Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
John Locke (1632-1704) foi
um filósofo inglês, graduado em Oxford, onde lecionou Grego e Retórica. Fora
igualmente rábula em Medicina, pois a praticava sem diploma. Qual advogado sem
licença. Entre seus livros avulta "Of The Abuse of Words", "Do
Abuso das Palavras".
Em Inglês
"abuse" significa "abuso", maltrato, além de "uso
impróprio" ("misuse")."The Random House Dictionary of the
English Language", New York, 1987, 2ª edição registra inclusive como
"linguagem insultuosa"!
Locke afirmou:
"teríamos muito menos disputas no mundo se as palavras fossem tomadas pelo
que são, apenas sinais das nossas ideias, e não pelas coisas nomeadas".
Sendo tal assertiva (afirmativa) um pasto próprio dos filósofos, e cuidadores
das palavras (semânticos), voltemos à planície do raciocínio civil (popular,
modesto).
Há muito vimos focalizando
aqui este tema: "Vox barbara" (14/10/2009), e em três outros artigos
de 2012: 28/03, 25/04 e 20/06. Sobejam (abundam; existem em demasia), em
português, exemplos de seu mal uso ou emprego incorreto. Vulgarmente
perfilhados no Brasil, seu trânsito inadvertido conta mesmo com a sanção de uma
suposta lexicógrafa (dicionarista) sulista (In revista "Isto É -
25/05/2011" e "O POVO - Para inglês ouvir, 20/05/2012").
Alguns vocábulos são
logicamente pares, embora no plural com sentido singular.
Senão vejamos:
"óculos" pois são suas lentes, para dois olhos!; "óculo" é
apenas uma luneta. Portanto, nunca "o óculos" ou "meu
óculos", "hemorróidas" (não existem isoladamente),
"suspensórios", "calças"(pois são duas pernas; no singular
se fosse para o Saci Pererê!), "algemas"(para ambos os pulsos). Assim
também "cãs"(cabelos brancos), "bigodes", "núpcias",
"parabéns", "pêsames", "férias" (folga, mas no
singular indica pagamento diário), "picles"(legumes marinados,
conservados em salmoura ou vinagre).
Assim concluímos, com
aguçado apetite. Para um repasto mais substancial, recomendamos os livros de
Sacconi (Nova Editora, São Paulo, 1992), e dos cearenses irmãos Araújo, José
Olímpio e Manuel Murilo (Editora Premius, Fortaleza, 2018), um trio de truz.
Contudo consolem-se os
infratores do idioma, com nosso aplaudido bufão, Chacrinha: quem não se
comunica se trumbica!
(*) Professor Emérito da UFC. Titular
das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 10/01/2019.
Opinião, p.20.
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