Por Gisele Correa
Barata,
jornalista de O Povo
Engenheiro
civil e empresário do ramo educacional, Tales de Sá Cavalcante enveredou pelas
Letras e assumiu, em 2023, a presidência da Academia Cearense de Letras
O incentivo dos pais, a carreira na gestão educacional e um elogio
de um padre são fatos que compõem a história de Tales de Sá com a literatura. O
educador-empresário, como gosta de se definir, assumiu no último 24 de janeiro
a presidência da Academia Cearense de Letras (ACL) e conversou com O POVO sobre
a trajetória que o levou até o papel de destaque.
Um dos primeiros fatos curiosos da trajetória de Tales é a
formação. Hoje articulista do O POVO, trilhou caminhos na gestão educacional,
mas é engenheiro civil de formação. Fato que o fez, por um tempo, desviar de
convites para a ACL por se tratar de um ambiente majoritariamente composto por
pessoas das áreas de humanas e linguagens.
“Eu participava de outras
academias também (como a de matemática e Retórica) e as pessoas achavam que eu
deveria entrar lá também. Mas tinha um certo receio (de entrar na Academia de
Letras) porque achava que as pessoas que lá estavam eram mas das áreas de
Humanas e eu me graduei em Ciências Exatas”, revela Tales.
Mas o engenheiro cedeu aos convites dos colegas da ACL e assumiu,
em 2019, a cadeira de número nove, substituindo o advogado, professor e
escritor Genuíno Sales, falecido em 2018. "Minha
mãe dizia que eu era Engenheiro Civil só de escola, porque só entrava em obra
quando tinha na escola - e isso era verdade. Trabalhei minha vida toda num só
lugar, o Farias Brito. Aí da mesma forma da Academia de Retórica, o pessoal
começou a ouvir meus discursos e achar que eu deveria entrar na academia (de
Letras)", relata.
Uma das memórias de infância mais marcantes é justamente em uma
livraria, aos sábados, nos arredores da Praça do Ferreira. “Quando era criança,
meu pai e minha mãe tinham uma educação muito boa e ao mesmo tempo muito
rígida, inclusive na área financeira. Queria que a gente se formasse e ficasse
um adulto equilibrado, não ficasse como algumas pessoas que gastam mais do que
ganham. Mas tinha uma coisa que eles não mediam: era quando a gente queria um
livro”, relembra ele, com carinho. Mais tarde, o garoto apaixonado por livros
tomaria frente dos negócios da família, sem deixar de lado a paixão pelas
letras.
“Eu sou bibliófilo, eu tenho
uma biblioteca que considero relativamente boa, com 7.000 volumes. O Zé Augusto
Bezerra, que é meu colega e da Academia Cearense de Letras é a pessoa física
com a maior biblioteca do Brasil. Segundo ele, quem tem mais livros de Napoleão
Bonaparte no Ceará sou eu”, orgulha-se. Apesar de ter
ciência das críticas que permeiam a figura de Bonaparte, o defende como “um
grande gestor e muito estudioso”.
Cronista nato, tem vivo na memória histórias do interior e da
Capital. Além da Praça do Ferreira, lembra de Sobral, em especial do
tradicional Colégio Sobralense, hoje parte da rede de escolas do Farias Brito.
“O diretor da nossa Escola em
Sobral, que é onde funcionou o Colégio Sobralense, onde estudou Ciro e Cid
Gomes, resolveu lançar um livro. Chamou três pessoas: uma pra fazer a orelha do
livro, outro a introdução e o prefácio. As outras duas pessoas eram padres. E o
autor do livro falou para o padre Osvaldo e não disse de quem era cada texto -
e o terceiro texto era meu. Ele entregou primeiro os dois textos ao Padre
Osvaldo, que era sumidade tanto no aspecto da língua portuguesa quanto da
religião (...) pois bem, quando o diretor entregou o terceiro ele disse: ‘olha,
esse aqui é bom’. E quando perguntou quem havia escrito, o diretor disse: ‘quem
escreveu foi o meu patrão (Tales de Sá), o dono do Farias Brito’ e o padre
respondeu ‘que pena que ele tá perdendo tempo com essas coisas empresariais’”, conta, no combo de bom humor e orgulho.
Defensor da máxima de "para escrever bem é preciso
ler bastante", Tales aproveita os momentos do cotidiano para
escrever mesmo na rotina corrida da vida empresarial.
"Então a saída foi a crônica e
pequenos textos que a academia me encarrega de elaborar. A crônica eu me dei
muito bem com ela porque eu gosto muito de observar as coisas da vida e acho
que a crônica é um relato livre, um relato sobre fatos que mostram como o ser
humano pode reagir a determinadas coisas. Se você pegar as 24 horas do dia, o
mundo sempre tem coisas interessantes e publicáveis, bastando você ajeitar um
pouco, que elas ficam publicáveis”, defende o cronista.
Uma Academia "de portas abertas"
Promover a literatura e ir além de uma Academia voltada para si
está entre os objetivos de Tales de Sá à frente da Academia Cearense de Letras.
Como inspiração, os próprios exemplos pessoais, do incentivo a leitura, mas
também da gestão e expansão de projetos.
“No Farias Brito, quando
comecei a trabalha lá, era um colégio pequeno. Mas a gente começou a criar
várias coisas e elas foram tendo repercussão, foram entrando mais alunos, mais
dinheiro e foi gerando mais coisas", conta Tales, que atribui à falta de
recursos um dos desafios a serem enfrentados. “Tem muitos projetos
interessantes principalmente para que tenhamos no futuro alunos que leiam mais
e se intelectualizem mais. Mas falta verba para isso”, destaca.
"Eu acho que nosso País deveria
estimular mais a cultura, mas nós vivemos em um País que não tinha nem um
Ministério da Cultura até pouco tempo, que o último governo decidiu extinguir", aponta Tales de Sá.
Entre os muitos projetos em mente está o de expandir
as visitas guiadas para escolas públicas e privadas no prédio da ACL. Ao
fim de dois anos, o novo presidente quer olhar para trás e ver que contribuiu
para as letras, cultura e educação no Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/02/23. Vida & Arte, p.3.
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