Helio Begliomini (urologista,
membro da Sobrames/SP e do Instituto Histórico de SP)
Batizado como Leocir
Pessini, tornar-se-ia mais conhecido e afamado como padre Léo Pessini. Ele nasceu
na pequena cidade de Ibicaré, no oeste catarinense, aos 14 de maio de 1955, e
era aproximadamente dois meses mais jovem do que eu. Ainda na infância, seus pais mudaram-se para a cidade de Arroio
Trinta (SC) e depois para Iomerê (SC).
Contando com 21 anos
e desejoso de seguir sua vocação religiosa, ingressou no seminário São Camilo,
em Iomerê (SC), onde iniciou o noviciado em 25 de janeiro de 1974.
Na Ordem dos Clérigos
Regulares dos Ministros dos Enfermos ou simplesmente Ordem dos Ministros dos
Enfermos, também chamada e conhecida por Ordem Camiliana, fundada em 1590, pelo
italiano São Camilo de Lellis (1550-1614), fez sua primeira profissão religiosa
em 26 de janeiro de 1975.
No ano em que me
graduei em medicina, Leocir Pessini fez sua profissão perpétua, ocorrida em 25
de janeiro de 1978. Recebeu a ordenação diaconal em 21 de fevereiro de 1980 e,
a ordenação presbiteral, em 23 de outubro de 1980, por dom Paulo Evaristo Arns
(1921-2016).
Leocir Pessini
licenciou-se em filosofia na Escola Nossa Senhora da Assunção de São Paulo
(1975-1977) e, em teologia (1977-1980), na Universidade Pontifícia Salesiana,
em Roma. Posteriormente, fez pós-graduação em educação pastoral clínica e
bioética (1982-1983 e 1985-1986) no St. Lukes’s Medical Center, em
Milwaukee, em Wisconsin, nos Estados Unidos da América (EUA).
Além de sacerdote,
dedicou-se à vida universitária, obtendo seu mestrado (1990) e doutorado (2001)
em teologia moral e bioética na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção,
em São Paulo. Posteriormente, concluiu seu pós-doutorado na Edinboro
University, no Centro de Bioética, na Pensilvânia (EUA).
Conheci o padre Léo
Pessini na cidade de São Paulo, no início de minha carreira como médico. Era um
jovem sacerdote, capelão do Hospital das Clínicas, experiência que lhe
proporcionou assistir o presidente eleito do Brasil Tancredo de Almeida Neves
(1910-1985), em sua enfermidade, que o levaria ao óbito. Desse inesquecível
convívio escreveu o livro “Eu Vi Tancredo Morrer” (1985).
Alegre, dinâmico, muito
entusiasta e idealista, organizou diversos Congressos de Pastoral da Saúde e
Humanismo, no campus Ipiranga da Universidade São Camilo, onde eu
participei de vários.
Dentre os cargos que padre
Léo Pessini ocupou salientam-se: coordenador da Delegação de Pastoral da Saúde
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre 1994 e 1997, e
membro da equipe de apoio do Observatório Pastoral do Conselho Episcopal
Latino-Americano (Celam). Foi também moderador do Camillianum –
Instituto Internacional de Teologia Pastoral da Saúde, afiliado à Pontifícia
Universidade Lateranense de Roma, Itália.
Além disso, padre Léo
Pessini integrou a Câmara Técnica do Conselho Federal de Medicina e foi um dos
grandes colaboradores do Código de Ética Médica atualizado em 2009.
Leo Pessini tornou-se
uma das maiores autoridades no país, no campo da bioética! Foi editor de duas
revistas científicas, sendo uma delas “O Mundo da Saúde”, e membro da diretoria da Associação Internacional de Bioética. Conferencista,
ministrou muitos cursos no Brasil e no exterior. Escreveu inúmeros de artigos
e, dentre eles, desde 1989, textos para a revista “Mensageiro do Sagrado
Coração de Jesus”. Eu fui seu assíduo leitor na coluna de bioética, que durante
anos publicou mensalmente, na revista “Família Cristã” das Edições Paulinas. Era
especialista em abordar temas relacionados à vida e à morte e, dentre eles,
vale citar o título do artigo publicado pelo Conselho Regional de Medicina do
Paraná: “Dizer Adeus à Vida com Dignidade e Elegância”.
Ademais, publicou
mais de 20 livros sobre bioética, pastoral da saúde e humanização da saúde, e
ao menos um dele foi traduzido para o idioma croata. Dentre as obras de sua
lavra, diversas delas com várias edições, têm-se: “Ministério da Vida”,
“Problemas Atuais de Bioética” e a trilogia: “Distanásia: Até Quando
Investir Sem Agredir”, “Eutanásia: Por Que Abreviar a Vida?” e “Humanização
e Cuidados Paliativos”.
Padre Léo Pessini estimulou
as comunidades médica e religiosa a refletir sobre questões como terminalidade
da vida, obstinação terapêutica, cuidados paliativos e respeito à dignidade do
ser humano vulnerabilizado pela doença e pelo sofrimento, sendo defensor da
ética do cuidado e da proteção.
Destacou-se como sacerdote, professor universitário, pensador, conferencista,
escritor e grande intelectual, um dos nomes mais importantes e respeitados da
bioética do Brasil.
Na Congregação
Camiliana foi superintendente da União
Social Camiliana (desde 1995), superintendente do Círculo Social Camiliano
(desde 2000); professor no curso de mestrado em bioética do Centro
Universitário São Camilo, em São Paulo; vice-reitor do Centro Universitário São
Camilo, em São Paulo e em Cachoeiro do Itapemirim (ES); superior da Província
Brasileira dos Camilianos; e presidente das Organizações Camilianas no Brasil.
O Capítulo Geral
Extraordinário da Ordem dos Ministros dos Enfermos ocorrido em Ariccia (Roma),
elegeu padre Leonir Pessini seu 60o superior geral para o
período 2014-2020. Contudo, acometido por uma doença neoplásica fatal, não
chegou a terminar seu mandato, vindo a falecer em 24 de julho de 2019, aos 64 anos.
Passou seus últimos
dias internado no Hospital São Camilo da Granja Viana, em São Paulo, cercado do
afeto de seus irmãos de congregação e familiares.
Seu velório foi feito
na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, no bairro Pompeia (SP), e seu sepultamento
ocorreu no dia 26 de julho de 2019, após a Santa Missa Exequial presidida pelo
cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer.
Guardo grande
gratidão e recordação do padre Léo Pessini. Além dos ensinamentos auferidos
pelas reflexões de seus lúcidos artigos, tive a oportunidade de publicar há
alguns anos, o livro “Urologia, Vida e Ética” (2006), no qual tive a
honra de ter seis ilustríssimos e renomados prefaciadores – Dalton Luiz de
Paula Ramos, José Renato Nalini, Miguel Srougi, Nelson Rodrigues Netto Júnior,
Sami Arap, bem como o inesquecível padre Léo Pessini.
Seu nome é honrado e
perenizado post-mortem, no “Auditório Padre Léo Pessini”, no Centro
Universitário São Camilo, no campus Pompeia.
(*) Extraído do Blog sobramespaulista2018.blogspot.com; há uma versão curta em O Bandeirante Jan/23
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