quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXIII

"ANFÍBIO"
Contada pelo sr. Carvalho a Alberto de Oliveira.Havia em Niterói, na rua da Praia, um pequeno comerciante de gêneros alimentícios em cujo estabelecimento existia um sótão em que Fagundes Varela, já no fim da vida, se recolhia para escrever os seus versos dos últimos tempos. Foi esse sr. Carvalho que guardou para a literatura o poema inédito Diário de Lázaro.
A esse amigo humilde e generoso, Varela só tratava, porém, de "Anfíbio".
- Ó Anfíbio, como vais? - saudava.
Um dia o sr. Carvalho o interpelou, intrigado:
- Anfíbio? Mas por que me chama você de Anfíbio?
- Ora, ora! - fez o poeta.
E piscando os olhos:
- Tu não sabes então que és... de "secos e molhados"?

A CAUSA DAS REVOLUÇÕES
Anais da Câmara.
Dividida a Câmara em dois campos, a propósito da prorrogação do sítio com que se queria armar Floriano, César Zama, veneranda figura da casa, lançou-se à arena para condenar a possibilidade de novas violências.
- As portas da revolução, -- bradou, não se fecharão jamais com a medida de rigor, com o extermínio dos revolucionários nos campos de combate; mas com a remoção das causas que a provocaram, e com um governo de liberdade, justiça e probidade.
E num surto:
- Os povos livres e felizes não se revoltam!

O BEIJO... INCONSTITUCIONAL
Ernesto Sena - "Deodoro", pág, 160.
Não obstante a sua fisionomia austera, Deodoro era um espírito alegre e gostava de pilheriar. Como não tivesse tido filhos nem filhas, costumava beijar na testa as sobrinhas, onde as encontrava.
Um dia, estando em despacho, entrou uma destas, e Deodoro beijou-a. Afonso de Carvalho, ministro da Justiça, e velho magistrado, ponderou, gracejando, que aquele ósculo não era constitucional.
- Por que? - perguntou o marechal, intrigado.
- Porque não foi na forma do art. 40 da Constituição da República.
- Errou, meu caro amigo, - retrucou o marechal; - isso pertence exclusivamente ao expediente do meu gabinete particular.
E retomando o trabalho:
- Referendará você os que eu der na coroa de monsenhor Brito...

EUCLIDES DA CUNHA E FLORIANO
Araripe Júnior - Revista da Academia Brasileira de Letras, n° 39, pág.256.
Genro do general Solon, Euclides da Cunha tivera noticia de que Floriano, que mandara prender aquele militar, o ia mandar fuzilar. Num ímpeto de coragem, o moço escritor procurou o ditador. E, sem medir as conseqüências, começou a verberar o seu procedimento, se tal fizesse. Tamanha audácia, era das que Floriano costumava punir com uma descarga de fuzilaria, no silêncio de uma fortaleza. Ao terminar, o ditador indagou, a testa franzida:
- Já acabou?
- Já, - respondeu, firme, Euclidcs.
E Floriano, desanuviando a testa:
- Menino, quando seu pai não cogitava sequer de fabricá-lo, (a frase é outra, brutal, mas equivalente), eu já era amigo de Solon.
E no mesmo tom:
- Pode retirar-se.

PRÉDIO DA AVENIDA
Humberto de Campos - Discurso na Academia Brasileira de Letras.Em certa roda, elogiava-se a atividade de Medeiros e Albuquerque, o polígrafo mais completo do Brasil.
- O Medeiros, - dizia um do grupo, - o Medeiros é genial! Escreve sobre tudo: é romancista, é "conteur", é jornalista, é cronista, é critico literário, é conferencista, e homem de ciência... Entende tudo.
Emílio deu de ombros:
- Mas é prédio da Avenida, filho.
E num gesto, rindo:
- Muita frente e pouco fundo!

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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