sexta-feira, 24 de junho de 2022

Crônica: “40 graus de febre... à sombra!” ... e outro causo

“40 graus de febre... à sombra!”

Abrimos espaço para analisar o que seja uma "murrinha" na cabeça (sofrimento psíquico) do cristão nos dias atuais, mais particularmente sobre como lidar com os desafios da "inguirizia" dispneica e da gastura mental. A lição vem pela categoria do preclaro Jair Moraes: "Cuidado com o caba metido a mudo! Quando vires um 'mudelim' desses, mais calado que pedaço de toicim em saco de farinha, todo coidado ainda é bem poquim!"

Poeta Jair dos Cachorros referia-se ao vizinho Bonerges (Boanerges, conforme o batistério). Que nunca explodia com os - inclusive justos - "relas" (cagaços) aplicados pela mulher Vandira. Por resposta, ele tão só regurgitava, resignado: "Fazer o que, né? Terminantemente proibido pelo médico de comer fava com paçoca do Itapagé - por fatores ultragastrintestinais mais que convincente, dava por resposta o de sempre, ante a eterna negativa da consorte: "Fazer o que, né?"

Contudo, naquela idade, Bonerges chegou ao ponto de não mais aceitar mais a privação do que tanto amava alimentar-se, restando adoecer de tristeza. Onde já se viu não ter mais por jantar (após 80 anos ininterruptos) o duo fava-paçoca, de celebrada sustança? Pior: vieram a chapuletada da covid-19 e o surto de "estalecido" (os vários subtipos do vírus influenza A) no mundo. Lascou. Bonerges, no fundo da rede, com todos os sintomas das macacoas mencionadas. Seriam os vírus ou a negativa de Vandira em relação à fava com paçoca? A mulher nem mais se importava; era a filha que insistia em saber do pai, dos cuidados com o velho.

-Garganta inflamada, paizinho!

-Fazer o que, né?

-Dor no corpo e febre...

-Fazer o que, né?

-O senhor tá com todos os sintomas!

-Fazer o que, né?

-Vamos tomar vacina?

- Só se for da 'Pfiçoca'!!!

O arroto original

Na mesma pegada de Bonerges, temos um seu Zé Duarte protagonizando hilaridades, do alto de seus 95 anos. Terminou de jantar, levantou-se e foi em busca da sala, ver o Jornal da TV. No meio do caminho, estancou. Pelo visto, era dor grande, remexia a cabeça, faltava-lhe o ar. Mas, que dor? A filha Maju perguntou, chegando junto. "Não sei. É uma coisa que quer escapar..." O que, paizinho? "Algo pedindo liberdade..." Um espirro? Ou seria peido ariado? "Não, não!" Tá zonzo? "Ainda não!" Pois fala, pai! "Filha, se eu arrotar, eu fico bom!"

- Ah, bom!!! Vou fazer um chazinho de boldo com camomila e semente de mamão!

- Tomei ontem e não passou! Nem perca tempo!

- Pois então...

- Não adianta reza, botar cinco pessoas arrotando perto de mim pra me dar vontade. Nem me levar pra missa, pro estádio, pro forró, nem me deem garapa de murici...

- Quer tomar uma coca-cola?

- De preferência, choca! Tô dum jeito tal que mais antes Deus me levasse!

Mandaram buscar uma coca-cola a duas léguas dali. E seu Zé, sentado, tomou o refrigerante em formato de purgante. Onze goladas e agora esperemos o resultado. Cinco minutos decorridos e nada de arroto dar as caras. Pai, vamos andar um pouco, facilita. "Bora!" dois passos dados e lá veio o primeiro estrondo. E mais outro e outro mais. Um tirinete de arrotos. Todos, quer dizer, quase todos comemoram a arrotaria de seu Zé. Filha feliz.

- Graças a Deus, pai, o senhor arrotou!!!

- Não vogou ainda, Majuzinha! Não foi um arroto original!

Fonte: O POVO, de 10/06/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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