quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

BICO DURO, CONVERSA MOLE

Por Ricardo Alcântara (*)
Li na imprensa declaração de alguém definido na matéria como “um petista do bico duro”, se é que isso ainda existe. São confissões reveladoras pela originalidade com que interpretam os fundamentos democráticos.
O presumido bico duro qualificou como “terra arrasada” o quadro político resultante de uma possível ruptura na aliança que mantém sob o mesmo teto e em lados opostos da mesa o governador e a prefeita da capital.
Em outro trecho da mesma nota, o petista – apesar do bico duro, preferiu se reservar no anonimato – disse que o cenário de ruptura, descrito por ele de modo dramático, só agradaria aos jornalistas de política.
Bobagem. Os analistas de plantão formam uma unanimidade quase burra, e dela compartilho, na constatação de que o fim da aliança agora poderia ser o pior dos cenários para os interesses de ambos, governador e prefeita.
Gente que assina o que diz tem repetido que uma ruptura só abriria a cena para uma terceira força, ao cacifar aliados secundários e dar sobrevida a grupos em fase declinante. A incerteza só é bom território para a oposição.
Mas a ruptura não é necessariamente má para a cidade, ora. Não desce redondo, este texto de que, sem a tutela da aliança, a cidade mergulhará no caos. Inácio Arruda, Heitor Férrer e Renato Roseno merecem melhor crédito.
O petista tem o direito de lutar para manter as coisas como estão (se estão boas para ele), mas qualificar como “terra arrasada” a possibilidade de que qualquer outra força venha a governar a cidade é um lapso fascista.
Se a ruptura representaria um cenário de “terra arrasada” para os membros principais da aliança, para a sociedade em geral talvez seja apenas uma saudável oportunidade de respirar (ainda não está proibido).
Postos em cena outros agentes, se fragiliza o oligopólio eleitoral, enriquece o debate político, revela novas lideranças, acolhe demandas sociais asfixiadas, enfim. Pense nisso, bico duro. E deixe de conversa mole.
Fumaça é sinal de fogo
A convite, como outros estive em uma palestra de Inácio Arruda para militantes do PCdoB. O senador colocou sua candidatura como decisão definitiva. “Vou até com apenas um minuto e meio de televisão”, disse.
Sem elementos objetivos para afirmar isto, mas com feeling de veterano, saí de lá com a impressão de que Inácio conta com algo mais robusto, além do seu “minuto e meio de televisão”. Algo me diz que ele não está só na parada.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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