quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O BRASIL ANEDÓTICO VII

O JUIZ CRISTÃO
Mário de Alencar - Revista da Academia Brasileira de Letras, n° 7, 1912
Era Raimundo Correia juiz no Rio de Janeiro quando lhe foram a despacho os papéis de um processo-crime, sobre um ferimento, a facão, num açougueiro, feito pelo seu próprio empregado.
Raimundo mandou chamar as partes. Declarou que ia absolver o culpado, porque havia sido ofendido no insulto. Mas, só o faria com uma condição: se os dois não guardassem ódios. Fez-lhes uma preleção sobre a violência, e terminou:
- Vocês têm religião?
- Sim, senhor.
E aproximando-os:
- Então, vão, e sejam amigos...
AS BARBAS DE D. FRANCISCO
Moreira de Azevedo - Mosaico Brasileiro, pág. 37
Era costume de D. Francisco de Almeida, depois segundo conde das Galveas e íntimo de D. João VI, comparecer ao Paço com a barba por fazer. Um dia, o monarca observou-lhe:
- Pois nem hoje, dia dos meus anos, D. Francisco, fizeste a barba?
- Por que não fez Vossa Majestade anos ontem, que foi dia em que me barbeei? - retrucou o fidalgo, na sua bonomia.
A TÁTICA DE FLORIANO
Faria Neves Sobrinho - A Manhã, de 19 de janeiro de 1927
Verificada a renúncia de Deodoro, e conseqüente ascensão de Floriano, os amigos deste promoveram por todo o país movimentos revolucionários, pondo no governo dos Estados gente do seu grupo. Em Pernambuco, deposto o Barão de Contendas, foi constituída uma Junta governativa, com o general Jaques Ouriques, José Vicente Meira de Vasconcelos e Ambrósio Machado Cunha Cavalcante. Urgia, entretanto, eleger um governo definitivo, e a Junta, em telegrama a Floriano, propôs três nomes: Martins Júnior, José Vicente e Ambrósio Machado.
Dias depois vinha este telegrama lacônico de Floriano:
- "Barbosa Lima aceita e agradece".
A Junta ficou boquiaberta. Jamais havia passado pela idéia dos seus membros o nome de Barbosa Lima.
MODÉSTIA CONTRA ARROGÂNCIA
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 30
Discutia-se no Senado o projeto de lei emancipando os escravos, quando Zacarias, que lhe era contrário e ocupava a tribuna, exclamou, em certo momento, zombeteiro, ferindo de frente Rio-Branco:
- Podem, por exemplo, sr. Presidente, dizer a um desses escolhidos: "És um Rio, e às tuas brancas águas entregarei a nau que leva os destinos da coroa!"
Quando Zacarias acabou, Rio-Branco subiu à tribuna e começou assim:
- Sou o primeiro, Sr. Presidente, a lamentar que as circunstâncias me colocassem nesta posição e que ao ministério de que faço parte coubesse a realização de tão grande idéia. Fora, sem dúvida, mais feliz o país se tivesse à frente do seu governo um atleta da força do nobre senador pela Baía. Mas S. Excia. mesmo teve a bondade de recordar-nos que, às vezes, a Providência permite que pequenos e modestos instrumentos possam realizar maiores feitos do que alterosos gênios.
E entrou, em seguida, no assunto.
O IMPERADOR E BENJAMIM
Tobias Barreto - "A tolerância do Imperador", no O Jornal, de 5 de dezembro de 1925
Pedro II estava no exílio, quando, ao abrir um jornal, deparou a notícia da morte de Benjamim Constant.
- Aqui está uma notícia que me entristece, - declarou.
O Barão de Penedo, que se achava presente, estranhou aquele sentimento, por quem se mostrara tão ingrato. E o neto de Marco Aurélio:
- Nada tem uma coisa com a outra. Esse era o homem político. Deploro a morte do homem de ciência, que estimei, e que era muito boa criatura.
A EXPERIÊNCIA DE UM MORALISTA
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 135.
Ao contrário do que se pode concluir das suas máximas, o marquês de Maricá não era um homem sisudo, grave, conceituoso, na palestra. Gostava de pilheriar com finura, tendo deixado, nesse terreno, alguns ditos interessantes.
Certo dia, estava ele à mesa, quando recebeu uma participação de casamento.
- Vamos, marquesa, - disse, pondo-se de pé; vamos quanto antes dar os parabéns aos noivos. Bom será que seja hoje mesmo.
- Hoje, marquês? Por que tanta pressa?
- Para não acontecer - respondeu ele, - o que sempre acontece; isto é, dar-se parabéns quando os noivos já estão arrependidos.
OS PERIGOS DA ELETRICIDADE
Anais do Senado
Sessão de 7 de julho de 1894, no Senado. Quintino acaba de defender os interesses de Floriano Peixoto, advogando a prorrogação do sítio e a suspensão das imunidades parlamentares. Ora Leopoldo de Bulhões.
Ramiro Barcelos aparteia-o. A manutenção das imunidades vai ser um fermento de novos pronunciamentos.
Bulhões protesta:
- V. Excia. engana-se!
E numa imagem:
- Pelo fato da eletricidade e do vapor produzirem desastres, deve a indústria deixar de empregar, de servir-se dessas forças?

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

2 comentários:

Ynot Nosirrah disse...

Se a televisão já existisse no século XIX, vejo que não faltaria assunto para o Casseta&Planeta. rsrs
Falando sério, há alguns dias comentei aqui que muitos médicos não querem mais trabalhar de jaleco, mesmo em ambiente refrigerado, não foi? Essa parte do ambiente refrigerado estou dizendo agora. Disse também que nunca vi um médico psiquiatra usar jaleco, não foi? Digamos que seja meia verdade. Lembrei-me que dr. Antônio Mourão ainda usa jaleco.

Marcelo Gurgel disse...

Caro Ynot,

Paulo falará, digo escreverá, oportunamento sobre jaleco. Na década de setenta quando estudante de Medicina não se usava jaleco no Ceará, e sim batas: as novas referências eram cariocas. Nos anos oitenta, quando ficamos sob maior influência paulista, com deslocamento e retorno de médicos residentes treinados em São Paulo, foi quando passamos a usar jaleco, algo pouco apropriado ao clima local, e muito menos o de Sobral.

 

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