sexta-feira, 31 de julho de 2020

Qualificação do Doutorado em Saúde Coletiva de Vanessa Menezes


Aconteceu na tarde de ontem (30/07/2020), quinta-feira, de forma remota, em Plataforma virtual, o Exame de Qualificação de Doutorado de uma minha orientada do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará (PPSAC-UECE).
A banca examinadora, composta por Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Ricardo Pereira Silva, Geziel dos Santos de Sousa e Thereza Maria Magalhães Moreira (suplente), aprovou o projeto de Tese “Internações por condições sensíveis à atenção primária relacionadas à hipertesão em mulheres: uma análise dos gastos hospitalares como subsídio à implementação de políticas públicas de gestão em saúde”, apresentada pela doutoranda VANESSA BARRETO BASTOS MENEZES.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor do PPSAC-UECE

Crônica: "Por que é que tu bebe, enjoado?" ... e outro causo


Por jornalista Tarcísio Matos
Por que é que tu bebe, enjoado?
Conheci um Nonato Raimundo, bodegueiro, que se gabava de nunca haver vendido fiado. E um Assis de Francisco, coveiro autônomo afamado, que se jactava de jamais haver comprado sem o dinheiro na frente.
Um dia, porém, ambos se negarão: o bodegueiro vai vender fiado e, pior, o coveiro vai levar sem nunca pagar. Era 31 de dezembro de 1949, exatos 60 atrás. A peleja entre eles começou no dia anterior.
Assis de Francisco, que só pegava em grana quando enterrava um cristão, chega cabreiro à bodega de Nonato Raimundo. Placa enorme na parede o encabula: "Não vendemos fiado. A bêbado, muito menos!".
O coveiro, quase um mês sem morrer ninguém na cidade, anda pra lá e pra cá. Quer pedir pra levar umas coisinhas, pagar amanhã: quilim de feijão, terça de querosene e o impreterível litro de cachaça.
- Tô canso de dizer que num vendo fiado, Assis!
- O povo lá em casa tão fomento. Um mês sem enterrar ninguém!
- Pois espere morrer um e venha comprar à vista!
- Dona Mundola deve bater a caçuleta de hoje pra amanhã, macho! Pego dinheiro adiantado e venho pagar. Considere aí!
As palavras tocam fundo o coração de Nonato Raimundo. Quer por sua mãezinha, por quem valeria o sacrifício. Quer por Assis, sem fama de velhaco. Quer por Mundola, que tava mesmo morre num morre.
Resolve, enfim, vender fiado. Mas pede garantias ao freguês. Assis as concede: Mundola moribunda, partindo desta, ao sexto badalar do sino da igreja, podia esperar que ele riscava na bodega com a bufunfa.
Dito e feito. Beirava 5 da manhã quando o sino da matriz soou blim-blom, blim-blom... Nonato, agora aliviado, abre as portas do seu comércio (à beira do cemitério), doido pra ver o cortejo fúnebre passar. Está já na calçada.
Lá vem o corpo na rede, faz cara de lamento pelo defunto. Certifica-se de que receberá o que lhe é devido, perguntando: "Quem é o morto aí, colega?"
- O coveiro Assis de Francisco, tadinho! Morreu de beber cana!
Imagina se não fosse!
Após oito anos no poder, de direito, Parente pleiteava mais quatro. Mas não confiava sequer na mulher pra substituí-lo na Prefeitura. Quem o sucederia? Se na família não encontrava nome à altura, o que dizer lá fora!
Pensou no padre, mas até o Papa mandar resposta de Roma! Pensou em importar de São Paulo alguém de gabarito. Foi que num sonho com Getúlio Vargas uma voz indicou João Silibrino, caseiro de sua fazenda.
Empreitada simples: o candidato e futuro prefeito só deveria balançar a cabeça daqui pra lá, quando fosse pra dizer que sim, e de lá pra cá, quando não. Enfim, 80% disseram 'sim' ao indicado de Parente.
O velho coronel, enfim, está no terceiro mandato. A João Silibrino cabe deixar os netos do prefeito de fato na escola; sua função é tirar o leite do gado, atender telefone. Falando nisso, o telefone tocou e o caseiro...
- Como? Tão anarquizando o prefeito na praça? Peraí!
João, mão na boca do fone, fala com Parente, na mesa, almoçando...
- Prefeito, tem uns povo na praça chamando o senhor de ladrão!
- Ladrão? Eu? O prefeito aqui é João Silibrino. Vá lá e se defenda!
- Tá bom, eu vou. Mas pode ser depois de encher os potes, dotô?
Fonte: O POVO, de 6/08/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Live: A União dos Esforços para uma Saúde Global e Regional



A Empresa Jornalística O Povo, com apoio do Governo do Ceará, convida para a Live: A União dos Esforços para uma Saúde Global e Regional, como parte do Projeto Nova Saúde.
Participam, como convidados, os professores Juliana de Paula e Marcelo Gurgel, e com apresentação das jornalistas Camila Holanda e Catalina Leite.
A transmissão acontecerá amanhã (31/7/2020), às 15 horas, no Facebook de O POVO Online.

LIÇÕES DA QUARENTENA


Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Em plena quarentena, observei, diante de minha casa, sete homens flanando, como diziam os escritores na Paris da Belle Époque. E lhes perguntei: "Vocês assim, sem máscaras, passeando livremente em meio ao isolamento social não têm medo do coronavírus?". Um deles, talvez o líder do grupo, respondeu: "Essa doença eu não pego, porque tenho fé em Deus".
O fato me fez lembrar o mestre de obras João Severo, encarregado-mor das construções do Farias Brito de antigamente. Indaguei-lhe: "As aulas do Colégio serão reiniciadas na próxima segunda. Em que dia será o fim da reforma?". Ele, na simplicidade do seu linguajar, me disse: "Se Deus quisé, no sabo, nós termina". Então, fiz a provocação: "E se Deus não quiser?". O mestre virou filósofo: "Aí né bom nós questioná não".
Depois desses dois episódios e de outros casos, preocupa-me o enfrentamento da pandemia, principalmente o ataque do vírus àqueles que se dizem, às vezes, pobres, infelizes ou, ainda, excluídos porque "Deus quis". Na realidade, mais correta é a fala do professor Luís Carlos Landim ao dizer: "Os planos de Deus se realizam quando você os torna seus".
Bill Gates, financiador de potenciais vacinas contra a Covid-19, impressionou-se ao saber que em muitos países algumas crianças têm como causa mortis a diarreia. Ao ler sobre o assunto em um artigo, sua mulher, Melinda Gates, afirmou: "Isso é inacreditável. Se meus filhos têm esse sintoma, eu vou à farmácia ou os levo ao médico, e a situação fica resolvida". O casal dedicou-se à resolução do problema e salvou muitas vidas.
Afinal, de quem é a culpa de tantas mortes injustas? É do Ser Supremo? É do presidente, do governador, do prefeito? Não. É de toda a sociedade, onde também estamos inseridos.
Aproveitemos, pois, este período de pandemia, com o aumento do índice de solidariedade mundial, para que as atitudes entre seres humanos sejam cada vez mais fraternas. Não precisa ser tão rico, quanto Bill Gates, ou diligente, como João Severo, para ser capaz de um gesto de doação. Até um abraço amigo, nos dias em que pudermos, é de grande valor, irrefutável lição da quarentena. 
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 4/06/20. p.16.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

O DESAFIO DA MEDICINA EM TEMPOS DE COVID-19


Por Weiber Xavier (*)
Se de médico e louco todos temos um pouco", nesse caos da pandemia muitos pacientes se apoderaram da ansiedade e começaram a interpretar e solicitar exames por conta própria, a se automedicarem além de estabelecer diagnósticos pelo "Dr. Google". A comunicação da ciência acelerou durante a pandemia, o que é bom e desafiador. A troca de informações científicas é realmente útil, fantástica e facilitada pela tecnologia. No entanto, muitas pesquisas ruins e fake news foram publicadas por "especialistas do Twitter" ou de outras mídias sociais.
A Covid-19 teve um tremendo impacto na prática da Medicina. Com muitos consultórios fechados e sem aulas presenciais nas faculdades a possibilidade da telemedicina terá um impacto não só na prática, mas na formação médica. Como ficarão os congressos médicos que antes reuniam milhares em centro de eventos? Como obter educação e divulgar informações confiáveis?
A Covid levou ao rápido movimento para a telemedicina, embora a sua adoção varie por especialidade médica. A tecnologia de vídeo permite várias interações médicas de diversas especialidades na visita de um paciente. A tecnologia de vídeo poderá, por exemplo, oferecer uma oportunidade para as universidades entrevistarem um grupo mais diversificado de candidatos residentes sem o ônus e o custo da viagem. Entre algumas desvantagens digitalizar um consultório requer esforço e treinamento, tarefa especialmente mais difícil para pessoas com mais idade e dificuldade com novas tecnologias.
Se por um lado a telemedicina aproxima e facilita o acompanhamento dos pacientes, por outro corre o risco de extrapolar o limite entre um contato e outro. Os limites imprecisos e dificuldade em estabelecê-los de forma ética e com qualidade no atendimento é um desafio no atendimento por telemedicina. As plataformas gratuitas WhatsApp e Zoom não são as melhores opções, já que não garantem o sigilo das informações. Os softwares médicos especializados na área, necessários para garantir o sigilo das informações têm um custo extra.
Convém lembrar que nenhum teste é perfeito e ainda não se tem uma terapia efetiva específica comprovada contra o coronavírus. Desde os tempos hipocráticos a arte médica é difícil e um tutorial de 30 minutos não o tornará apto a exercer a profissão médica. São tempos desafiadores, mas, certamente, encontraremos sempre um médico junto ao leito do doente.
(*) Médico e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/6/2020. Opinião. p.15.

terça-feira, 28 de julho de 2020

E SE FOR VERDADE?


Por Rev. Munguba Jr. (*)
Existem homens nos bastidores da história que governam o planeta.
Estes homens, nas trevas, tentaram impedir a chegada de Donald Trump a Casa Branca e a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Manipulam pessoas na ONU, OMS e Wall Street.
Os Estados Unidos estão investindo tempo e recursos para que a nação retorne aos valores cristãos. Trump se aproxima cada vez mais da Coreia do Sul, do Brasil e de Israel, inclusive, iniciando a transferência da embaixada em Tel Aviv para Jerusalém.
Esses homens por trás da história objetivam desconstruir todos os valores judaico-cristãos, levando à polarização de uma sociedade que se divide em classes e camadas, visando diminuir a força da população.
O cristianismo prega que todos somos iguais e devemos cultivar a unidade que nos fortalece. A força de todos é a soma de cada coração que se multiplica na unidade.
Há um plano de conquista e de controle mundial da população e dos mercados. Enquanto o mundo está em quarentena a China avança a passos largos para o controle financeiro do planeta.
Eles precisam destruir urgentemente o presidente Trump e o presidente Bolsonaro.
Os Estados Unidos são a maior potência mundial e o Brasil é o celeiro do mundo. Temos a maior reserva de água do planeta e a maior extensão territorial de terras agriculturáveis.
O profeta Daniel interpretou a visão do rei Nabucodonosor que descreveu uma grande estátua formada por diferentes materiais. A cabeça era de ouro, que significa o primeiro reino, o reino da Babilônia com Nabucodonosor e Belsazar. O peito e braços de prata falam do segundo reino que foram os Medos e Persas com Ciro II até Dario III. O ventre e coxas de bronze falam do terceiro reino que foi a Grécia com Alexandre, o Grande. As pernas de ferro falam do quarto reino que foi o forte Império Romano. Os pés de ferro e barro são o quinto reino. Ferro e barro não se unem e por isso juntos são frágeis.
Será que falamos da União Europeia? Será que falamos do ferro e do barro que se separam? Será que eles serão o último grande governo mundial? A União Europeia está ruindo?
Se a União Europeia for o último reino isso significa que estamos vivendo um tempo chamado tempo do fim. 

(*) Pastor Munguba Jr. Embaixador Cristão da Coreia do Sul Para a Implantação da Oração da Madrugada e Erradicação da Pobreza no Brasil.

Fonte: O Povo, 9 de maio de 2020. Opinião. p.16.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

TUBERCULOSE E COVID-19: a busca da cura


Por Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg (*)
Segundo Stefan Cunha Ujvari, os agentes infecciosos já circulavam no animal ancestral comum que deu origem ao Homo sapiens e ao chimpanzé. Portanto, as doenças causadas por vírus, bactérias e parasitos acompanham a nossa espécie desde que surgimos, há 200 mil anos, na África Oriental. Adquirimos outros microrganismos, enquanto caçadores e coletores, e outros mais quando descobrimos a agricultura e domesticamos os animais. Os microrganismos se espalharam pelo globo nas migrações dos humanos. Hoje, sabemos como eles surgiram e o percurso que fizeram na carona dos sapiens, através do estudo do DNA e RNA.
A tuberculose (tísica) já acometia ancestrais humanos antes do nosso surgimento. Descobertas em Djibouti, um pequeno país da África Oriental, revelam que formas de bactérias que causam a tuberculose foram precursoras da atual Mycobacterium tuberculosis. Era senso comum que o M. bovis, presente no gado, havia infectado os humanos com a domesticação desses animais. Hoje, essa teoria caiu por terra com a descoberta das bactérias de Djibouti, e com trabalhos que comparam a sequência genética das micobactérias, colocando o M. bovis como umas das últimas a evoluir.
A tuberculose, diferentemente da Covid-19, é doença milenar. Sua origem se perde nas noites do tempo, como dizia Rosemberg. Cientistas encontraram em múmias egípcias o DNA do bacilo da tuberculose. Conhecida como tísica, ela já atingia os egípcios desde a unificação do Alto e Baixo Egito.
Referências históricas mostram que, há três mil anos, havia tentativas de tratamento para a tuberculose, nas civilizações hindu e persa. Hipócrates, Galeno e as escolas de Cós e Cnide, na Grécia; de Alexandria, no Egito; de Salerno, na Itália e Montpellier, na França, preconizavam o repouso e a alimentação para curar a tísica. Até a primeira metade do século XX, esse tipo de tratamento, com o nome de higienodietético, foi fartamente utilizado.
Avicena e Averoes tratavam os tísicos com rosas vermelhas moídas e espalhadas no quarto. Outra receita era forrar o chão com pétalas de rosas vermelhas e ramos de plantas aromáticas, sobre os quais o tísico deveria passear o maior tempo possível. Galeno propôs aos tuberculosos viverem em quarto subterrâneo, de temperatura amena, sendo o assoalho coberto de rosas. (Rosemberg, 1999).
A hemoptise, sintoma mais dramático da tuberculose, era tratada com infusões de: repolho, pó de casca de caranguejo, pulmão de raposa, fígado de lobo em vinho tinto, entre outras bizarrices. Avicena (c.980-1037) receitava infusão de rosas vermelhas em mel, por via traqueal. Erasistro e Europhilus receitavam, para as grandes hemoptises, garrotes nos braços e coxas. (Rosemberg, 1999).
O leite foi preconizado durante quase três mil anos. Desde as civilizações antigas, hindu e persa, até o século XIX, o leite preferido foi o de jumenta, mas também o leite de cabra, de fêmea de elefante e de camelo eram usados. Para Avicena, os homens tísicos deveriam tomar leite de mulher jovem e bela.  Na renascença, Petrus Forestus preconizava leite fresco de mulher. O ideal era ser sugado diretamente da mama de uma jovem lactante. Não havia nada mais erótico e romântico. Na mesma época, indicava-se temporadas em Veneza, com passeios diários de gôndola ao som de canções eróticas.
Para dispneia e tosse crônica, há receitas persas recomendando comer crocodilo cozido. Por volta de 75 d.C., Dioscórides receitava resina de múmias egípcias com mel. Esse tratamento, que foi empregado por séculos, era caríssimo e só pacientes muito ricos tinham acesso. Os reis da França Luís XIII e Luís XV, tuberculosos, foram assim tratados.
Do "septeto da panaceia", sangria, purgativos, ventosas, vesicatórios, eméticos, sanguessugas e clisteres, indicados para todos os males, somente o sétimo não fez parte do tratamento usado na tuberculose. A sangria, preconizada por Galeno, foi fartamente praticada até o final do século XIX.
Bayle e Sydenham recomendavam alterar o repouso com cavalgadas. Louis XIII foi submetido ao tratamento em voga. O filho de Napoleão Bonaparte, L’Aiglon, foi consumido pelo bacilo de Koch, aos 21 anos, no Palácio de Schönbrun, em Viena-Áustria. Ele era obrigado a montar a cavalo por horas e, depois, tomar banho em emulsão de tripas de porco. A favorita de Luís XV, a famosa marquesa de Pompadour, imortalizada em uma magnífica tela de Natier, que pode ser apreciada no museu do Louvre-Paris, era tuberculosa. Tratou-se com sangrias, exercícios violentos e leite de jumenta.
Em meados do Século XIX, receitava-se para tuberculose opiáceos, ferruginosos, creosoto, pomada de iodeto de potássio nas axilas, exercícios, sanguessugas, sangrias, bálsamo de Peru e musgo da Islândia. A Dama das Camélias e Chopin foram submetidos aos tratamentos descritos acima. Surgiu também, no século XIX, a mística do ar das montanhas. Sanatórios foram criados em toda Europa, EUA e no Brasil, entre outros países. Um dos mais famosos foi o Sanatório de Davos, na Suíça, imortalizado no livro “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. No Brasil, os Sanatórios de Campos do Jordão-SP foram enaltecidos no livro de Dinah Silveira de Queiroz, “Floradas na Serra”.
Todos esses tratamentos eram inócuos. Muitos bárbaros e nocivos, mas nenhum causou a mortandade que causou, por ironia, a tuberculina (cultura do bacilo da tuberculose), de Robert Koch, o descobridor do agente causal da doença. Em 1891, Koch publicou o artigo "Sobre um remédio para a cura da tuberculose". A notícia de um medicamento milagroso espalhou-se por toda a Europa e EUA com uma rapidez estonteante. O preço foi para as alturas. Cobrava-se mil dólares por centímetro cúbico do novo medicamento. Logo percebeu-se que a tuberculina causava agravamento das lesões e mortes. Koch foi massacrado. Desculpou-se dizendo que havia sofrido pressão do governo alemão para anunciar suas pesquisas. Em 1882, Carlo Forlanini, italiano, criou a colapsoterapia (pneumotórax). Foi o primeiro tratamento racional até a descoberta da moderna quimioterapia, na década de 1940.
A Covid-19, com apenas sete meses de vida, já coleciona uma lista de medicamentos. Até que surja um tratamento comprovado cientificamente, muitas pessoas usarão, em vão, fármacos antimaláricos e ou vermífugos sem comprovada eficácia, na busca insana de curar essa nova doença que assola a humanidade.
Fortaleza, 18 de julho de 2020
(*) Médica e historiadora. Da Sobrames Ceará e da Academia Cearense de Medicina
* Publicado In: Jornal do médico digital, 1(3): 56-9, julho de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).
Postado no Blog Ana Margarida-Memórias em 26/7/2020.

domingo, 26 de julho de 2020

A COVID-19 E A INDÚSTRIA DA SAÚDE NO BRASIL


Mostraram-se infundadas as previsões esboçadas no começo do ano de 2020 por autoridades e infectologistas, divulgadas nas mídias, de que não se reproduziriam em nosso País as preocupantes taxas de incidência e de letalidade por Covid-19, verificadas em alguns países europeus (Bélgica, Itália, França, Espanha e outros). Para eles, atuavam a nosso favor o clima da Terra Brasilis, inóspito ao aconchego do novo coronavírus, e a existência do Sistema Único de Saúde (SUS), considerado, de forma ufana, o maior e o mais abrangente sistema de saúde entre as nações com mais de cem milhões de habitantes.
Pesarosamente, esse otimismo inicial não se concretizou. A Covid-19, que nos idos de julho em curso já acumula uma cifra que se aproxima de dois milhões de casos e de mais de 70 mil óbitos no Brasil, afetou duramente a economia nacional, quando esta se encontrava em processo de recuperação, e exibiu a vulnerabilidade da prestação de cuidados de saúde, tanto públicos como privados, ao tempo em que se assistiu a um ingente esforço de superação das dificuldades para o enfrentamento da pandemia.
A presente pandemia foi uma situação atípica, que nenhum país do mundo estava preparado para enfrentá-la, mesmo os mais desenvolvidos. Porém, ela ganhou contornos mais graves no Brasil, dentre outros motivos, em função da deficiência da indústria da saúde brasileira, ainda muito à mercê do mercado internacional.
A dependência de insumos produzidos no exterior, a insuficiência de um parque industrial voltado para a saúde, a inexistência de uma rede de atendimentos para suprir a contento a demanda usual e as desigualdades, geográfica e social, na distribuição de recursos de saúde figuram no rol dessas dificuldades.
Diante da inusitada e súbita pressão de demanda, com a crescente avalanche de pacientes procurando atendimentos na rede de saúde, de certo modo estagnada, porquanto os tíbios investimentos em saúde dos últimos decênios sequer acompanharam o pouco crescimento demográfico experimentado, ao tempo em que o SUS precisou, gradualmente, acomodar parte da nossa população então marginalizada da assistência médica. Essa penúria foi agravada pela mudança do perfil epidemiológico dos brasileiros, retratado no avanço de doenças de maior complexidade e de custos mais exacerbados.
O montante de leitos ativos disponíveis, que já não era suficiente para cobrir as necessidades de internamentos antes da pandemia, requeria a sua pronta ampliação, sendo premente a expansão dos leitos de Unidades de Terapia Intensivo (UTI), cujo histórico de carência era bem sabido, uma vez que se estimava que cerca de 5% dos pacientes com a Covid-19 que chegassem aos hospitais necessitariam ocupar um leito de UTI.
Os gestores de saúde, ancorados na recomendação de se buscar o achatamento da curva epidêmica, protraindo a chegada volumosa e simultânea de casos, precisavam engendrar mecanismos para expandir a oferta de serviços e de leitos especificamente destinados aos cuidados de pacientes acometidos de Covid-19.
Essa expansão de oferta fez-se pela incorporação de leitos, novos ou habilitados, e pela realocação do estoque de leitos existentes, reservando-os, com exclusividade, à Covid-19. O Ceará vem reagindo de maneira rápida e eficiente, na medida do possível, mas também soma alguns equívocos, como a criação do hospital de campanha em estádio de futebol. O Município de Fortaleza gastou uma dinheirama em algo que demorou a ficar pronto, não é definitivo e vai demandar mais recursos para recuperar o que era antes. Melhor seria ter requisitado mais hospitais que estavam ociosos, como o governo estadual fez com o Hospital Leonardo da Vinci que, inclusive, vai ajudar a reforçar o atendimento no pós-pandemia.
No caso dos leitos de UTI, a complicação era amplificada, não se limitando a espaço físico e instalações, uma vez que determinava a aquisição de equipamentos médicos mais sofisticados e caros e se cobrava a contratação de pessoal qualificado para operar esses instrumentos.
Ainda que a Covid-19 seja uma enfermidade de repercussão sistêmica em pacientes mais graves, a insuficiência respiratória era aspecto clínico dominante e indicativo de gravidade, sendo um forte fator preditivo para o desenlace fatal. Para isso, era mandatório dispor de respiradores para assegurarem a ventilação mecânica dos pacientes, concedendo-os mais chances de sobrevivência se recebessem esse tipo de assistência médica.
Como não havia suficiência de estoques de respiradores para pronta entrega no mercado nacional e a fabricação desse produto demanda tempo, as autoridades dos poderes executivos e os gestores de saúde do Brasil apelaram para a importação de respiradores no mercado internacional, bastante oligopolizado e concentrado, em uma acirrada e desigual disputa entre países assustados com o avançar da Covid-19 em seus cidadãos, quando se parecia evocar o suposto adágio bíblico “Mateus, primeiro os teus”, com retenção de equipamentos comprados pelos concorrentes ao pousarem em seus territórios, bem como abusar de outras práticas comerciais nada recomendáveis, a exemplo de ágio para garantir a preferência de compra.
A situação brasileira era ainda mais constrangedora por razões internas, dado que a intermediação comercial feita, em parte, por certos “atravessadores” inescrupulosos e, talvez, até em conluio com alguns gestores públicos, redundou em preços com enormes variações e em aquisições de respiradores com valores exorbitantes, com claros indícios de superfaturamento. Tal anomalia resultou do “aproveitamento” da decretação da calamidade pública, quando temporariamente foram suspensos mecanismos criteriosos de controle das compras públicas, flexibilizando e simplificando os processos licitatórios, o que inclusive permitiu o acolhimento de propostas que tiveram pagamentos antecipados e sem a contrapartida do recebimento da mercadoria adquirida.
Esses entraves relativos à incorporação de respiradores foram parcialmente contornados pelos ingentes esforços para incrementar a produção desses aparelhos, quando os fabricantes aumentaram a capacidade produtiva e outras empresas fizeram adequações em suas linhas de produção e passaram também a fabricar respiradores.
A associação entre a academia e os serviços de saúde tem suscitado respostas animadoras, tanto em simplicidade como em custos de produção e, de forma criativa, tem resultado em protótipos de respiradores, que podem entrar em linha de produção em escala industrial, a exemplo do “Elmo”, um respirador fruto da parceria envolvendo a Universidade de Fortaleza, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará e a Escola de Saúde Pública do Ceará. Houve também um avanço principalmente na articulação para soluções caseiras de produtos, sobretudo, os mais simples, como EPIs (máscaras, aventais etc.).
No atual cenário cearense da Covid-19, em que prevalece o declínio da ocorrência epidêmica em Fortaleza concomitante à sua expansão interiorana, as compras de novos respiradores já são prescindíveis, comportando mais, no presente, pôr em marcha processos de referência e de contra-referência de pacientes e/ou a efetivação de remanejamento desses aparelhos da capital para locais compatíveis e onde se façam mais necessários.
Nesse tocante, é oportuno salientar que a singular Unimed Fortaleza, tendo ultrapassado os momentos mais críticos da pandemia, cedeu, à guisa de empréstimo, respiradores para a sua congênere de Teresina, que ora vem se deparando com o avanço do novo coronavírus entre os seus beneficiados do Piauí.
Embora de menor visibilidade pública, aconteceram transtornos na disponibilidade de testes diagnósticos e de medicamentos complementares (antibióticos, anti-inflamatórios, miorrelaxantes, anestésicos etc.) usados no tratamento da Covid-19, posto que a fabricação endógena dos mesmos depende do fornecimento de insumos e sais que são importados, sendo a eles impingidos dissabores decorrentes da competição internacional em que a escassez frente à demanda hiperbólica por esses bens contamina seriamente a livre concorrência do mercado.
Para uma reestruturação mais sólida da indústria da saúde há um longo caminho pela frente, porém algumas mudanças já podem ser verificadas na cadeia produtiva da saúde no Ceará. Com efeito, uma maior articulação entre Governo, pesquisadores e empresas também tem viabilizado o desenvolvimento de novos produtos. Assim é que a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) lançou, recentemente, um edital com uma linha emergencial específica para Covid-19, ofertando investimento da ordem de R$ 2,4 milhões, para projetos que contemplem soluções para área da saúde.
Está-se, na verdade, distante de uma solução definitiva, porém já não se permanece no mesmo patamar anterior. Há muito ainda a progredir para diminuir essa dependência, notadamente de insumos; contudo a pandemia evidenciou, com certeza, a importância de se ter um foco mais apurado para indústria da saúde no Brasil.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico-sanitarista e economista da Saúde
* Publicado In: Jornal do médico digital, 1(3): 60-4, julho de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).

Publicação de “POLICROMIAS – Volume 11”



Ao contrário dos anos anteriores, e em virtude da pandemia por Covid-19, a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Coordenadoria do Ceará (AJEB-CE), não fará o lançamento de Policromias – Volume 11, livro que contém a colaboração de dezenas de autores, tendo por temática principal o perfil de grandes escritores, nacionais e estrangeiros, dentre os selecionados pela AJEB-CE.
A obra, publicada pela RDS Editora, foi oorganizada pelas professoras e escritoras Giselda Medeiros e Ana Paula de Medeiros Ribeiro. Cotas dos exemplares estão sendo distribuídos agora entre entre os participantes da presente antologia.
Compareço na coletânea em apreço com o ensaio “Franz Kafka: uma síntese de suas vida e obra”, disposto nas páginas 134 a 146.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames/CE, ACEMES e ABRAMES

sábado, 25 de julho de 2020

Governador Camilo Santana assina decreto que regulamenta Fundação de Saúde do Ceará


Por Antonio Cardoso e Martina Dieb
O governador Camilo Santana assinou, na manhã desta sexta-feira (24), no auditório da Secretaria da Saúde, o decreto que regulamenta o funcionamento da Fundação de Saúde do Ceará (Funsaúde). Por conta dos protocolos impostos diante da pandemia de coronavírus a solenidade foi fechada, mas transmitida pela internet. Assinaram, além do governador, o secretário da Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto) e o procurador-geral de Justiça do Estado, Manuel Pinheiro.
Minha presença aqui na Sesa não foi por acaso. Vim para demonstrar minha gratidão e reconhecimento a todo o trabalho que os profissionais de saúde do estado do Ceará têm realizado. Têm sido heróis não só nessa pandemia, mas ao longo de todos os anos para salvar vidas e cuidar dos nossos irmãos e irmãs cearenses”, disse o governador.
A criação da Fundação de Saúde do Ceará, de acordo com o governador Camilo Santana, tem como principal objetivo melhorar o acesso dos cearenses ao sistema público de saúde. “Isso tudo tem sido feito de forma organizada, planejada, estruturada e por lei. É um legado que ficará para o estado do Ceará. Uma coisa para funcionar bem, precisa ser bem planejada, bem definida, com indicadores e metas. Somos hoje referência na área da educação por conta dessa estruturação e é o que estamos construindo também na área da saúde”, ressaltou Camilo. “Vamos lutar muito para fazer do Ceará um estado referência na atenção da saúde no Brasil. Não tenho dúvida que conseguiremos com essa equipe, com os profissionais que temos, com estruturação, organização e planejamento. Essa Fundação terá a capacidade de organizar melhor esse processo no estado do Ceará”.
A Fundação de Saúde do Ceará será responsável por gerenciar os serviços assistenciais do Ceará e passa a vigorar a partir da publicação do decreto no Diário Oficial do Estado (DOE). A Fundação tem por finalidade desenvolver e executar de forma regionalizada, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), ações e serviços de saúde estaduais. “Em Crateús, por exemplo, não tinha uma UTI para o paciente fazer cirurgia, obrigando a se deslocar para Sobral ou Fortaleza, a ideia da reorganização é que 90% das necessidades de saúde do cidadão sejam resolvidas na sua região. O Ceará foi dividido em cinco macrorregiões de saúde, então cada uma, até o final do nosso governo terá pelo menos um hospital de alta complexidade funcionando”, assegurou o governador, ressaltando também a universalização do Samu no Ceará. “Todas as ações têm o objetivo de fazer com que o cidadão não precise se deslocar 300 quilômetros para ser atendido”.
Ainda durante fala na solenidade de assinatura o governador antecipou que em breve será anunciado concurso público para a Fundação. “Profissionais serão selecionados publicamente para cumprir a sua missão nos hospitais, nas policlínicas, em toda a estrutura de saúde pública do Ceará. Estamos dando passos importantes e esse momento de pandemia mostrou muitas cicatrizes de desigualdades no país. Vivemos num país que é um dos mais desiguais do planeta. Essa pandemia mostrou essa realidade, assim como mostrou a importância do Sistema Único de Saúde. Mais de 80% da população cearense utilizam o SUS”.

Reconhecimento

A assinatura do decreto de criação da Fundação representa para os profissionais da saúde do Ceará, a certeza de dias melhores. A avaliação é do secretário estadual da Saúde, dr. Cabeto. “O Estado tem procurado pensar nas pessoas, colocar vidas em primeiro lugar. Então, desde o começo, quando se iniciou esse trabalho e foi apresentada a plataforma de modernização da saúde, o Governo expôs que estava preocupado com aqueles que fazem o sistema e esses são os profissionais da saúde. O Estado tem dado demonstrações inequívocas que se preocupa com eles e, principalmente com os usuários, aqueles que precisam de acesso e empatia no momento de sofrimento. Desde o começo temos a convicção que o Ceará vai sim fazer o melhor sistema de saúde do Brasil. Isso não é megalomania”, apontou o secretário.
Estamos no curso de uma pandemia de proporções internacionais. Tudo está sendo construído com a liderança do governador que transformou o Ceará em um dos estados mais harmônicos na relação entre a ciência, a epidemiologia e as decisões políticas. Isso marca um momento muito diferente da saúde. Para nós que fazemos a saúde do Ceará é extremamente gratificante. Agradeço a todos que fazem a saúde do Ceará. Essas pessoas são absolutamente imprescindíveis, têm se transformado no cada dia. Têm enfrentado mudanças no seu ambiente de trabalho, saído da caixinha. É um esforço muito importante e a Fundação consolida isso”, concluiu o secretário estadual da Saúde, dr. Cabeto.
O procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro, parabenizou pela forma que o Estado vem atuando diante da pandemia de coronavírus. “Faço de público o elogio pela condução desta que é uma das maiores crises humanitárias do Ceará, do Brasil e uma das maiores do mundo. É confortante ver que as decisões tomadas na área da saúde foram responsáveis, baseadas na ciência, sensíveis aos impactos econômicos e sociais pelas medidas que tiveram de ser adotadas, mas todas necessárias para poupar vidas de cearenses”, avaliou. “Tivemos momentos de tristezas, com muitas perdas e sofrimento, mas de tudo isso vai ficar o legado e a criação da Fundação faz parte desse legado, assim como a instalação de vários leitos de UTIs no Interior do estado. Vai ficar para o povo do Cerá um atendimento muito mais qualificado pelos investimentos que foram feitos nesse momento de pandemia”.

Modernização

A Fundação de Saúde do Ceará colocará em pleno funcionamento a regionalização da saúde do Ceará, uma das ações previstas na Plataforma de Modernização da Saúde lançada em agosto de 2019. Com o gerenciamento gradual dos serviços assistenciais, a Fundação permitirá o fortalecimento das cinco Regiões de Saúde, possibilitando que o Estado exerça o papel de coordenador do SUS estadual e possa distribuir as competências entre a administração direta e a indireta.
Sob a coordenação da Sesa, a Fundação de Saúde do Ceará terá como função apoiar os municípios na execução dos seus serviços regionais de saúde e a Comissão Intergestores Regional em sua governança interfederativa regional, uma vez que as regiões de saúde não possuem personalidade jurídica.
Para isso, contará com unidades descentralizadas – as agências regionais de saúde – nas regiões de saúde do estado, para apoiar as atividades técnico-administrativas necessárias à boa atuação da região para garantia de serviços à população, com o apoio da Sesa como autoridade regulatória

Competências

A Fundação tem, entre outras atribuições, prestar serviços de saúde à população em todos os níveis de complexidade próprios do Estado; prestar apoio aos municípios e consórcios públicos de saúde em serviços de assistência à saúde de âmbito regional; desenvolver programas de educação permanente de forma regionalizada para os profissionais de saúde do SUS; coordenar as atividades regionais da central de regulação assistencial; monitorar o cumprimento dos indicadores regionais e dos resultados qualitativos dos serviços regionais de saúde no âmbito do SUS; e desenvolver atividades de caráter científico e tecnológico.
Fonte: Secretaria da Saúde do Estado Ceará / Assessoria de Comunicação.

ELSIE STUDART: sete anos de sua partida


Hoje, o Dia do Escritor, assinala os sete anos da partida deste mundo terreno da Profa. ELSIE STUDART GURGEL DE OLIVEIRA, acontecida em Fortaleza, em 25/07/2013.
No percurso desses sete anos, como indicação de amizade e de apreço, temos procurado manter a sua memória sempre presente, mediante homenagens especiais, publicação de artigos sobre ela e lançamentos de suas obras literárias póstumas.
Ainda temos material bastante para a edição de mais dois ou três livros póstumos, desde que consiga os numerários para custear a impressão dos mesmos.
Isso tem concorrido, também, para minimizar a saudade que nos afeta nesse período da sua ausência física.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Amigo da família Studart Gurgel

sexta-feira, 24 de julho de 2020

FOLCLORE POLÍTICO XXXIX


Abro a coluna com uma historinha de Tancredo Neves
Durante a campanha pelas Diretas Já, em 1983/84, o jornal Folha de S. Paulo transformou o assunto em sua bandeira, até com uma fitinha verde-amarela no alto da primeira página. Noticiário e editoriais davam como garantida a vitória da emenda que devolvia ao país as eleições diretas para presidente da República, depois de 20 anos de ditadura - a emenda Dante de Oliveira. O jornal cantava a vitória e abria fotos do povo nas praças. A contagem a favor só crescia. Seu concorrente o Estado de S. Paulo era mais sóbrio e cauteloso e tinha lá seus motivos. Um deles, um informante especial em Brasília. Ao ser questionado sobre a contagem da Folha, que dava mais de cem votos a favor da emenda, o informante deu uma boa risada ao telefone e completou assim a conversa:
- Meu filho, fique tranquilo, eles não sabem contar.
Era Tancredo Neves.
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

quinta-feira, 23 de julho de 2020

COVID-19 E SAÚDE MENTAL III (MULHERES)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A pandemia do novo coronavírus está afetando as mulheres de várias maneiras, desde preocupações com sua saúde, segurança e renda, até responsabilidades adicionais de assistência e maior exposição à violência doméstica. A violência doméstica, já endêmica em todos os lugares, aumenta acentuadamente quando as pessoas são submetidas a confinamento. Com base em estimativas acredita-se que em alguns países, como afirma a revista médica britânica Lancet, esse tipo de violência cresce de acordo com o número de dias de confinamento.
Outros estudos sugerem que o impacto das quarentenas pode ser tão grave que resulte em um transtorno de estresse pós-traumático, sendo o neologismo feminicídio o ápice da violência contra as mulheres. As mulheres são particularmente suscetíveis à violência durante uma pandemia e entre elas a violência aumentou mais de um terço, seguindo-se as meninas. A morte pela pandemia não é exclusividade apenas dos idosos e dos portadores de diabetes, cardiopatias e hipertensos.
Para não os cansar com números estatísticos, lembro ao leitor e leitora que o plantão da Justiça do Rio de Janeiro registrou nos últimos dias um aumento expressivo no número de assassinatos íntimos. Os casos de violência doméstica no estado aumentaram em 50%. Conferir: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/03/24/violencia-domestica-rj-quarentena.htm?cmpid=copiaecola.
Já em agosto de 2010 numa pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo SESC (Serviço Social do Comércio), numa amostragem de 2.365 mulheres dispersas nas 25 unidades da federação, despontava que em cada 100 mulheres, 5 sofreram agressões físicas. Estamos diante, majoritariamente, de feminicídios íntimos, em que o companheiro, marido, amante, namorado é o autor.Não esquecer que o impacto econômico da pandemia pode criar muitas situações propícias a deixar parceiros mais violentos.
A pandemia provoca um choque profundo na sociedade e não somente para a economia. Em certos casos, como no Brasil, o choque pode vir a ser até político. A vida cotidiana é drasticamente alterada. E enquanto a maioria das pessoas está engajada nas medidas de distanciamento social, as mulheres estão sendo impactadas pelo Covid-19 de maneiras diferentes e menos visíveis. Desde cozinhar e limpar, buscar água e lenha ou cuidar de crianças e pessoas idosas. As mulheres realizam três vezes mais tarefas domésticas e trabalho não-remunerado do que os homens. Cabe, no entanto, a todos os membros de cada família compartilhar o cuidado com as crianças através de ensino à distância ou a pessoas idosas e vulneráveis, além de cozinhar, limpar e administrar a família.
Como a maioria das profissionais da linha de frente da saúde são mulheres enfermeiras, seu risco de infecção é maior. Portanto, embora seja necessário prestar atenção para garantir condições seguras para todas os cuidadores, é necessária atenção especial às mulheres profissionais de saúde, que são 67% deles, não apenas no acesso a equipamentos de proteção individual como máscaras, mas também para outras necessidades, como produtos de higiene menstrual – que podem ser fácil e inadvertidamente ignorados, dado que a maioria das decisões são tomadas por pessoas do sexo masculino.
A violência que está emergindo agora como uma característica sombria dessa pandemia é um desafio aos nossos valores, à nossa resiliência e à nossa humanidade compartilhada. Devemos não apenas sobreviver ao coronavírus, mas emergir renovados, com as mulheres como uma força ainda mais poderosa, no centro da recuperação.
A velha história de que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” deve ser deixada de lado. As mudanças íntimas devem ser elucidadas no interior das mulheres. Atualmente existe um forte movimento que visa a libertação da mulher, mas, em alguns pontos, é necessário que a mulher reconheça esta libertação como uma mudança interna.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

quarta-feira, 22 de julho de 2020

A PRESCRIÇÃO E A AUTONOMIA DO MÉDICO


Por Helvécio Neves Feitosa (*)
A relação entre médicos, insculpida no Código de Ética Médica (CEM), não trata apenas de cortesia entre colegas, muito menos de dispositivos atinentes a regras de etiqueta ou de convivência harmônica entre os que exercem a mesma profissão. Na verdade, o que está em jogo são os melhores interesses dos pacientes, dos seus familiares e da coletividade, razão maior da existência do ato médico.
Embora o médico deva ter, para com os seus colegas, respeito, consideração e solidariedade, isso não o exime de denunciar atos que contrariem os postulados éticos da profissão ou que possam agredir os direitos conquistados na luta pela cidadania ou lastreados pelo respeito à dignidade humana. Não se pode falar em solidariedade de classe quando alguém viola princípios éticos da profissão ou a usa para favorecer o crime. Lançar mão da posição hierárquica de gestor para impedir que seus subordinados atuem consoante o regramento ético da profissão fere mortalmente a deontologia médica. Não se trata apenas de faltas contra companheiros da mesma atividade profissional, mas, acima de tudo, de graves e, potencialmente, irreparáveis prejuízos na condução dos interesses maiores dos pacientes ou da coletividade.
De acordo com o CEM, é vedado ao médico "Desrespeitar a prescrição ou o tratamento de paciente, determinados por outro médico, mesmo quando em função de chefia ou de auditoria, salvo em situação de indiscutível benefício para o paciente, devendo comunicar imediatamente o fato ao médico responsável" (Art. 52).
As interferências no ato médico por superior hierárquico ou auditor, traduzidas por alteração da prescrição de medicamentos, anotações em exames solicitados, críticas às técnicas cirúrgicas realizadas, às dietas, ao internamento e à alta são absolutamente descabidas, ao afrontar a dignidade do profissional e a autonomia tecno-científica de cada médico. A exceção a esse dispositivo resume-se a situações em que exista a evidência de dano ao paciente e, ainda assim, o médico tem o dever de comunicar a ocorrência ao colega responsável. Como exemplo de necessidade fortuita de intervenção, pode ocorrer a situação de prescrição de medicação errada, que coloque o paciente em perigo iminente de morte ou de sério agravo à sua saúde. 
(*) Médico, professor universitário  e Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec).
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/06/2020. Opinião. p.15.

terça-feira, 21 de julho de 2020

NOVAS ROTAS DAS IGREJAS APÓS A COVID-19?


Por Pe. Ermanno Allegri (*)
Em plena pandemia, há gente de igrejas tomada pelo frenesi de "voltar à normalidade". Que normalidade? A missa de sempre, o terço de sempre, as festas de padroeiro de sempre? É isso?
Voltar à vidinha cotidiana pode parecer a escolha mais óbvia e prática. E as igrejas fechadas e o sofrimento sem fim de hoje em dia? Será que Deus está tentando nos dizer algo?
Por que não pensar corajosamente, à semelhança de Jesus, numa igreja que, para além das celebrações, promove a paz, denuncia as injustiças e luta contra a exclusão?
A crise da pandemia tem sua origem num sistema econômico baseado na lógica do lucro. Essa crise é velha, profunda. Está nos destruindo e devorando à luz do dia e não reagimos.
Pior ainda é a aliança que se criou, entre políticos e religiosos. Eles utilizam a imagem de Cristo para legitimar um projeto de morte. Esta cegueira é o terreno fértil onde se alimenta o ódio contra os pobres e o papa Francisco. Cegos, guiando cegos. Por que a gente precisa de tantos cadáveres para compreender o que deveria ser óbvio? Estão exterminando os pobres só "administrando" a Covid-19. Que desafio para o cristianismo!
É urgente acelerar o caminho de reforma indicado pelo papa Francisco. Ele compara a igreja a um "hospital de campanha" para as igrejas entenderem a necessidade de derrubar seus muros e sair ao encontro da humanidade dilacerada.
Na véspera da sua eleição papal, Francisco citou um trecho do Apocalipse em que Jesus está à porta e bate. E acrescentou: "Hoje, Cristo bate a partir de dentro da igreja e quer sair".
Saindo vamos reconhecer o Senhor vivo quando tocamos suas feridas e as feridas da humanidade que Ele assumiu quando nasceu em Belém.
Já não basta as igrejas acolherem "as ovelhas perdidas". O Mestre chama-nos, agora, para ir, junto com ele, para o mar aberto, caminhando sobre as ondas bravas dos conflitos sociais, como Pedro. (Mt 14,22)
Para descobrir uma nova identidade para o cristianismo devemos deixar de lado muitas atividades habituais e voltar essa quarentena à reflexão para perceber como ser sal e luz, a partir das feridas dos nossos bairros e do mundo. Aí, finalmente, podemos responder a questão de fundo: "E agora, o que devemos fazer?".
Assim o centro de nossas preocupações não será a igreja, mas serão os pobres, os presos, os migrantes, os desempregados, os famintos... os crucificados de sempre. (Mt 25,31-40 e Lc 4,16-21). Esta atitude é urgente para dar sentido pleno à eucaristia que não é só o pão e o vinho, mas é também lavar os pés, isto é, assumir sobre si a compaixão pela humanidade.
Para curar estas feridas e criar um mundo de paz, precisamos de milhões de pessoas conscientes, honestas e competentes: uma tarefa gigantesca para as igrejas. Nossa conversão é necessária e urgente para nos juntarmos àqueles que, dentro e fora das igrejas institucionais, já estão sacrificando suas vidas para esta finalidade. Será um processo longo e sofrido, mas "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".
(*) Padre diocesano, coadjutor na paróquia da Tabuba, Caucaia, e do Movimento Igreja em Saída.
Fonte: O Povo, de 10/6/2020. Opinião. p.15.

AS DORES ROMBAS CHEGARAM E TÊM ENDEREÇO


Por Márcia Alcântara Holanda (*)
Atendo o telefone e ouço uma voz embargada, intercalada com choro abrupto dizendo: "Doutora, pelo amor de Deus, onde levo meu pai? Está com a Covid-19: tem falta de ar, as unhas estão arroxeando e o olhar ficando perdido. Me ajude!". Falou Rita - nome fictício de uma antiga cliente.
Num lampejo da mente vi a aflição estampada no rosto daquela filha. Uma dor romba instalou-se em mim, talvez nela e em seu moribundo pai.
As dores rombas são aquelas disformes, que causam extremo mal-estar e aniquilam o ser humano. São as dores, eu diria, da "alma". Atingem pessoas ou sociedades. Elas ocorrem por perdas abruptas de entes queridos, irrealizações de sonhos idealizados, ou por danos que levam ao infortúnio e até desdouro moral. Descrevi uma dessas em 27/09/2016 no O POVO, causada pela prisão truculenta do ex-presidente Lula, condenado como corrupto, na onda de desmantelamento das estruturas corruptoras e corruptíveis que detonaram o seu partido e o levaram de roldão. Doeu porque o mesmo elevara nossa autoestima, durante seu governo, a níveis nunca antes alcançados. Aquele ato nos fez sentir constrangidos pelo desabamento do que havia sido construído, considerando crenças em valores defendidos por ele, e nós, quando o elegemos, um dia. Outras aconteceram depois, como a tragédia de Brumadinho, tolhendo vidas de modo descabido.
Hoje a maior de nossas dores, vem sob a forma do Sars-Cov-2, estrutura molecular, sub microscópica que entra no nosso corpo, introduz-se nas nossas células e as deixam destroçadas, levando seres, ao sofrimento e, muitas vezes, à morte. Entes, parentes, amigos, aderentes e desconhecidos estão indo bruscamente e nos deixando devastados pelas perdas inesperadas. Os números das mortes pela Covid-19 são iníquas, acumuladas aos milhares, com poder aniquilador dessa geração, e que se alastra País adentro. Entretanto a Covid-19, tem controle, por ações como: isolamento social e uso de EPIs, somados à cuidados de higiene pessoal e ambiente, além de suportes médicos individuais e coletivos eficazes.
Para nossa desolação, o Brasil é o quarto país do mundo a ter perdido mais almas nessa pandemia (The Lancet, de 09/05/2020). Nossa autoestima já decaída pela atual e decrépita radicalização política, desarticuladora das organizações governamentais, piorou mais, diante de nossa impotência para com o vírus. Este caminha na trilha das mortes, conduzido pelo presidente Jair Bolsonaro. Na revista acima mencionada, lê-se no editorial: "Covid no Brasil e daí?". No texto encontra-se uma frase, literalmente traduzida do Inglês: "Talvez a maior ameaça à resposta do País à epidemia da Covid-19, seja seu presidente, Jair Bolsonaro".
Portanto, as dores rombas chegaram aos borbotões. Têm autores e endereços. É preciso um basta!
P S. Ao final desse texto, Rita me comunicou que internara seu pai a tempo de salvar-lhe a vida. 
(*) Médica pneumologista; coordenadora do Pulmocenter; membro da Academia Cearense de Medicina.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/5/2020. Opinião. p.14.
 

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