Por Poty Fontenelle (*)
Nas
gravações de vocais que fizemos para as bandas do Somzoom estúdio, conheci
inúmeros compositores novos de forró, grandes compositores, dentre tantos, uma
chamava-me a atenção: Rita de Cássia. Sua capacidade de criação
melódica sobre sequências harmônicas conhecidas prenunciava em suas músicas
sucesso indiscutível. Uma fórmula simples mais de difícil domínio. Simples por
ter seu acompanhamento facilmente executado por qualquer iniciado em violão,
com acordes básicos (o que também já era uma grande porta para
o sucesso), mas, com um diferencial enorme: Melodias envolventes e letras
reveladores das emoções comuns dos apaixonados.
Emanuel
Gurgel, nas vezes em que tínhamos sua presença no estúdio e estávamos gravando
alguma composição dela, com sua sensibilidade de midas, alertava para o grande
potencial de Rita já a colocando como um sucesso futuro. A cada banda
gravada, na audição inicial que fazíamos do repertório, íamos identificando
suas letras, melodias e harmonias. Quase invariavelmente, as músicas cujas
melodias tinham detalhes diferenciais e eram facilmente fixadas na memória iam
sempre para "conta" da Rita de Cassia.
Seu estilo
serviu de modelo e inspiração para outros compositores. Sua temática evidenciava
a beleza, a força e o amor entre as pessoas. Em "Meu vaqueiro, meu
peão", isso fica bem claro. A ideia do homem nordestino sofrido, calejado,
tão repetida nas composições, era deixada de lado e ela os transformava em
príncipes montados em alazões com beleza reluzente, havia a ideia subliminar
que o sertão estaria sempre verde e decorado como cenário de tantas paixões e
amor. Asas da imaginação com Banda Aquários; Tatuagem, com Mastruz com
Leite, Bichinho de estimação, com a Banda Cavalo de Pau e centenas de outras.
Rita
romantizou o forró dando-lhe um grande impulso para sua consolidação
final, popularizando a música regional também no perímetro urbano e em todas as
classes, compondo a galeria com Luiz Gonzaga, Marinês e muitos outros. Creio
que a música que eu comporia em sua homenagem poderia ter o título de
"Encantamento".
(*) Maestro. Professor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/1/23. Opinião, p.20.
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