Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Quando um
dos jovens faltava à "pelada", Roberto Pessoa, já líder
carismático, dizia "bota o Pelezinho", aquele garoto que nada parecia
fisicamente com Pelé, mas jogava muito bem e por isso recebeu o apelido dado
pelo hoje destacado político. Também apareceram o "Pelé" das artes, o
da economia, o das vendas. Em cada atividade, "Pelé" tornou-se
sinônimo de primeiro.
Apesar de
ser o melhor de todos, o rei nunca pôs corte ou pintura de cabelo à frente da
bola. Por não considerar o seu corpo um instrumento de beleza, este não era
tatuado, e sim burilado para o trabalho. Ao ver o pai chorar logo após o Brasil
perder a Copa de 1950, disse: "Chora não, pai; vou ganhar uma Copa
para o senhor."
Nelson
Rodrigues profetizou, 8 anos depois, ao escrever em sua crônica: "Com
Pelé no time, e outros como ele, ninguém irá para a Suécia com a alma dos
vira-latas. Os outros é que tremerão diante de nós." Não deu outra. Surgia
a expressão "complexo de vira-lata" como cousa nossa.
Em fato
inédito, tornou-se campeão do planeta aos 17 anos. Em
1961, Pelé driblou quase todo o time do Fluminense e cometeu um
golaço no Maracanã. O grande feito originou placa no estádio, criada pelo
jornalista Joelmir Beting. Belo tento passou a ser "gol de placa".
No ano de
1968, em jogo do Santos na Colômbia, o juiz expulsou Pelé, e 50 mil
colombianos, aos gritos, pediram a volta do craque. Expulsaram o árbitro, e o
rei voltou a jogar.
Foi eleito
o Atleta do Século em 1980 e recebeu da Rainha Elizabeth II o título
de "Sir" em 1997.
Para Tostão,
com ele consagrado em 1970, "Pelé foi o melhor de todos os tempos porque
tinha (…) todas as qualidades de um supercraque. (…) procurei (…) alguma
deficiência de Pelé e não encontrei. O que mais eu estranhava é que Pelé tinha
uma condição física magistral, uma velocidade e uma impulsão maior que todos os
outros (…) Os reis também morrem. É a finitude da vida, a única certeza
absoluta."
E assim
finalizou Tostão, ao particularizar trecho de um imortal em seu discurso de
posse na Academia Brasileira de Letras: "Parafraseando João Guimarães
Rosa, Pelé não morreu, ficou encantado."
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias
Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/1/23. Opinião, p.20.
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