O vaca sem coisa
do Caubizinho
Deu-se em próspera cidade do Centro-Sul do
estado, e muita gente boa prova. O caso da vaca que o amigo Caubizinho vendeu
ao novo rico da hora, João Neném... Pra ser preciso, uma novilha de vaca
nascida sem abertura externa do reto, por onde se expelem as fezes. No popular,
vaca falta de carretel. Ah, trabalheira medonha teve Caubizinho com o infeliz
animal, e com o infeliz comprador, diga-se.
Tudo começou quando o homem do animal sem ânus, também
sem tostão no bolso, precisou apurar algum e pagar dívidas. Criava gadinho num
sítio e tinha barzinho, de lá tirando o sustento. Soube que João Neném ganhara
herança e buscava opções de investimento. Matreiro, Caubizinho apressa-se em
conversar com o barão e oferecer-lhe gado vacum como a melhor aplicação.
- Nada de ações na bolsa, imóveis, ouro... Comprar gado é
o que tá pegando!
- As posses são
poucas! E depois, não tenho adonde criar!
- Se comprar a mim, deixe no sítio que tenho pasto.
De tanto insistir, João compra uma vaca de Caubizinho,
justamente a que veio ao mundo sem lorto – fazia cocô pelo mesmo buraco do
xixi.
A descoberta
Decorridos dias, o vaqueiro do comerciante vem à cidade,
se mela e numa dessas dá de cara com João Neném, que pergunta pelo animal, que
julga gordo, cevado.
- Tá morre num morre, sua vaca.
- Foi mordida
por cobra? Tá impanizanada? Botaram caé nela?
- Sem ter por onde arrear o barro, como é que véve?
- Cê quer dizer
que eu comprei uma vaca sem fiofó!?!
Começam as querelas
João ouve o que ouve de um vaqueiro embriagado e não dá
lá esse crédito todo. Quer ver in loco.
Vai ao encontro de Caubizinho e o convida a uma visita ao sítio.
- Estou ocupado agora. Sua vaca tá muito bem.
- Quero ver
ela. Paguei!
- Minha palavra não vale?
- Posso ser
franco?
- Bora lá...
A magra e caída era a vaca comprada por João. Pergunta
ele por que o bicho mofino está deitado. Vendedor diz que é a sesta dela.
- Pois levante
a bichinha e mostre o fundo!
Caubizinho faz barreira para o comprador não descobrir o
ato falho da natureza. Enfim, a confirmação – carretel que era bom, nada. Dali
direito pra delegacia. Feito o BO, delegado pede a presença da vaca.
Que chega na carroceria de um caminhão. Era verdade: João
Neném fora enganado. Caubizinho contrata advogado, que pede tragam um
veterinário. A saída: cirurgia reparadora no animal.
- Precisamos carrear pro lugar
certo o canal defecativo.
O médico de bichos já fizera de tudo nesse mundo em
matéria de operação, mas isso... Chutado de cana, não topou a parada. Daí
sugere levem a vaca sem cagador pra Universidade, é caso raro na Ciência
Veterinária. Ocorre que o transporte era cinco vezes o preço do animal. E finda
a vaca morrendo.
Resultado: João Neném perdeu os três mil reais na compra
do animal, Caubizinho gastou o dinheiro com burundanga e o tal advogado, que
não recebeu os honorários em morda, todo dia vai ao bar do Caubizinho, enche o
bucho de cerveja e, ao final da parada, rasga a conta apresentada e fala:
- Bota na conta da vaca sem cu!
Fonte: O POVO, de 16/12/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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