quarta-feira, 31 de julho de 2013

O BRASIL ANEDÓTICO LV



O INDUSTÃO E A SIBÉRIA
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 390.
Habituado aos debates quotidianos na Câmara, onde iam rebentar todas as paixões intensas do tempo, Antônio Carlos sentiu-se, naturalmente, deslocado ao ser escolhido senador em 1845. Se a Câmara era a agitação, a luta, o choque das idéias e dos interesses, era o Senado a tranquilidade, o repouso, a calma, filha da fadiga e da experiência.
Ao ser empossado nessa ante-sala da morte, o vigoroso tribuno verificou, logo, que o ambiente ia amortecer a sua notoriedade. E tentou reagir, num discurso fulgurante, magistral, comparando as duas casas, tão diversas na sua atuação política.
E exclamou, a certa altura
- Eu venho dos ardores do Industão para os gelos da Sibéria!...
O PORTUGUÊS DE LABATUT
Visconde de Taunay - "Trechos de minha vida", pág. 27.
Incorporado ao Exército brasileiro com o posto de major, Carlos Augusto Taunay, tio do visconde de Taunay, seguiu para a Bahia, a fim de dar combate, ali, ao remanescente das tropas portuguesas comandadas pelo general Madeira. Metendo-se, porém, a criticar os planos do general Labatut, contra o qual conspirava, foi preso e condenado à morte.
Esperançoso, todavia, de salvar-se, pediu Carlos Taunay adiamento da execução, alegando o desejo de confessar-se antes de morrer.
Labatut condescendeu, mas não perdoou. E a sua resposta foi esta, num português arrevesado:
- "Confissa ou non confissa, ma fussila!"
IMPERADOR, MAS CONSTITUCIONAL
J.M. de Macedo - "Ano Biográfico", vol. III, pág. 227.
De regresso de Minas Gerais, a 11 de março de 1831, Pedro I encontrou a capital do Império em grande efervescência, a qual se acentuou no dia 12.
Nessa noite, grupos de portugueses, querendo prestigiar o seu antigo príncipe, hostilizado pelo elemento indígena, saíram à rua, gritando:
- Viva o Imperador!... Viva o Imperador!...
Os brasileiros natos formaram, por sua vez, os seus grupos, e partiram ao encontro dos primeiros, mas com este grito:
- Viva o Imperador enquanto Constitucional!...
UMA FALA DO TRONO
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 40.
Informado de que os seus adversários pretendiam aproveitar a "fala do trono", em 1830, para continuar fora da Câmara a campanha sistemática iniciada contra a sua pessoa, resolveu o Imperador antecipar-se na agressão, tomando a ofensiva.
Aberta a sessão gravemente pelo monarca, pôs-se este de pé, e, desenrolando uma folha de papel, começou:
"Augustos e Digníssimos Representantes da Nação".
E imediatamente:
"Está fechada a sessão".
O pasmo dos circunstantes foi indizível. Todos se entreolharam, aflitos, atônitos, assombrados. E foi no meio dessa estupefação, que o Imperador desceu, soberbo, os degraus do trono, exclamando, como num desafio:
- É isto mesmo!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

terça-feira, 30 de julho de 2013

Em defesa de Joseph Blatter



Por Ricardo Alcântara (*)
O presidente da FIFA, Joseph Blatter, se mostra desapontado com o que julga ser uma má disposição da sociedade brasileira para com seus negócios à frente da menos transparente de todas as organizações transnacionais de direito privado.
A recíproca é verdadeira: ao financiar arenas superfaturadas a juros piedosos em pelo menos três cidades onde o futebol é uma atividade irrelevante, tampouco a sociedade brasileira está segura de ter feito um bom negócio com o Sr. Blatter.
Sabe ele que não receberemos a mercadoria paga. A favor dele, diga-se: foi o governo brasileiro, e não sua entidade, o mentor da fraude. Como não pode falar isso, reage em público com ameaças veladas cuja destinatária mora em Brasília.
De início, era outro o acordo entre o presidente Lula e a nação: para construir arenas, dinheiro público não haveria. Somente para obras estruturantes, com prioridade à melhoria em mobilidade urbana, de nível crítico nas capitais do país.
Nem vou ilustrar a disparidade entre promessa e resultados: você lê jornais e bem sabe que ainda não apareceu ninguém para explicar por que faremos uma Copa do Mundo a um valor igual à soma gasta nas três últimas versões daquele evento.
Agravantes, são as circunstâncias: o prometido “espetáculo do crescimento” já vê água em seus motores sem que tenha sido suficiente para impedir o avanço da delinqüência e o agravamento das já péssimas condições de atendimento em saúde.
O cidadão viu a leveza mágica com que modernas arenas brotaram do chão em pouco tempo e pode, então, perceber o poder que se manifesta quando dinheiro e interesses falam a mesma língua. Aí, ele pergunta: por que não hospitais, também?
Claro, a coisa não é tão simples. Mas não há como construir um discurso honesto sobre isto e vendê-lo a quem paga a conta sem tocar no âmago das perversões que inspiram as leis do mercado a impor o primado do lucro sobre o interesse comum.
O Sr. Blatter apenas nos vendeu o seu negócio: sediar a Copa do Mundo a pretexto de receber terabytes de exposição em mídia espontânea sem custo direto algum. Velho sonho de consumo, a pátria de chuteiras assinou sem pensar duas vezes.
O que a FIFA nos vendeu, países de boa conduta como Alemanha e França também compraram. Se não obtiveram ganhos na proporção imaginada, tampouco reclamam prejuízos. A África do Sul já não pode dizer o mesmo. Há copas e copas.
A do Brasil não será bancada por quem controla os excedentes, a iniciativa privada, mas pelo mesmo setor público que se declara impotente para tirar do corredor hospitalar o paciente que mora em áreas de risco. Assim é inevitável, o mal estar.
Mas, mesmo desapontado com o bom nível de informação que temos sobre a verdadeira natureza de suas operações, o Sr. Blatter fará conosco os seus negócios: suja demais, não há cão leproso que resista à hospitalidade da nossa esquina.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Homilia do Papa Francisco na Missa de envio da Jornada Mundial da Juventude






Homilia do Papa Francisco
Santa Missa pela XXVIII Jornada Mundial da Juventude
Rio de Janeiro, domingo, 28 de julho de 2013
Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio;
Queridos jovens!
«Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: «Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais». Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.
1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).
Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.
De forma especial, queria que este mandato de Cristo -”Ide” – ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: «Ai de mim se eu não pregar o evangelho!» (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido!
2. Sem medo. Alguém poderia pensar: «Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho»? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras: «Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo». Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: «Não tenhas medo… pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está conosco!
«Não tenham medo!» Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: «Eu estou com vocês todos os dias» (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a vocês!
Além disso, Jesus não disse: «Vai», mas «Ide»: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do caminho. Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!
3. A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: «Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.
São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: «Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível» (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se «escravo de todos». Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.
Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de «extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar» (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações». Amém.

domingo, 28 de julho de 2013

DESPEDIDAS DA PROFA. ELSIE STUDART



Centenas de pessoas, entre familiares, amigos e admiradores, exibiram o seu pesar durante o velório e sepultamento, ocorridos no Cemitério Jardim Metropolitano, na manhã de sexta-feira, 26 de julho de 2013, da Sra. ELSIE STUDART GURGEL DE OLIVEIRA, professora, escritora, funcionária aposentada do DNOCS e prestigiada colaboradora do Instituto do Câncer do Ceará (ICC).
Logo após a missa de corpo presente, celebrada pelo Pe. Wagner, coube a mim, como amigo e colega de trabalho dela há 22 anos, e em atendimento à indicação de seus familiares mais próximos, falar das qualidades e do legado da pranteada extinta.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Discurso do Papa Francisco durante a Via Sacra com os jovens




 

 


Viagem Apostólica ao Brasil


Via Sacra com os jovens


Praia de Copacabana


Sexta-feira, 26 de julho de 2013

Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: «Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção» (Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamenti VII,1(1984), 1105). A partir de então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?
1. Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o Apóstolo Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguição do Imperador Nero, viu que Jesus caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: «Para onde vais, Senhor?». E a resposta de Jesus foi: «Vou a Roma para ser crucificado outra vez». Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção, ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho. Na Cruz de Cristo, está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida (cf. Jo 3,16).
2. E assim podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte para derrotá-la e nos salvar. Na Cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen fidei, 16)! Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá a esperança e a vida: transformou a Cruz, de instrumento de ódio, de derrota, de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida. O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de «Terra de Santa Cruz». A Cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não só: o Cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não venha compartilhar conosco.
3. Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as mulheres… Também nós diante dos demais podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos. Queridos amigos, a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você como é? Como Pilatos, como o Cireneu, como Maria? Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontraremos um Coração aberto que nos compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!
 

sábado, 27 de julho de 2013

Perfil de Elsie Studart no livro Dom Aloísio



Elsie Studart, formada em Letras pela UECE, é técnica em assuntos educacionais, entusiasta da vida e profunda admiradora das ciências e das artes. Hoje, já aposentada, reserva uma parte do seu tempo para trabalhar no Hospital do Câncer. A outra parte ela emprega para ler, escrever, ouvir música, assistir filmes de época e ficar mudando de canal, à procura de bons programas de televisão. Cultiva, principalmente, o hábito matutino da leitura de jornais, não importando o caderno e, também, de ver, na “telinha”, praticamente todos os noticiários jornalístico do dia e da noite. De algum tempo pra cá, tem dividido com Marcelo Gurgel a produção de trabalhos, livros, inclusive, sobre fatos e personagens da história local, a exemplo de sua participação nas obras: “Paulo Marcelo Martins Rodrigues: o divisor de águas da Medicina no Ceará”, “Instituto do Câncer do Ceará: 50 anos a serviço da comunidade”, “Frei Lauro Schwarte e os anos iluminados do Otávio Bonfim”.
In: OLIVEIRA, E.S.G. de; SILVA, M.G.C. da. Dom Aloísio. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2006. 138p.
Nota do Blog: A Profa. Elsie retornou ao Pai na última quinta-feira (25/7/13), deixando uma grande saudade no seio do seu vasto cículo de amizade.

Convite Lançamento de “RISOS E LÁGRIMAS EM BETÂNIA”




A Livraria Paulus convida para a manhã de autógrafos de “RISOS E LÁGRIMAS EM BETÂNIA, a amizade na vida de Jesus”, de autoria Lúcia Arruda, religiosa da Congregação de Nossa Senhora do Retiro no Cenáculo, atualmente residente em Belo Horizonte, onde se dedica à orientação de retiros espirituais.
A obra é de fácil e agradável leitura, requerendo poucas horas para ser lida e apreciada. Por isso, é com satisfação que recomendo a aquisição desse livro, para consumo pessoal e para presentear um amigo.
Data: 27 de julho de 2013 (sábado), de 10h às 12h.
Local: Livraria Paulus, Rua Floriano Peixoto, 523, Centro - Fortaleza.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

RESENHA DE “RISOS E LÁGRIMAS EM BETÂNIA”



O Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, de julho de 2012, acolheu, em suas páginas, uma resenha do livro “MULHERES NA VIDA DE JESUS – A história das primeiras discípulas”, editado pela Paulus, escrito por Lúcia Furtado Arruda, religiosa da Congregação de Nossa Senhora do Retiro no Cenáculo.
Irmã Lúcia Arruda é cearense de Fortaleza, oriunda de uma família de longa tradição católica, cujo fervor religioso pode ser conferido por vários padres e freiras pertencentes ao clã dos Arruda; atualmente, ela reside em Belo Horizonte-MG, onde cumpre o seu labor missionário, dedicando-se à orientação de retiros espirituais.
A autora obteve a licenciatura em Letras, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Ceará, e a graduação em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, qualificações essas que se juntam à sua afeição pela História, um atributo, por certo, absorvido de seu pai, o professor e historiador Miguel Edgy Távora Arruda.
Agora, à reboque do bem-sucedido feito editorial, em escala nacional, do livro acima aludido, Lúcia Arruda torna público mais uma novidade literária, sob o título “RISOS E LÁGRIMAS EM BETÂNIA, a amizade na vida de Jesus”, que tem tudo para seguir o exitoso percurso do seu precursor, tanto pela temática como por sua cuidadosa elaboração.
O livro reconta, sob a forma de romance, misturando realidade e ficção, o relato da amizade de Jesus com uma família de Betânia, cujo núcleo principal era composto pelos irmãos Marta, Maria e Lázaro. O lar desses irmãos, em Betânia, um povoado da Judéia situado na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a 3 km de Jerusalém, seria, então, o lugar onde Jesus costumava albergar-se, ao ensejo de suas atividades missionárias em Jerusalém e em seus arrebaldes. Nele, o Messias se sentia intensa e afetuosamente recebido por amigos féis e de verdade.
Essas três figuras protagonistas da obra são bastante conhecidas nas passagens do Novo Testamento, porquanto a morte de Lázaro afetou profundamente a Jesus, de quem era um dileto amigo; o Filho do Homem, comovido diante das dores de Marta e de Maria, para as quais o seu irmão não teria morrido se o Mestre estivesse entre eles, opera a ressurreição de Lázaro, tido como um dos mais pujantes milagres de Cristo, em sua permanência no meio terreno.
Marta e Maria são as discípulas de Jesus, aparentemente opostas, citadas na Bíblia, pois, enquanto a primeira, Marta, cuidava dos afazeres da casa e anfitriona, com solicitude, o divino hóspede, conferindo um componente mais material, a segunda, Maria, permanecia absorta, sentada aos pés do enviado de Deus, ouvindo suas pregações e sorvendo a melhor parte, a espiritualidade cristã. Vale rememorar que esse suposto antagonismo fraterno, de Marta e Maria, serviu de mote a Viana Moog, para firmar, em sua obra prima, o confronto entre bandeirantes e pioneiros, no cotejo que fez dos rumos da colonização do Brasil e dos EUA.
A autora faz sua narrativa, como se fosse uma real observadora dos fatos, sem, contudo, utilizar-se de diálogos entre os personagens, mas recorrendo a passagens bíblicas, com destaque para as belíssimas citações do Livro dos Cânticos, encaixadas de modo preciso, e que funcionam como substitutas perfeitas das falas intencionalmente omitidas do texto.
Mesmo sendo um livro de ficção, sua fundamentação histórica é irretocável, ancorada em sólidas referências bibliográficas, o que concede valiosas informações contextuais sobre a Judeia, nas alvíssaras do cristianismo; no corpo do romance e em algumas das suas notas de rodapé, dá-se a perceber indicativos do legado de Flávio Josefo, o notável historiador judeu romanizado.
A obra, traçando um perfil do Rei dos reis profundamente humano, exposto a alegrias e tristezas, é de leitura fácil, e, sobretudo, agradável. Suas 120 páginas, dispostas em onze capítulos, podem ser saboreadas, com avidez, em poucas horas, deixando uma sensação de “quero mais”, um desejo a ser suprido pela versátil escritora, muito brevemente.
O novo livro em epígrafe será lançado em Fortaleza, na Livraria Paulus, à Rua Floriano Peixoto, nº 523, em 27 de julho de 2013, sábado, às 10 horas, com a presença da autora.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sociedade Médica São Lucas
* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 9(72): 4, julho de 2013.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

PESAR POR PROFA. ELSIE STUDART GURGEL DE OLIVEIRA



É com profundo pesar que assinalo aqui o falecimento na tarde de hoje, 25 de julho de 2013, da Sra. ELSIE STUDART GURGEL DE OLIVEIRA, professora, escritora, funcionária aposentada do DNOCS e prestigiada colaboradora do Instituto do Câncer do Ceará (ICC). A professora Elsie Studart Gurgel de Oliveira foi uma grande amiga, com quem trabalhei no ICC, desde 1990.
Eu a conheci há mais de vinte anos, quando ela, recém-aposentada do DNOCS, engajou-se no serviço de secretaria e apoio administrativo do XII Congresso Brasileiro de Cancerologia, presidido pelo Prof. Haroldo Gondim Juaçaba, e por mim secretariado.
Pessoa de invejável cultura, cultora das letras, detentora de uma memória prodigiosa, exibia o dom da escrita, com inegável primor e aguçada sensibilidade, com incursões em deferentes gêneros literários.
Dividimos a autoria de vários livros e fui seu editor de outras obras de sua autoria, e ainda tenho sob custódia alguns dos seus trabalhos que podem ser divulgados em caráter póstumo, oportunamente.
Consternado, apresento meus sentimentos ao seu esposo Adbeel Goes de Oliveira e aos seus filhos Adbeel Filho, Alexandre, Adriano, Angelina e Igor.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
P.S.: O corpo da Sra. Elsie Studart Gurgel de Oliveira está sendo velado no Cemitério Jardim Metropolitano, onde será sepultado às 10 horas de amanhã (26/07/13).

PROTESTOS PRIMAVERIS EM UM BRASIL CRISTÃO



Disse o Senhor: “De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo” (Êxodo 3:7).
Junho de 2013: um gigante, dantes dito deitado em berço esplêndido, despertou. A partir de uma questão, meramente pontual, de um reles aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus da capital paulista, o povo brasileiro ganhou as ruas das cidades, desencadeando uma onda de protestos, rotulada nas redes sociais de “Primavera Brasileira”.
Nos diferentes pontos de nosso rincão, no litoral e nos sertões, nas cidades, grandes ou não, pipocaram as manifestações, reunindo milhares de pessoas, que marcharam para exibir os seus descontentamentos com os desacertos do Estado brasileiro na condução de nossas políticas públicas.
O represamento das insatisfações acumuladas em governos pós-redemocratização do Brasil, notadamente nos últimos dez anos, quando um partido político, sobre o qual se depositavam esperanças na capacidade que teria de romper com as práticas políticas do passado, seguiu no mesmo diapasão, mas, talvez, com uma oitava acima, mercê do populismo e do total desrespeito para com a cousa pública e com o erário, atacado por gastos perdulários e inexplicados.
Anos continuados de submissão a impostos escorchantes, nos patamares escandinavos, combinados com a oferta de serviços públicos, com padrão subsaariano, compuseram um cadinho de alto teor explosivo, cujo conteúdo ficara muito próximo do ponto de ebulição, que poderia descambar para uma situação de anarquia e de conturbação social.
A marcha desses acontecimentos, brotados quase que espontaneamente em atendimento às convocações em redes sociais, pegou, desprevenidos, governos, partidos políticos, imprensa, organizações brasileiras etc., que atônitos buscam entender o que se passa no seio dos diferentes segmentos sociais, até então pouco dispostos a insurgir-se contra o establishment e os poderes constituídos do País.
Jornalistas, cientistas políticos, cientistas sociais, políticos profissionais e outros formadores de opinião externalizaram suas opiniões nos veículos de mídia, dando eco aos reclamos legítimos dos cidadãos que reagem aos desmandos de políticos e gestores públicos, que têm pautado suas ações sob a égide da corrupção e do despojamento ético.
Dentre essas vozes, dignas de maior destaque, vale mencionar, no plano nacional, a nota oficial expedida, em 21/06/13, pelo Conselho Permanente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e, no plano local, o Manifesto de Dom Edmilson da Cruz, bispo emérito de Limoeiro do Norte, dirigido ao povo cearense e publicado no jornal O Povo, de 21/06/13.
A nota da CNBB declarou solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, por tratar-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Elas requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, tendo sempre em vista a construção da sociedade justa e fraterna que se almeja.
Dom Edmilson falou como cidadão. Não falou de quimeras, mas como ele mesmo assinalou, na abertura de seu manifesto: “Fala de uma exigência. De uma necessidade. E de uma urgência. Que deve transformar-se numa vivência. Vivência incontestável, que corresponde a um direito, a um dever, a uma obrigação”.
O nosso eminente prelado teve ainda o cuidado de evitar a generalização, porquanto reconhece que “existem certamente políticos íntegros, dedicados ao bem do povo. Senhores e senhoras dignos de admiração, respeito e gratidão. Mas sem retirar uma vírgula à denúncia e ao protesto de que os denunciados são merecedores, importa lembrar a todos que somos cidadãos e cristãos. Oro por eles todos os dias a fim de que sejam dignos do mandato que lhes confiamos.”.
É hora, pois, de salmodiar: “Chegue à tua presença o meu clamor, Senhor! Dá-me entendimento conforme a tua palavra” (Salmos 119:169), para traçar a questão em um mundo hodierno e cada vez mais laicizado. Não há como negar que os descalabros perpetrados, presentemente, por nossos dirigentes, no Brasil, configuram graves ofensas aos princípios cristãos, ombreando-se àqueles pecados capitais listados no catecismo católico, merecendo a repulsa desses atos, todavia com a preservação do respeito ao pecador, submisso que estará à Justiça dos homens e de Deus.
As palavras contidas nos livros sagrados: “Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor” (Salmos 10:17); e “Os justos clamam, o Senhor os ouve e os livra de todas as suas tribulações” (Salmos 34:17), aportam alento ao povo, indicando que Deus não o desampara nos momentos mais difíceis.
Com efeito, é deveras surpreendente as conquistas (ou serão meras promessas?) já sinalizadas pelas autoridades brasileiras, como respostas às reivindicações dos protestos, de junho de 2013, o que obriga a recorrer ao Velho Testamento, nos termos que assim disse o profeta: “Em meu desespero clamei ao Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor” (Jonas 2:2).
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Integrante da SMSL
* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 9(72): 3-4, julho de 2013.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A QUALIDADE DE VIDA NAS CRISES



Antero Coelho Neto (*)
Estamos em um momento político-social muito importante para os brasileiros. Manifestações em todo o país e propostas da população e de alguns políticos, para a solução dos inúmeros problemas, principalmente nas áreas da corrupção, violência, saúde, educação e nossa representação e prática política.
O aumento do preço das passagens nos transportes populares foi o estopim para que a população aproveitasse para condenar e gritar contra a situação vigente, de maneira em geral. Mas este tema já está sendo amplamente notificado pelos órgãos de comunicações e nosso artigo pretende analisar a qualidade de vida (QV) de nossa população, neste momento tão importante de nossa vida.
Existem vários estudos importantes sobre a QV nas diferentes crises da humanidade que apresentam diferentes resultados positivos e negativos. Especialistas no assunto encontraram diferentes e importantes condicionantes que, algumas vezes, chegam a modificar completamente a vida das populações.
A causa fundamental do que ocorre é o estresse, que pode ser grande e durar muito. Ele pode ocasionar preocupação, angústia, medo, ansiedade, com importantes quadros clínicos de depressão, infartos, hipertensão arterial e paradas cardíacas. E como evitar essas possibilidades? Muitos estudos foram já realizados em várias partes do mundo, com resultados significativos.
Frente aos problemas, devido à fabricação de muitos neurotransmissores prejudiciais a diferentes órgãos de nosso corpo, causados pelo estresse mental, conjuntamente com o metabólico, provocado por maus estilos de vida de muitos brasileiros, os resultados podem ser graves.
Os pesquisadores indicam, então, para prevenção ou cura, dessas patologias, diferentes técnicas e comportamentos: 1. sorrir, cantar e dançar; 2. valorizar os momentos alegres e de esperanças; 3. amar com mais intensidade; 4. aumentar a autoestima; 5. mudar os maus estilos de vida; e 6. utilizar terapias relaxantes (fisioterapias, meditação, ioga, pilates etc.).
Vários centros e academias, algumas famosas mundialmente, utilizam essas técnicas com resultados significativos. Por exemplo, no dia 28 de abril, comemora-se o Dia Mundial do Sorriso, tal a importância dada por várias organizações de práticas para o público, do ato de sorrir. Pesquisadores de gelotologia, do Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Universidade Fernando Pessoa, em Portugal, salientam que o sorriso “é muito importante para a melhoria da qualidade de vida das pessoas” e “é um poderoso fenômeno de recompensas interpessoais”.
Lembro também que muitos brasileiros, nas suas diferentes maneiras de “saber viver” (bon vivants) com suas resiliências, estão aproveitando essas manifestações populares atuais, para sorrir, cantar, dançar e gozar. Estes, evidentemente, não terão alterações nas suas qualidades de vida.
E com você, amigo leitor, que está acontecendo? Tristeza de ser brasileiro? Raiva vingativa? Decepção com seu político ou partido?
Qualquer que seja, companheiro desse Brasil tão belo, vamos sorrir, sim! Mas também vamos lutar, com todas as nossas forças, pela sua transformação em um país justo e com boa qualidade de vida.
(*) Médico, professor e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Publicado In: O Povo, 10/07/2013.

terça-feira, 23 de julho de 2013

INADIMPLÊNCIA FRATERNA



Meraldo Zisman (*)
Sem nos darmos conta chega uma época da vida em que passamos a ser responsáveis pelos nossos pais. Eles vão necessitando da gente, cada vez mais. O pai a mãe, começam a desaparecer, aos poucos pelo cansaço, a doença ou ainda porque nós mudamos.
Os casos de filhos ou filhas zelosos para com os pais, lembram-me a quadrinha do Paulo Mendes Campos: "uma tirania a inventar/ cuidados chocantes,/ temores que machucam / libertemos os velhos de nossa fatigante bondade.". O importante é, como ofertar esses cuidados, que deverá trazer amor, nunca sob a forma de pagamento ou obrigação.
Dia desses tive que conduzir uma senhora, bem apessoada, a um desses lares geriátricos. Na hora, coube a mim a tarefa de transportá-la. A minha cliente de psicoterapia, sua neta, pediu-me para que eu realizasse a tarefa de levar a sua avó para o asilo. Fui. Obrigação profissional. Em lá chegando, achei o ambiente e as acomodações do estabelecimento, luxuosos. Livre da lúgubre tarefa, mas aliviado perguntei por curiosidade, o preço da mensalidade de um "hóspede", em apartamento individual. A senhora por trás do balcão da recepção, ouviu a minha indagação. Com um sorriso profissional respondeu:
- "Doutor, não aceitamos hospedes particulares". Notando a minha surpresa disparou: "O convênio paga pouco, mas é garantido". E prosseguiu sem tomar fôlego: "Quando o idoso é internado, toda a família jura vir visitá-lo, todos os dias. Com o passar das semanas, meses, as visitas rareiam enquanto vai aumentando a inadimplência fraterna".
- Inadimplência fraterna, o que é isso?
A empresária não se abalou e foi me explicando com paciência: "Cada um dos filhos ou filhas, vai deixando de contribuir com a sua parte... Uns dizem que é a crise; outros, esquecimento. E assim vai. No fim do mês quem fica com a velha e as contas sou eu".
Saí daquele lugar pensativo. Atravessei o jardim amplo e bem cuidado. Pensei naquela mansão que deveria ter tido seus dias de glórias. O sol brilhava. Manhã que só acontece no meu Recife. E então me lembrei de meu pai com seus ditados judaicos: "Um pai dá de comer a 10 filhos, 10 filhos não dão de comer a um pai".
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Humano, demasiadamente humano



Por Ricardo Alcântara (*)
Incrível, a dificuldade do governador Cid Gomes em conciliar obrigações públicas e vida pessoal. Sob o argumento do interesse relevante, viajou no pior momento e foi surpreendido, às nossas custas, ao sol do emergente verão croata.
Uma dúvida, sem dúvida: quando Cid Gomes se justifica declarando que “também é de carne e osso”, estaria querendo nos dizer que esperar dele maior decoro seria uma exigência de dimensões sobrenaturais? Vejam: é só uma pergunta...
 (*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

A SOLIDÃO QUE AMEAÇA A PRESIDENTE



Por Ricardo Alcântara (*)
Por um período acima do prazo de validade, a direção do PT cultivou um danoso autoengano: a sensação de prosperidade gerada na sociedade pelas políticas públicas de combate à pobreza seria sedativa à manifestação popular espontânea.
Era aquela a mais confortável versão para quem pactuara sua estratégia de combate à pobreza com os mercadores da governabilidade e ao custo de maciças concessões ao núcleo mais conservador do poder econômico, o capital financeiro.
Para êxito do projeto social-liberal lulista, seria preciso manter a massa dispersa, refém da agenda moderada imposta pelo pragmatismo do pacto, e a tarefa coube a uma clientela bem fidelizada: as organizações sociais outrora muito combativas.
De fato, “nunca antes na história desse país” se expandira tanto a metástase do peleguismo, mas a premissa angular do “projeto” (eufemismo adotado oficialmente para o pacto conservador) tinha base potencialmente variável: crescimento econômico.
Acontece que a história não guarda muitos registros de estratégias reformistas bem sucedidas no longo prazo que tenham semeado seus pomares deixando ao solo nutrientes atrativos para os formigueiros da banca financeira.
Ao contrário do autoengano governista, a percepção de prosperidade gerada pelo êxito nas políticas públicas de combate à pobreza não gerou acomodação de forças, mas – nas ruas se vê – uma agenda reivindicativa ainda mais exigente e complexa.
A irônica expressão “Padrão FIFA” nos cartazes de rua dos atos públicos recentes já definia, provocativamente, o patamar sabidamente utópico das aspirações. Havia, no humor daquela expressão, uma síntese semântica de múltiplas leituras.
Vieram agora pesquisas eleitorais revelar forte queda nas chances de quem ainda as lidera – a presidente em franco processo de isolamento: sem que tenha firmado sintonia com os acordes da rua, perdeu as partituras de seu concerto parlamentar.
A ressaca das manifestações despeja agora na praia do governismo os despojos das insatisfações: o “projeto” não é punido por uma negação dos seus méritos, mas pela sua recusa em suceder a si mesmo e manter-se protagonista.
O governo Dilma Rousseff não imprimiu uma marca própria. Manteve conquistas, mas avançou pouco. Não é um governo autoral, desses que formam líderes. É mais do mesmo e, mesmo quando o mesmo é bom, mais do mesmo nunca é suficiente.
E não é suficiente porque o imenso passivo social impõe a introdução constante de novas esperanças. Se outros males já reclamavam intervenções agudas, a missão do “projeto” se vê sob pressões recentes: o crescimento diminui e os preços disparam.
O recado é claro: Bolsa-família é feijão mastigado. Menos do que revisar seus atos, do governo a sociedade reclama, em desconfortável sensação de estagnação e elevação do custo de vida, maior qualificação de obrigações e representatividade.
Sob o ceticismo das ruas – manada de búfalos que reflui sem apagar seu rastro – e a desconfiança dos aliados, a quem a aparente normalidade já reanima a audácia de seus abusos, a presidente Dilma vê esfarelar-se sua agenda de emergências.
Do terceiro andar de sua solidão, Dilma observa o silêncio de Lula como ato de reserva: enquanto seus áulicos fazem saber que ela erra sozinha, ele se guarda para a hora mais difícil. Claro: Lula nega. Mas que importa sua vontade pessoal?
Se a eleição fosse hoje, ele não teria como evitar sua indicação, senão aceitando o risco de ser responsabilizado pela possível derrota de um “projeto” por ele edificado com paciência, determinação e a malandragem de um velho sindicalista.
Dilma não é de muitos botões, mas deve estar conversando muito com todos eles!
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

domingo, 21 de julho de 2013

A “Bolsa Protesto” do Governo Federal




Nota do Blog: A foto-montagem acima que anuncia mais uma suposta bolsa, na linha do “Pão e Circo” em pleno uso nos últimos dez anos no Brasil, vale pelo tom crítico e humorístico.
Fonte: Circulando por e-mail (internet).

E QUEM SOU EU?



Luiz Fernando Veríssimo (*)
Nesta altura da vida já não sei mais quem sou...
Vejam só que dilema!!!
Na ficha da loja sou CLIENTE, no restaurante FREGUÊS, quando alugo uma casa INQUILINO, na condução PASSAGEIRO, nos correios REMETENTE, no supermercado CONSUMIDOR.
Para a Receita Federal CONTRIBUINTE, se vendo algo importado sou CONTRABANDISTA. Se revendo algo, sou MUAMBEIRO, se o carnê tá com o prazo vencido INADIMPLENTE, se não pago imposto SONEGADOR. Para votar ELEITOR, mas em comícios sou MASSA. Em viagens TURISTA, na rua PEDESTRE, se sou atropelado ACIDENTADO e no hospital viro PACIENTE. Nos jornais sou VÍTIMA, se compro um livro LEITOR, se ouço rádio OUVINTE. Para o Ibope sou ESPECTADOR, para apresentador de televisão TELESPECTADOR, no campo de futebol TORCEDOR.
Se sou corintiano, SOFREDOR. Agora, já virei GALERA. (se trabalho na ANATEL, sou COLABORADOR) e, quando morrer... uns dirão... FINADO, outros... DEFUNTO, para outros... EXTINTO, para o povão... PRESUNTO... Em certos círculos espiritualistas serei... DESENCARNADO, evangélicos dirão que fui... ARREBATADO...
E o pior de tudo é que para todo governante sou apenas um IMBECIL!!!
E pensar que um dia já fui mais EU.
(*) Publicado In: Cronicamente crônicas.
 

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