Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Por que as pessoas sofrem tanto com a
ansiedade, nos dias de hoje? Por que a ansiedade é um tema tão recorrente na
Mídia e tão discutido em nossa vida cotidiana?
Ansiedade, ânsia ou nervosismo é uma
característica biológica do ser humano e de animais, que antecede momentos de
perigo real ou imaginário, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais
como uma sensação de vazio no estômago, coração batendo rápido, medo intenso,
aperto no tórax, transpiração, e outras alterações associadas à disfunção do
sistema nervoso autônomo.
É normal as pessoas terem medo. O medo é
inerente à nossa espécie. O que deve ser analisado é a intensidade do medo. Sei
que ter medo todo mundo tem. O grave é que, embora isso pareça banal, está se
tornando num dos maiores problemas de Saúde Pública ao lado da depressão e do
esgotamento nervoso (estresse).
Depressão e ansiedade (transtornos de
internalização) são os maiores contribuintes para o elevado número de suicídios
entre os jovens. Nos adultos ainda mais, por consequência.
Acreditamos que a simples participação do
indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, condição
suficiente para o surgimento da ansiedade. A agitada dinâmica existencial da
modernidade, sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado, e
assim por diante, são as causas.
Sabemos também que a nossa saúde depende das
nossas condições, não só financeiras, mas também do nosso modo de viver, de
como lidamos com nossos problemas e de como encaramos nossa vida individual e
coletiva. O desgaste a que as pessoas são submetidas durante todo o processo de
vida, ou seja, as cobranças e as regras da sociedade, é um dos fatores que
influenciam no desenvolvimento de quadros de ansiedade.
Daí que o medo existencial leva ao medo não
nomeado e generalizado. O medo é focal, tornou-se abrangente, anônimo,
espalhado, difuso e a resposta das pessoas é— ansiedade. Bem diverso dos nossos
ancestrais em que o tigre de dente de sabre era a causa.
O medo difuso, líquido, tornou-se agora
gasoso. Das reações humanas à adversidade e por mais ínfimo que seja, o medo é
a mais maldita. Imaginem o que nós brasileiros estamos passando diante dos
recentes acontecimentos. O que assistimos ao vivo não passa da realidade dos
nossos pesadelos. O mau sonho, apesar de vir do mundo virtual, torna real
aquilo que nós sabíamos, mas não tínhamos provas. Agora é real.
Será que as nossas Instituições estarão
preparadas para nos tirar desta ansiedade vital? Como será o nosso futuro como
Nação?
Basta lembrar que a crise nacional dura há
mais de dois anos, oficialmente. Juízes, delações, desemprego, não saber
como ganhar o pão de cada dia. Violência por todos os lados, da ansiedade
simples passando para o que denomino de ansiedade vital. Lembro que a
ansiedade, quando aparece, fica presente o tempo todo e acaba nos controlando
através da raiva e da revolta. É um desorganizador da VIDA.
Quem trabalha com saúde mental sabe que nos
tempos de crise, não adianta dizer que crise é sinal de mudanças. O que sei é
que a insegurança gera o medo e a ansiedade é como o organismo reage ao perigo.
Costumo dizer que conheço apenas duas maneiras de encarar o medo, uma é de ele
fugir e a outra é enfrentá-lo. A minha pergunta é quando isto tudo vai
terminar. A duração breve das nossas vidas proíbe-nos de alimentar uma
esperança a muito longo prazo.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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