Conheça quatro teorias que
tentam explicar os mistérios do Santo Sudário
Por BBC / Brasil
Peregrinos diante
do Santo Sudário, na Catedral São João Batista, em Turim.
|
Seja como for, saber como o tecido acabou registrando a
imagem de um homem segue sendo um mistério.
O escritor especializado em ciência Philip Ball discute,
abaixo, as teorias envolvendo o Santo Sudário:
Em um comunicado cauteloso, o arcebispo de Turim disse
que o papa "confirma sua devoção ao
sudário que milhões de peregrinos reconhecem como um sinal do mistério que
envolve a paixão e a morte de Cristo".
É possível notar que ele não mencionou nada sobre sua
autenticidade. A Igreja Católica não assume uma posição oficial sobre isso,
afirmando apenas que é uma questão para ser investigada cientificamente.
Desde que um teste com carbono-14, feito em 1989, afirmou
que a peça teria cerca de 700 anos, a Igreja tem evitado dizer muito além de
que o tecido é um ícone da devoção cristã.
Mas apesar da disputa sobre sua idade, os enigmas sobre o
objeto vão muito além. Um amplo estudo feito em 1978 por uma equipe de
especialistas internacionais --no projeto que ficou conhecido como Sturp (sigla
para Shroud
of Turin Research Project) não chegou a
uma conclusão sobre como o tecido carrega a impressão de um homem barbado
aparentemente com ferimentos de crucificação.
Não faltam hipóteses.
Alguns sugerem que a imagem no tecido passou por um
processo natural, outros afirmam que é obra de falsificadores medievais e há
ainda que defenda que está relacionado à ressurreição.
Mas essas hipóteses têm algum mérito? Conheça as
principais teorias a respeito do misterioso tecido:
1. É uma pintura
Se isso for verdade, análises químicas poderiam
identificar os pigmentos usados, assim como restauradores fazem com pinturas
clássicas. Mas a equipe do Sturp não encontrou evidências de nenhum pigmento ou
de corante suficiente para explicar a imagem. Eles também não encontraram
sinais de pinceladas.
Na verdade, a imagem no tecido de linho é difícil de se
ver a olho nu. Ela não foi identificada até 1898, quando ficou evidente no
negativo da foto tirada pelo fotógrafo italiano Secondo Pia.
A leve coloração do linho não é causada por alguma
substância aplicada no tecido. Na verdade, é o próprio material das fibras que
acabaram escurecendo.
E, ao contrário dos principais métodos de pintura e
tingimento, a coloração no tecido não pode ser dissolvida, descolorida ou
alterada com agentes químicos.
A equipe do Sturp afirmou que a imagem é a forma real de
um homem "em sofrimento e crucificado... e não a produção de um
artista".
Os pesquisadores afirmaram que há gotas de sangue
genuínas no tecido, inclusive com o tipo sanguíneo (AB). Também haveria traços
de DNA humano.
Mas isso não impediu que o americano Walter McCrone, que
é consultor na área de química e havia colaborado com o Sturp, afirmasse que as
manchas vermelhas não eram sangue, e sim minúsculas partículas de um pigmento
vermelho ou ocre.
Assim como qualquer outro tipo de teoria sobre o sudário,
a versão de McCrone é contestada e, atualmente, poucos a levam em consideração.
Há ainda a teoria de que a imagem teria sido feita a
partir de uma imagem de uma estátua em baixo relevo. Mas análises físicas e
químicas da imagem não sustentam essa ideia.
2. É resultado de um processo natural
Se a impressão no tecido foi feita pelo escurecimento de
suas fibras, o que levou a esse processo? Um dos especialistas que analisou o
sudário, Raymond Rogers, argumentou em 2002 que uma simples transformação
química seria responsável pelo processo.
Segundo ele, até mesmo temperaturas moderadas de um corpo
podem descolorir os compostos que formam as fibras de algodão de um tecido.
Essa é uma ideia simples, mas há poucas evidências para
se provar isso nessas circunstância particular. Não é algo que acontece sempre
em mortalhas funerárias.
Outra ideia é a de que a descoloração das fibras foi
causada por uma reação química provocada por substâncias corporais.
3. É uma fotografia
A foto de Pia mostrou que a imagem no pano era negativa:
escura onde deveria ser clara. Isso aprofundou o mistério e o próprio Pia
sugeriu que o sudário poderia ser um tipo primitivo de fotografia.
Essa ideia é apoiada pelo historiador sul-africano
Nicholas Allen, que afirma que isso poderia ter sido conseguido ao se usar
materiais e conhecimentos que estavam ao alcance de eruditos medievais, muitos
antes da fotografia ter sido oficialmente inventada.
O que está por trás dessa ideia é o composto químico
nitrato de prata, presente nas emulsões usadas no processo fotográfico no
século 19.
O nitrato de prata de fato é conhecido desde a Idade
Média, segundo Allen. Ela afirma que o composto foi citados em obras do século
8 e do século 13.
Ele pode ter sido usado no pano em uma sala escura e
depois exposto à luz do sol por meio de uma lente feita de quartzo, já que a
prata escurece com raios ultravioletas, que o vidro absorve, mas o quartzo,
não.
Allen fez réplicas do sudário usando essa teoria. Mas a
maneira como a imagem fica no pano quando a prata é removida e o modo que
falsificadores medievais trabalhavam na época trazem problemas à teoria.
Assim como várias dúvidas sobre a forma exata e o
contraste da imagem se ela tivesse sido feita dessa maneira. Por isso, muitos
consideram a ideia de Allen mais ingênua do que plausível.
4. É resultado de algum tipo de liberação de energia
De acordo com um grupo de cientistas chamado Yahoo Shroud
Science Group, a hipótese envolvendo a
ressurreição de Jesus não pode ser descartada.
"Hipóteses ligadas a uma fonte de energia vinda de
um Homem envolto em algo e outros correlacionados a descargas eletrostáticas
causadas por um campo elétrico", diz o grupo.
Visto que essa hipótese parece evocar processos
desconhecidos da ciência, que presumidamente ocorreriam durante o retorno da
morte, é tecnicamente certo dizer que a ciência não pode refutá-la nem, na
verdade, dizer muito sobre ela.
Mas isso não impediu alguns cientistas de opinar. O
químico Giulio Fanti, da Universidade de Pádua, propôs que as camadas
superiores do tecido teriam sido queimadas por uma explosão de "energia
radiante" que partiu do próprio corpo.
Ele cita o episódio bíblico da Transfiguração de Cristo e
cita Lucas 9:29: "Enquanto orava, a
aparência do seu rosto foi se transformando e suas roupas ficaram alvas e
resplandeceram como o brilho de um relâmpago.”
Isso, se falado de uma maneira educada, é uma evidência
bem circunstancial. Mas Fanti sugere que se deveria ao menos testar se fontes
artificiais desse tipo de radiação podem produzir um resultado similar no
linho.
Fonte: UOL Notícias, de 19/06/2015. (Reuters/ Distribuída por BBC).
Nenhum comentário:
Postar um comentário