Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Antes que os movimentos feministas começassem
a se preocupar com a manutenção/separação de um casamento, os conservadores de
todas as classes pressionavam-se para que fosse mantida a união. A orientação
era a de manter o casamento, mesmo que não tivesse dado certo, de qualquer
maneira. A maioria das pessoas defendia então que o matrimônio heteronormativo
seria o melhor que poderia existir para a adaptação ao lugar, ao ambiente
natural, propicio para a criação dos filhos.
Essa atitude/regra ainda leva muitos casais a
manterem casamentos que não deram certo e com isso transformam a união
matrimonial em um ambiente destruidor.
Presencio, na minha prática clínica, vários
casais que vivem juntos em nome do bem-estar dos filhos e depois que os filhos
saem de casa (alguns até antes, muito antes disso) deparam-se com o vazio
existencial que sempre existiu.
Esquecemos que o cérebro é o gerador das mais
diversas criações e o fato é que, em havendo um útero, ele, por mais que seja
controlado pelo mais brilhante dos cérebros, somente é capaz de, quando
funciona, gerar filhos. Será que ainda vamos continuar pensado que o enigma
feminino pode ser resolvido apenas pela gestação ou submissão?
Afirmava Shakespeare na peça a Megera Domada
(Original de Lançamento - 1593): ‘Ou vivermos ainda no
preceito que prende o servo ao soberano, e prende a mulher ao seu marido?’
Acredito que, em pleno século XXI, cada pessoa
deva ter o seu próprio modo de pensar e mais oportunidades de abrolhar no
contemporâneo ocidental, sobretudo na classe média urbana brasileira.
As razões são individuais. A fé na razão
apenas conduz ao que a razão faz às pessoas: converte-se no sentimento que a
conduz.
As receitas para a realização subjetiva tanto
nas pessoas que são estigmatizadas porque não querem adotá-las ou as que assim
o fazem para cumprir uma regra, podem ser felizes ou infelizes, independente de
seguir ou não seguir regras ultrapassadas pelo avanço da cultura e da ciência
contemporâneas.
Desconheço quem seja dono dos próprios
sentimentos. Depois de presenciar muitas separações, posso dizer que não poucas
vezes uma separação é a melhor solução para todos e evita que se suporte a
vivência ou a manutenção de uma união que não deu certo.
Não faço terapia de casais, pois acredito que
ninguém deixa ninguém. Essa história que quem me deixou foi ele ou ela não
existe. Casais se separam. Para a separação é necessário que haja duas pessoas.
E só.
Quanto aos filhos, as mulheres – antes do
empoderamento feminino – discutiam como evitar filhos, agora a conversa é como
engravidar pois, na maioria das vezes, a figura do pai provedor é ultrapassada
e elas se mantém sozinhas.
Para concluir, tenho visto a alegria do
divórcio e das inúmeras modalidades de casamentos, desde um genitor só e um
filho só até incontáveis configurações de múltiplos lares e famílias ampliadas
que tiveram uma melhor qualidade de vida do que as que ficaram presas a um
casamento fracassado, incluindo genitores e filhos daquele sistema afetivo
desgovernado.
Quanto às uniões homoafetivas, separações e
adoções ainda são muito cedo para falar. Esperemos até que casais homoafetivos
desejem se separar. Fatos sociais novos devem ser analisados evitando-se as
observações casuísticas. Que se aguarde as observações científicas.
Neste século XXI não existem profetas, quando
muito, meros especuladores. Não há como fazer comparações e muito menos
passados para serem analisados. Há muitas perguntas na vida que devemos
aguardar para fazer. Nem toda a pergunta precisa de uma reposta imediata.
Devemos esperar por novos acontecimentos.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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