sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A GREVE E MORALIDADE

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald – Redentorista.
As recentes greves dos policiais militares e bombeiros militares exigem uma reflexão a respeito da moralidade das greves. Ninguém nega o direito dos policiais e bombeiros de exigir melhorias salariais. Aliás, o salário pago aos policiais é baixo e, porque não dizer, vergonhoso. Porém, são categorias de serviços essenciais que, parece-me, a lei proíbe fazer greve para o bem da Nação (cf. Art.142, inciso lV da Constituição de 1988 que diz: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”). O direito do trabalhador de parar seu trabalho é hoje um assunto pacífico e aceito por todos que, muitas vezes, esquecemos que há uma importante diferença entre uma greve justa e eticamente correta e uma greve injusta e moralmente condenável. Uma greve deve ser em última análise, uma maneira de ameaçar e infligir prejuízo ao governo, uma firma ou uma pessoa que está nos injustiçando, com a finalidade de pressioná-lo a remediar ou acabar com a injustiça. No passado, o prejuízo causado por uma greve era em grande parte limitado ao empregador. Hoje, porém, por causa da interdependência dos diferentes grupos na sociedade, o dano é sofrido, não somente pelo empregador, mas também por muitas outras pessoas.
Antes de iniciar uma greve todos nela envolvidas devem responder quatro perguntas básicas: (i) Há certeza absoluta da existência de uma real injustiça? (ii) Será que esta injustiça é suficientemente grave para justificar a perda ou prejuízo que provavelmente será causada pela greve? (iii) Há uma adequada proporção entre a perda próxima a ser infligida e a finalidade legítima procurada? (iv) Será que todos os esforços para chegar a um acordo através de negociação foram feitos? Uma pessoa tentando decidir se deve ou não fazer greve tem que responder a estas perguntas afirmativamente, antes de poder afirmar que “esta greve é moralmente justificável”. Nunca podemos esquecer que uma greve é uma arma a ser usado somente como último recurso, nada pode justificar seu uso como primeiro passo numa disputa para ganhar melhores salários. Há muito tempo os policiais militares e civis estão pleiteando melhores salariais, e acredito que a greve deles foi usada somente como último recurso. Obviamente, a administração pública e administradores de empresas não devem esperar que a inquietação ou agitação se instale antes de conceder razoáveis melhoramentos em salários e condições de trabalho. A demora em agir rapidamente frequentemente traz consequências lamentáveis. Greves potenciais são evitadas quando sensíveis administradores de departamentos governamentais e lideranças sindicais responsáveis sentam-se à mesa para negociar num ambiente de respeito mútuo. É realmente deplorável que a experiência torne plausível para os trabalhadores, policiais, bombeiros e membros de outras organizações profissionais que “somente uma greve consegue resultados”, e nada mais funcione.
Publicado no Jornal O Estado, de 10/01/2012.

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