segunda-feira, 15 de agosto de 2022

ANIMAIS OU PETS?

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Há anos passei a contribuir mais diretamente para a manutenção de alguns gatos, no caso os que "moram" no Parque Adahil Barreto, por incentivo de pessoas ligadas à proteção de felinos em situação de abandono. E os temos tantos espalhados por toda a cidade.

Em visita ao Parque Adahil, vi que o número de gatos continua grande, tanto no equipamento como em suas cercanias. Soube que as doações de ração se reduziram significativamente a partir do início da pandemia, gerando inquietação para os cuidadores e sofrimento para os animais.

Também em outros espaços, como na Uece, há uma tendência de pessoas abandonarem seus animais, mais das vezes os envelhecidos, com doenças ou filhotes "não planejados", por não se sentirem em condições de os manter ou por arrependimento da adoção ou compra.

Já em um shopping center parei em uma loja de produtos veterinários, por curiosidade do meu neto, para ver alguns cachorros e gatos. Todos bem cuidados, brincantes ou dormindo. Percebi, então, que não são gatos ou cachorros, mas pets.

Aqueles ali expostos o estão não para serem cuidados por aquela casa comercial, mas para a venda. E quantas crianças e adultos naquele momento brincavam com esses pets pelos vidros que os separavam, sendo acolhidos em inocente alegria.

Não há interesse em julgar essas pessoas ou lojas, pois sei que há toda uma cultura ainda vigente de que os animais servem aos propósitos dos homens, nem sempre com contrapartida adequada, exceções de praxe, e que também são "produto" vendável, pois há oferta e procura.

O que me leva a essas reflexões é pensar que nós que raciocinamos e temos o livre arbítrio, mesmo que nem sempre pareça livre, deixamos passar oportunidades de olhar com mais zelo e ternura, não apenas para os pets, mas para os animais dos quais cuidamos ou aqueles carentes desses cuidados.

E o poder público tem obrigação de zelar por esses seres com real atenção, não apenas com programas ou ações isoladas, mas concretizando projetos de proteção permanente aos animais em situação de abandono, com alimentação condigna, atenção de saúde e ambientes seguros e confortáveis.

(*) Professor da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/07/22. Opinião, p.18.

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