domingo, 29 de agosto de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XVIII

UM INFLEXÍVEL
"Excelsior", de Santiago, de 15 de novembro de 1925.Em palestra com o encarregado dos Negócios do Chile, D. Miguel Rocuant, dizia-lhe o presidente Artur Bernardes, sobre o seu governo:
- Quando se me apresenta um assunto, começo a estudá-lo só e a fundo, ajudado pela minha experiência; depois, reúno meus amigos, especialmente os de maior preparo na matéria; ouço as suas opiniões, analiso-as, observo ou aceito e, por fim, adoto a resolução que mais diretamente contribua para realizar o que aquele assunto exige do Governo. Tomada, assim, depois de longos e minuciosos estudos, uma resolução, levo-a à prática sem atender, na maior parte das vezes, nem ao artigo do jornal da oposição, nem ao discurso do deputado adversário da minha política, porque sei que nem o jornalista, nem o orador se deram ao trabalho de estudar, tão seriamente como eu e meus amigos, o assunto de que se trata. Esta é uma das razões da inflexibilidade das minhas resoluções de Governo.
A ESPOSA DE CAMPOS SALES
Antônio Ribas - "Perfil de Campos Sales", pág. 21.
Dona Ana Gabriela de Campos Sales, esposa do grande estadista que chegou à presidência da República, foi o melhor incentivo para a luta que travou, durante a propaganda, o grande cidadão. Entusiasta do novo regime, andava a ilustre senhora ao par de todos os planos de seu marido, e de tal modo que, ao despedi-lo para ir a algum dos perigosos encontros com os outros propagandistas, não se esquecia de recomendar:
- Vá... e hoje não se lembre que tem mulher e filhos!
O "AUTOMÓVEL" DE PATROCÍNIO
Coelho Neto - Discurso na Academia Brasileira de Letras, recebendo Mário de Alencar
Não obstante o seu temperamento combativo e boêmio, José do Patrocínio era profundamente religioso. De regresso de Paris, trouxe ele um carro a vapor, que seria o avô do automóvel. Desembarcado o monstro, o jornalista montou na boléia, e, tomba aqui, tropeça acolá, foi encravá-lo, inutilizado, num buraco da Tijuca.
- Já sei por que foi! - fez Patrocínio, de repente, batendo na testa. - É porque não o batizei; estava pagão, o miserável!
E penalizado:
- Qual! Sem religião e com estas ruas sem calçamento, não há progresso possível!
BAIANO... NEM DE GRAÇA!
Alberto Faria - Conferência no Museu Histórico Nacional, a 13 de maio de 1924
Exposto à venda num lote de escravos, no mercado de Campinas, Luiz Gama, que andava apenas pelos dez anos, foi abordado por um fazendeiro das cercanias, que lhe perguntou:
- Onde nasceste?
- Na Bahia, - respondeu o molequinho.
- Baiano... nem de graça! - declarou o comprador.
E afastando-se:
- Já não foi por bem que te venderam tão pequeno!
Trinta anos depois, tornado grande jornalista e advogado famoso, fez Luiz Gama relações com esse fazendeiro, que era o Conde de Três-Rios. E esse titular, que o não quisera para escravo, orgulhava-se, então, de tê-lo como amigo.
SENTENÇA MILITAR
Afrânio Peixoto - Conferência no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a 2 de julho de 1923.
Sitiado o general Madeira na Baía, começou, em 1823, o dissídio entre as tropas sitiantes, que deviam obedecer ao comando geral do general Labatut. Desobedecido esse general por Felisberto Gomes Caldeira, comandante de um dos batalhões patrióticos, é este preso. Dias depois a Junta da Cachoeira, ordena a prisão do próprio Labatut, e a libertação de Caldeira.
- Foi mal feito! - declarou o oficial brasileiro, depois de solto.
E emitindo a sua opinião:
- Um general que não convém às tropas não deve ser preso por estas: deve ser morto!
No ano seguinte, as suas tropas o matam!
A MUSA IMPERIAL
Alfredo Pujol - "Machado de Assis", pág. 15.
Instado pelo Imperador, a quem não suportava desde que voltara formado de S. Paulo, ia Francisco Otaviano algumas vezes ao Paço da Boa-Vista, ouvir os versos do monarca. De regresso de uma dessas visitas, perguntou-lhe Salvador de Mendonça:
- Como vai o homem?
- Como sempre, - informa o poeta-senador.
E acrescenta:
- A fazer maus versos e a criticar os bons!
DE "DIREITOS" E DE "FATOS"
Versão corrente no Rio de Janeiro.
Um conhecido alfaiate da rua do Ouvidor havia tido uma questão com o fisco por causa de um contrabando de casimiras, após o qual começou a reconstruir o prédio em que se achava estabelecido. Em meio às obras, com a rua atulhada de materiais, um clube carnavalesco resolve protestar contra o entulho perante a Prefeitura.
- Mas a Prefeitura não tem nada com isso, - opina Emílio de Menezes. O caso deve ser tratado com o ministro da Fazenda.
E justificando a opinião:
- Aquela casa "de fatos", é do alfaiate, mas, de "direitos", é da Alfândega!
OS "RAPAZES"
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 227.
Nos últimos dias da monarquia, sendo chefe de Polícia o Dr. Basson, proibiu este que os estudantes comemorassem o 14 de julho com grande passeata, a qual seria, fatalmente, fonte de distúrbios republicanos. O Imperador mandou chamar a autoridade, e, obtendo dela a confirmação da medida, aconselhou:
- Não faça isso, Sr. Basson.
E paternalmente:
- Deixe os rapazes...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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