segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

PASSAPORTE PARA A VIDA

Por Keny Colares (*)

A pandemia da covid-19 representa a maior emergência sanitária global do último século, causando mais de 5 milhões de óbitos, sendo o Brasil o segundo país mais atingido. O enfrentamento inicial da pandemia se baseou em medidas comportamentais e rastreamento de casos e contatos, embora a incorporação de vacinas eficazes e seguras tenha sido o avanço mais significativo na proteção contra a infecção, transmissão, adoecimento, hospitalização e morte.

Apesar disso, ainda observamos novos surtos da doença em diversos países do hemisfério norte, mesmo com a maioria da população vacinada. O fenômeno parece relacionado à menor adesão às medidas comportamentais, circulação de variantes virais mais transmissíveis, declínio temporal da proteção imune pós-infecção ou vacina, além da hesitação vacinal de parcela da população. Isso nos causa grande preocupação ao nos aproximarmos do primeiro semestre do ano, quando costuma haver predomínio das viroses respiratórias no hemisfério sul.

A vida em sociedade marcou a evolução da humanidade por milênios. Nossos antepassados optaram pela colaboração em comunidades tribais, marcadas pela interdependência, como forma de sobreviver às ameaças de extinção. Hoje somos quase 8 bilhões de terráqueos cada vez mais aglomerados em grandes metrópoles, conectados e interdependentes. Por outro lado, a densidade demográfica, mobilidade humana e mudanças ambientais criaram situação vantajosa para a disseminação de inimigos microscópios antigos e novos, como o vírus da covid, tornando quase certo o enfrentamento de novas pandemias no futuro próximo.

Nossa adaptação a esta nova realidade será decisiva para o futuro da humanidade. Em uma sociedade complexa e interligada, as decisões individuais trazem impacto coletivo cada vez maior, contrapondo o direito individual da recusa à vacinação ao interesse coletivo de preservação da saúde pública. Neste contexto, a primazia do interesse coletivo e do direito à vida deve ser observada. O caminho do diálogo deve ser preferencial e a imposição física da vacinação é inaceitável. Contudo, a restrição da circulação dos indivíduos reticentes em ambientes coletivos está sendo implementada em todo o mundo e deverá em breve fazer parte da nossa vida, como o semáforo, a carteira de habilitação e os infalíveis impostos. 

(*) Médico infectologista e professor da Unifor.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/11/2021. Opinião. p.18.

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