Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
A oração é um processo comunicacional, íntimo, entre você e
Deus, descrito cabalmente por Davi: "De manhã, Senhor, ouves a minha voz;
de manhã te apresento a minha oração e fico esperando" (Salmo 5:3).
Dois aspectos podem ser destacados da expressão davídica a
respeito da oração: falamos a Deus e Ele nos fala. Essa verdade foi também
realçada pelo profeta Jeremias: "Invoca-me, e te
responderei" (33:3). Portanto, a oração é uma conversa com Deus, que
requer tempo e disposição.
O homem pós-moderno desaprendeu a orar. "É oco", pobre
de interioridade, vive "de fora para dentro", na superficialidade.
Já chegou à lua mais não sabe entrar no próprio coração para escutar
a si e a Deus.
O ativismo da vida moderna o deixa fora do eixo e
disperso. Agitado, vive voltado para fora. Conectado às telas, mas em busca da
identidade, não sabe quem é e para onde vai.
Torna-se vazio, com subjetividades desintegradas. Daí a falta de
paz interior, a angústia, o desânimo, a depressão e aos poucos perde o gosto de
viver e de crescer. Tudo embalado pelo tédio e o vazio existencial.
Jesus Cristo já nos adverte que sem Ele não chegamos a
lugar nenhum. Quem reza adquire uma identidade mais sólida. Ganha em autoestima
porque se vê como Deus o vê.
Assim, encontra sentido nas coisas, percebe mais encantos no
mundo, sente-se mais sereno, equilibrado e mais feliz, crescendo a
sensibilidade e o compromisso com os valores importantes da vida.
A oração tem valor terapêutico. Faz bem à alma, ao corpo e
à psique. Ela serve para prevenir doenças de fundo emocional. Justamente
por esses benefícios a meditação consta na agenda das políticas públicas de
saúde.
Se quisermos ter saúde física, psíquica
e espiritual precisamos priorizar um tempo para a oração diária na
nossa vida agitada. Não importa a quantidade do tempo, mas a qualidade que
dispomos para um encontro pessoal conosco e com Ele, no silencio e em paz.
Quem não tem tempo para se escutar jamais escutará
"Deus em si". Quanto mais interioridade mais profundidade, quanto
mais exterioridade mais superficialidade. Corremos o risco de viver uma vida
superficial, sem profundidade, fútil.
O nosso equilíbrio e o equilíbrio dos
nossos relacionamentos passam pela oração, que é encontro com Aquele
que nos ama e nos fortalece e que habita no mais íntimo do nosso ser.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do
Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 15/01/2023. Opinião. p.14.
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