A MELHOR CARTA
DE EMPENHO
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 145.
Era o Dr. João Gomes de Campos juiz na Corte, quando se
apresentou na sua casa uma titular de grande estalão com uma carta de empenho,
para que lhe fosse favorável no julgamento de uma causa.
- Minha senhora, tenha a bondade de abrir essa
gaveta, - pediu o magistrado.
A dama puxou a gaveta, que se achava repleta de cartas
para abrir.
- Que viu aí, minha senhora?
- Cartas;
muitas cartas, ainda fechadas, dirigidas a V. Excia.
- Pois, deite a sua aí, minha senhora.
- Mas, Sr.
Desembargador...
- Perdoe-me, minha senhora; tenho feito isso aos pobres e
não posso ser mais generoso com os ricos.
E de pé, para despedi-la:
- A lei, minha senhora, é a melhor carta de empenho que
me podem apresentar.
BATUTA DE
MARINHEIRO
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 151.
Era o capitão-tenente Bento José de Carvalho, irmão do
Visconde de Inhaúma, comandante da corveta Isabel, quando esta
naufragou, em 1859, nas costas de Marrocos.
O sinistro ocorreu durante uma tempestade. As ondas,
enormes e furiosas, varriam o navio, quando este, rebentado o casco e partidos
os mastros, começou a afundar-se.
- A vida de um comandante, depois do naufrágio, é fardo
que não se deve disputar às ondas! - gritou,
em desespero, o bravo marujo.
E atirou-se ao abismo.
COTEGIPE PROFETA
A. J. de
Araújo Pinho - "O Barão de Cotegipe no Rio da Prata", pág. 8.
O Barão de Cotegipe, com a sua preciência política, foi,
pode-se dizer, o piloto avisado da marcha da monarquia. Pelos acontecimentos de
que era testemunha, previa aqueles que se avizinhavam. Pelo vôo das gaivotas
conhecia a aproximação da tormenta.
Em maio de 1888, comentando a abolição, previu que,
dentro de pouco tempo, se iniciaria para o país uma fase revolucionária, a qual
traria a nação convulsionada por muito tempo. E como alguns colegas, sorrissem,
voltou-se para eles, exclamando, em tom profético:
Se eu me engano, lavrem na minha sepultura este epitáfio:
"O chamado no século Barão de Cotegipe,
João Maurício Wanderley, era um visionário"!
O FIM DE UM
GÊNIO
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 161.
Álvares de Azevedo foi, talvez, o talento mais precoce
que o Brasil já produziu. Nascido a 12 de setembro de 1831, faleceu a 25 de
abril de 1852, contando, portanto, pouco mais de 21 anos, - o que não obstou
nos tivesse deixado uma obra poética imperecível.
Ao sentir a aproximação da morte, que lhe vinha prematura
em conseqüência da vida boêmia em que consumia a mocidade, pediu Álvares de
Azevedo à sua mãe que se retirasse, ergueu-se no leito, encostou a cabeça ao
peito do irmão, e, tomando a mão do pai, beijou-a com ternura.
- Que fatalidade, meu pai!
- murmurou.
E fechou os olhos, para sempre.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).
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