domingo, 13 de abril de 2025

FORTALEZA, 299 ANOS: rica e desigual

Por Artur Bruno (*)

Na primeira metade do século XVII os holandeses ocuparam vastas áreas do que hoje é o nordeste brasileiro. O território que compõe o nosso estado não era interessante para os ocupantes, pois os nossos solos eram pobres e as secas frequentes. Havia uma expectativa de encontrar prata, mas se frustraram na busca de minérios valiosos. No entanto, era necessário garantir o espaço na disputa com os portugueses e fundaram um forte denominado Schoonenborch, em homenagem ao governador holandês das terras nordestinas. Em 1649, o forte foi construído nas margens do riacho Pajeú, em uma ondulação que os indígenas denominavam de Marajaitiba, local onde se instalou o quartel sede da décima região militar.

O forte foi abandonado quando os holandeses foram expulsos do Brasil e, em seguida, ocupado pelos portugueses, que o denominaram Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. A partir daí, surge um vilarejo que daria origem à nossa cidade. Em 13 de abril de 1726, a monarquia portuguesa oficializou a vila, daí o aniversário da nossa urbe ser comemorada nesta data.

O imperador D. Pedro I, em 1823, promove a vila ao status de cidade e a escolhe como capital da província do Ceará. Era um ato de ousadia, pois as vilas de Aracati, Icó, Sobral, dentre outras, eram mais relevantes naquele período onde a economia local dependia do boi e do algodão. Fortaleza, através da política, conseguiu desbancar Aracati, que, através do charque e de mais proximidade com as províncias mais ricas de Pernambuco e Bahia, apresentava melhores condições de se tornar a capital. As lideranças da nossa cidade conseguiram convencer o império de fechar a alfândega de Aracati, em 1851, e fortaleceram Fortaleza para exportar e importar produtos. Com a estrada de ferro Fortaleza-Baturité, em 1870, ocorre a consolidação dessa liderança. Era a Fortaleza da Belle Époque.

No início do século XX a cidade era inexpressiva no Brasil, pois tínhamos em torno de 50 mil habitantes. A urbanização vai se agigantar com a crise agrícola, a industrialização e, sobretudo, com as grandes secas que expulsaram contingentes expressivos para a capital.

Com 299 anos, a loura desposada do sol, segundo o poeta Paula Ney, enriqueceu, tornando-se a capital de maior PIB do Nordeste e a oitava do país. Não obstante, é a terceira em mais quantidade de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, a oitava de pior renda per capita e a quinta de maior concentração de renda. O nosso desafio, portanto, é de tornar a cidade menos desigual e com mais oportunidade para os que mais precisam.

(*) Historiador e professor. Sócio do Instituto do Ceará. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/04/25. Opinião. p.17.


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