terça-feira, 6 de dezembro de 2022

ENFERMAGEM E OS DE 30 ANOS DE DEDICAÇÃO

Por Ana Claudia Camargo (*)

Para se tornar um enfermeiro (a) de alta performance são necessários ao menos 30 anos de estudos, sendo 15 anos do ensino fundamental ao médio, mais 5 anos de faculdade, mais 2 de especialização, mais 7 de formações complementares, participação em congressos, pesquisas, mestrado e doutorado. Esta é em média a vida acadêmica de um profissional que dedica 40% da vida (se comparado à média de expectativa de vida no Brasil segundo IBGE, 72 anos) para viver em prol da profissão que jura dedicar a vida profissional a serviço da humanidade.

Coincidentemente ou não, foi quase exato o mesmo período de tempo, um pouco mais de 30 anos das leis nº 7.498, de 25 de junho de 1986 e nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que a luta por melhores salários enfim, foi sancionada pela Presidência da República com a Lei 14.434/2022, que criou o piso salarial nacional do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do auxiliar de enfermagem e da parteira, sendo publicado no Diário Oficial da União em 05 de agosto de 2022.

Mas o que a aprovação da LEI do piso impacta?

A Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizou um estudo orçamentário sobre os possíveis impactos e estimou-se um gasto anual de R$ 10,5 bilhões e demissão de 32,5 mil enfermeiros, caso haja aplicação sem custo adicional, mais de R$ 1,8 bilhão seria identificado no primeiro ano só na estratégia Saúde da Família e custo extra anual total de R$ 9,4 bilhões aos cofres municipais. Já segundo o presidente da Fehosp, há 10 anos não há reajuste da tabela de serviços do SUS.

Isso significa que, em mais de 30 anos, o estado não se organizou para as mudanças que aconteceriam em janeiro de 2023. O setor privado, planos de saúde, exames e especialmente o serviço filantrópico, não veem a medida como viável a curto prazo, que já possui uma carga tributária enorme. Além disso, a lei foi aprovada e o prazo de implantação para o setor privado seria no mês seguinte.

Os profissionais da enfermagem que representam mais de 50% da folha de pagamento da maioria dos hospitais, estão a mercê das decisões políticas e econômicas, no entanto seu juramento de dedicação integral e seu investimento na carreira de 30 anos permanecem, mesmo após desrespeito e desvalorização e na incerteza das novas decisões, que não estão em suas mãos.

(*) Enfermeira. CEO e Fundadora da Faculdade ITH.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/11/2022. Opinião. p.21.

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