segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Na Guerra Lula x Banco Central quem ganha e quem perde

Por Henrique Jorge Medeiros Marinho (*)

O recente ataque do Presidente Lula ao Banco Central, notadamente ao Comitê de Política Monetária (COPOM), que manteve a taxa Selic em 13,75%, considerando esse patamar uma "vergonha", gerou uma série de desconforto tanto para o Governo como para o Banco Central, no seu primeiro teste depois de ter adquirido sua independência em 2021, com o Presidente tendo mandato de 4 nos, intercalado com o do Presidente, ou seja o Lula não pode, de imediato, indicar ou demitir o Presidente do Banco Central.

Por um lado, o Presidente Lula tem razão em reclamar da taxa de juros elevadas (é uma das maiores do Mundo), mesmo com uma inflação em 5,79% ao ano em janeiro deste ano, abaixo da média mundial. Para o Presidente, juros muito altos prejudicam o crescimento da economia e não geram empregos, o que ele tem razão.

Por outro lado, o Banco Central também tem razão na manutenção da taxa Selic nesse patamar, considerando as incertezas quanto ao atingimento da Meta de Inflação de 3,25% em 2023 e 3,0% em 2024 e 2025, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para o COPOM, a atual política fiscal e incertezas quanto à economia mundial, tem gerado incertezas quanto à "ancoragem" da inflação para a Meta a ser seguida pela Autoridade Monetária.

Essa, na verdade é uma guerra política e não econômica, porque Lula está inclusive pressionando os empresários a protestarem a decisão do Copom que mantém em seu "modelo de expectativas" para a inflação a taxa Selic que é necessária para induzir o mercado a acreditar que a posição do Copom é racional. Conselheiro do Banco Central Europeu (BCE), Robert Hozmann, que também vem sofrendo pressão por ter elevado a taxa de juros, afirma que o banco central deve combater a inflação de forma ativa e diz "A política monetária deve continuar "mostrando seus dentes" até que vejamos uma convergência confiável para a nossa meta de inflação.

Aliás, os principais bancos centrais das economias desenvolvidas e em desenvolvimento tem praticado elevação de juros para enfrentar a recente elevação da inflação. Qual o final desse embate? No momento, a manifestação do Presidente Lula de tentar "desqualificar" o Banco Central, que tem como Missão Constitucional Garantir "a estabilidade do poder de compra da moeda", é prejudicial para o Brasil.

O Presidente Lula está deixando o Banco Central numa armadilha, porque se reduzir os juros na próxima reunião do Copom, estará cedendo e deixando o nível confiança do sistema de metas para Inflação sob suspeita e se mantiver ou elevar estará criando um conflito de governança do Governo. Vamos ver no que dá, mas torcendo para que a razão predomine.

(*) Economista. Membro da Academia Cearense de Economia.

Fonte: O Povo, de 11/2/23. Opinião. p.19.

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