segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O RESGATE DE PINTO MARTINS

Editorial de O Povo, de 22 de janeiro de 2023.

O Ceará, através da sociedade civil e também pelo engajamento mais firme de suas forças políticas, precisa se envolver de maneira mais efetiva na luta que tem sido desprendida nos últimos anos por segmentos isolados em defesa do restabelecimento de uma homenagem que não faz sentido que se tenha decidido, na prática, cancelar. No caso, a exclusão do nome de Pinto Martins da fachada do aeroporto internacional de Fortaleza, decisão tomada pela Fraport, empresa alemã que assumiu, como concessionária, o controle de administração do terminal desde 2018 e que até hoje não apresentou uma justificativa aceitável para a atitude.

Consideremos, de início, que não se trata de uma homenagem qualquer. Euclydes Pinto Martins, filho de Camocim, no litoral norte do Ceará, sempre foi um apaixonado pela causa aeronáutica. Mais do que isso, protagonizou pioneiro voo sobre o oceano Atlântico, entre Nova York e o Rio de Janeiro, no distante ano de 1922, num percurso de 5.678 km marcado por extraordinárias 100 horas de uma viagem plena de aventuras e intempéries, incluindo-se pousos em rios localizados em áreas selvagens da Amazônia e uma sentimental parada em sua Camocim natal. Típico caso, voltando ao tema da nominação do aeroporto, de um tributo que faz sentido considerados todos os aspectos pelos quais seja analisado.

Sem dúvida, o tema deveria mobilizar mais a classe política, por exemplo. Vê-se, ao contrário, manifestações isoladas, mesmo que frequentes, de parlamentares como os deputados Acrísio Sena (PT) e Sérgio Aguiar (PDT), este último conterrâneo de Pinto Martins, cobrando a concessionária e exigindo que ela devolva a homenagem, inclusive considerando-se os aspectos legais envolvidos. O nome do aeroporto é resultado de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que foi sancionada em 1952 pelo então presidente da República, Café Filho, portanto, é mais apenas do que uma mera questão política que está em discussão.

O próprio governo do Ceará deveria estar mais empenhado, aliando-se aos deputados já abraçados à causa e colocando sua força política à disposição de uma luta que precisa ser de todos. Talvez seja o caso de também cobrarmos mais mobilização das nossas entidades classistas empresariais ou do movimento social, sempre ativas em relação às agendas de seus interesses diretos, no sentido de fazê-las mais conscientes da importância do envolvimento do conjunto diverso da sociedade com uma pauta que busca, simplesmente, exigir respeito à memória e à história do nosso Estado.

A concessionária do aeroporto, com tudo de importante que tenha representado com sua chegada em termos de práticas administrativas novas e que têm mesmo melhorado a parte estrutural, precisa ser levada a entender que o resgate do nome de Pinto Martins é um assunto de interesse do Ceará. Por enquanto, diante da timidez com a qual temos agido e pelo fato de serem isoladas as vozes que gritam contra o que foi feito, talvez não esteja sendo dimensionado o tamanho real da injustiça representada pela medida. Nosso grito precisa ser mais alto e exige mais vozes para que, enfim, se faça ouvir.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/01/23. Editorial, p.18.

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