuitas do mundo.
A
história se repete. Paradoxalmente, a internet que deveria disseminar as
melhores práticas de saúde, tem sido infectada de mentiras. Blogs e sites bizarros divulgam que as vacinas podem causar autismo,
retardo mental, alergias e não sei mais quantas bobagens sem fundamento. Santa
ignorância. O SUS disponibiliza 16 tipos de vacinas para diferentes faixas
etárias e outras para situações ou populações específicas, como para os irmãos
indígenas.
Não
prescrever as vacinas recomendadas expõe crianças ao risco de morte e a
sociedade à disseminação de doenças quase extintas, como ocorre com o sarampo.
Se chegamos à vida adulta sem as sequelas da poliomielite, a infertilidade da
caxumba ou as cicatrizes da varíola, devemos às gerações que nos antecederam e
foram responsáveis em nos vacinar.
O
programa nacional de imunizações é de 1973, um adulto, mas não é imune à
ignorância e aos maus políticos. Precisa de apoio. A melhor maneira de fazê-lo
é simples: vacine-se. Uma vez bem informado, vá a uma unidade básica de saúde,
de preferência com um parente, uma amiga ou um amigo, e, depois, se possível,
mostre com orgulho, em casa, escola ou trabalho, o pequeno band-aid no local da vacina. Acredite, isso é contagiante e nos faz
melhores como indivíduo e sociedade.
(*)
Professor de Medicina da Universidade Federal do
Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/07/2018. Opinião.
p.21.
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