terça-feira, 14 de outubro de 2014

DNA


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)

Entre as “wonderdrugs” (drogas maravilhosas) da medicina descobertas desde a Segunda Guerra, devemos mencionar aquelas para doenças comuns, incapacitantes ou fatais como a hipertensão arterial, e os contraceptivos. Transcendental foi a evolução das técnicas cirúrgicas, máxime os transplantes de rins, fígado, e coração (nos quais o Ceará é líder no Brasil!), e as próteses, mormente a de quadril. Neste sentido sobressaiu sobremaneira a elucidação do DNA, seu papel genético e nas respostas corporais às agressões externas.

Os trabalhos de Charles Dawin (1809-1892) e do monge agostiniano, botânico, austríaco Johann Gregor Mendel (1822-1884) com suas ervilhas, em 1866, originaram teoria evolucionista nova, e Mendel justificou cientificamente a transmissão dos caracteres hereditários. Não explicaram, contudo, as causas das alterações, ocorridas por herança, que permitiam a sobrevivência das espécies. Tampouco o estudo dessas pesquisas por geneticistas, posteriormente, conseguiu esclarece-las em definitivo. O mundo científico teria que esperar até 7 de maio de 1953, quando o físico Francis Crick e o norte-americano James Watson descobririam a estrutura do DNA. Esse feito notável proporcionou o Nobel de Fisiologia em 1962. O DNA (ácido desoxirribonucleico, em inglês, ou ADN em português) é um composto orgânico condutor das informações genéticas que coordenam a estruturação e o funcionamento dos seres vivos, e a transmitem suas características hereditárias.
A despeito da simplicidade de sua composição química, o DNA é a matéria prima dos gens, sendo formado principalmente por fosfato e açúcar, este a desoxirribose, donde seu nome. Para entendimento da estrutura e das funções do DNA os estudiosos interessados não podem esquecer seus pesquisadores iniciais, no final da década de 1850. Os mais lembrados são o suíço FredrickMischer, em Tubingen, Alemanha, e o químico Felix Hoppe – Seyler. Outros nomes a esses se juntaram como Altmann (+1900), Kossel (+1927), este detentor do Nobel de Fisiologia (1910); Griffth (1928), Levene e Jacobs, em 1929.
A lista de cientistas inclui outros de igual importância, mas seria maçante para os leitores citar-lhes. Tão significativa foi a descoberta do ácido desoxirribonucleico que seu estudo mais profundo levou ao Projeto do Genoma Humano, de 1986, o mapeamento de todo o material genético humano, e vem embasando a engenharia genética. Segundo futurólogos como Ray Kurzweil, esta ensejaria vida permanente a partir de 2029, até nos transformarmos em homens / máquinas, ou “cyborgs”, em 2015.
A propósito, recomendamos ler / reler nossos artigos aqui, de 2013 (27/3 a 6/11). O desempenho genético de tão revolucionária substância ficou evidenciado também na genética forense, em medicina legal. Inicialmente indispensável nas disputas de paternidades, a seguir, mercê das investigações de Sir Alec Jeffreys em 1980, tornou-se essencial na área criminal quando do reconhecimento de delitos, e na identificação de cadáveres após desastres deformantes. Presente em todas as células nucleadas, pode ser obtido do sangue, do esperma, cabelo, saliva, da urina e fezes.
Modernamente as tecnologias dirimiram dúvidas nomânticas (como o sexo do bebê ainda no útero) e tornaram obsoletos procedimentos de famosos detetives na literatura. Quem lembra-se de Auguste Dupin, Sherlock Holmes, do oftalmologista Conan Doyle, do inspetor Maigret, de Georges Simenon, de G.K. Chesterton. Não mais a intuição inteligente, a elucubração, mas a frieza e a certeza do laboratório. 
(*) Médico, ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 24/9/2014. p.10.

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