quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

DECISÕES DE INVESTIMENTO EM UM NOVO CENÁRIO

Por Lauro Chaves Neto (*)

O mercado financeiro brasileiro, durante décadas, propiciou uma assimetria que era uma verdadeira agressão ao princípio básico de finanças, aquele axioma em que o retorno esperado é proporcional ao risco assumido. Devido à prática de uma das mais elevadas taxas de juros do planeta, algumas das aplicações de renda fixa proporcionavam ganhos extraordinários com reduzidos níveis de riscos.

Foi a festa dos rentistas quando as aplicações especulativas eram, muitas vezes, mais atrativas que aquelas produtivas, bastava possuir o capital inicial para multiplicá-lo no mercado financeiro, o que era mais um fator para agravar a concentração de renda e aumentar a desigualdade extrema.

O novo cenário de juros reais mínimos, muitas vezes negativos, começa a refazer a racionalidade na tomada de decisões de investimentos, assim para se conseguir retornos acima da média, é necessário se correr riscos na mesma proporção. A taxa livre de risco não deve construir riqueza e, sim, apenas recompor o poder de compra do capital, mantendo o seu valor ao longo do tempo. O Brasil está diante da oportunidade de estabelecer um, quase inédito, ambiente favorável aos investimentos produtivos, em que os recursos devem trabalhar na economia real e assumir riscos para remunerarem os investidores e proporcionarem retorno para a sociedade.

O investidor, ao decidir por "tentar" multiplicar o seu capital, deverá assumir riscos em atividades produtivas como empresas tradicionais, startups, franquias, venture capital, entre outras. Essa nova realidade exigirá uma transformação cultural e o crescimento de oportunidades para o empreendedorismo.

O setor produtivo deve aproveitar essa nova realidade para ampliar as suas opções de financiamento, com a atração desses capitais antes aplicados no mercado financeiro, sendo necessário para isso iniciar um processo de melhoria da governança nas organizações.

A abertura de mercados, a melhoria no ambiente de negócios e o novo funding para as organizações tendem a fortalecer o tecido empresarial, incrementar a geração de riqueza e contribuir para a promoção do desenvolvimento. 

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 14/9/20. Opinião. p.18.

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