terça-feira, 2 de junho de 2015

Crise na saúde pública vai além da falta de verbas

Heitor Férrer (*)
"Enquanto a nossa população cresce, como sobreviver com a diminuição de leitos hospitalares?"
O conceito de saúde hoje não se restringe apenas a postos de saúde, hospitais, médicos e demais profissionais da área. Esse conceito ampliou-se e inicia-se com acesso à moradia, educação de qualidade, saneamento básico, alimentação, emprego e lazer. São itens essenciais a que todo cidadão deva ter direito e são construtores da boa qualidade de vida, passando por uma boa condição de saúde.
A falta desses serviços, certamente, vulnerabiliza o cidadão, expondo-o mais facilmente a perda da saúde. No estado do Ceará, esse quadro de vulnerabilidade é real por omissão de políticas públicas nessas variadas áreas. Quando se trata especificamente da rede de saúde púbica, aí sim tem-se uma lógica necessária para o seu bom aproveitamento, contemplando minimamente a excessiva demanda que existe no estado do Ceará.
O primeiro grave problema reside na falta de atendimento básico, responsabilidade das prefeituras municipais e feito pelos postos de saúde, existentes em números insuficientes, mal equipados e, muitas vezes, com falta de profissionais e medicamentos. Sem o bom atendimento na rede primária e sem uma boa resolutividade, um quadro simples de doença pode se complicar, necessitando aquele paciente de uma internação hospitalar que não deveria acontecer. É o caso, por exemplo, de um diabético que não controla sua diabetes nos postos de saúde ou de um hipertenso que também não controla a sua pressão arterial, culminando com complicações vasculares, como trombose e derrame cerebral e, no caso do diabético, com a cetoacidose, que pode levar ao coma diabético.
Além desse problema bem palpável no nosso cotidiano médico, existe a insuficiência de leitos hospitalares para atender a enorme demanda, a ponto de não se encontrar com facilidade vagas até em hospitais particulares já que, ao longo dos últimos anos, o número de leitos fechados no Ceará foi maior que o número de abertos, mesmo com a construção dos hospitais regionais Norte (Sobral) e do Cariri (Juazeiro do Norte). É tão crítica a falta de leitos que há poucos dias a Justiça Federal, através do juiz Jorge Luís Girão Barreto, determinou que o Governo do Estado construísse 150 leitos de UTI’s nos próximos quatro anos. Ou seja, é a judicialização de procedimentos médicos por conta de uma crise estabelecida e construída ao longo dos anos.
Enquanto a nossa população cresce dia-a-dia, como sobreviver com a diminuição de leitos hospitalares? E por que esses leitos foram fechados? Temos aqui outro complicador. Essas unidades não sobrevivem porque os procedimentos pagos pelos SUS são tão fora da realidade que muitos hospitais no Estado tiveram que fechar suas portas, por não conseguirem se manter com os repasses do Governo Federal, amargando severos prejuízos financeiros e cessando suas atividades.
Portanto, dentro dessa escassez de recursos, é fundamental a existência de uma boa rede primária, item número um para se evitar a enorme quantidade de pessoas nas filas dos nossos hospitais terciários, que precisam, assim, fazer papel de unidade primária e atender pacientes fora do seu perfil.
(*) Deputado estadual e médico especializado em clínica geral.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 30/5/2015. p.11.

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