quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

NA VÉSPERA DO AMANHÃ

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Cederam-me a oportunidade de escrever. Mesmo não sendo afeito às exposições, exceto quando me oportuno em questões cruciais. E por isso, hesitei muito. No entanto, há alguns anos, preocupo-me com a apatia das ideias e com a abstenção em que vivemos.

Assim como todos vocês, sinto-me obrigado a acreditar em algo diferente, pois o substrato dessa crença que por ora está presente é o medo e o descontentamento. E, talvez, isso explique, ao menos em parte, os excessos mundanos, quando nos confortam transitoriamente.

A percepção de toda tragédia dos últimos anos, das notícias negativas que logo se vão ao esquecimento, como uma negação necessária à dureza dos fatos. O achar que "vai dar certo" foi sob uma ótica uma atitude otimista diante de intransponíveis perdas, embora infantil. Mas, fazia alusão que rapidamente tudo passaria e voltaria ao "normal".

Há pouco tempo falávamos desse novo normal, de uma mudança objetiva na competência da gestão pública, e que, enfim, aceitaríamos cortar na própria carne para desfazermos o palco de absurdos.

Porém, de forma inversa, saímos ainda mais frenéticos, e escondemos, sim, os mortos e nos determinamos a buscar os culpados.

Nesse espaço, que me foi concedido, por mérito da comunicação e sua intensa capacidade de dar crédito às idéias livres e dispostas ao exercício da criatividade , e quiçá, em alguns instantes, do contraditório. Gozam, por si, dos princípios da boa fé. Espero fazê-lo como na minha vida médica, com entusiasmo, desejo e crença no futuro. Pois, não fosse essa abstração, improvável seria carrear esse sentimento a quem nos lê, e seríamos menores, e somente pedaços numa vivência desnorteada.

Escrever é lidar com o improvável e com as diversas sensações expostas; não deixa de ser um ato de diversidade, de humildade e solidariedade.

Pois, a diversidade garante uma linguagem eclética, a humildade nos faz a aproximação, entre nós e com outrem, e comparecer com o exercício de reduzir as injustiças. São, portanto, as escritas da doação e da compreensão.

Esse texto é somente o início de uma jornada de reflexões sobre o cotidiano, sempre mesclando o que você sente, ou mesmo pensa em voz alta, em negrito ou discretamente, da desapercebida imagem. Vamos, espero eu, mas principalmente vocês trazer para agora um momento incomum, sem retoques...

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/01/2023. Opinião. p.19.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog