quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A RESIDÊNCIA MÉDICA E O “DOCTOR-BOOM” CEARENSES

O número de vagas nos vestibulares para os cursos de Medicina, sediados no Ceará, passou de 150, em 2000, para 370, ao cabo de três anos, com a chegada da Faculdade de Medicina de Juazeiro, das extensões da UFC em Barbalha e em Sobral, e do curso de Medicina da UECE.
Em 2006, sob o beneplácito do Ministério da Educação, foram autorizados os cursos médicos da Faculdade Christus, com 112 vagas, e da UNIFOR, com 120 vagas, de sorte que, a partir de 2012, sairão cerca de 600 médicos recém-graduados, retratando mais do que o quádruplo da média histórica de formados, anualmente, no Ceará.
Independente da entrada de novas escolas médicas no solo cearense, ora em fase de gestação, as cifras acima serão engrossadas com o aporte de mais 90 vagas, no âmbito da UFC, como decorrência do REUNI, via duplicação da oferta interiorana e implemento de dez vagas na capital, resultando em mais de setecentas vagas anuais nas escolas médicas.
Na virada do milênio, antes desse “doctor-boom”, a oferta da Residência Médica (RM), no Ceará, em programas autorizados pela Comissão Nacional de Residência Médica, era bastante para atender à demanda expressa na quantidade de concludentes da UFC, tomando por parâmetro a cobertura de 70% de graduados que desejavam RM, no País.
Ao longo desta década, esforços institucionais foram conduzidos no sentido de expandir e de diversificar a disponibilidade de vagas de RM, a exemplo do Hospital do Câncer / Instituto do Câncer do Ceará, que se tornou o terceiro maior pólo formador de oncologistas do Brasil; da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, com a adição de vagas aos programas existentes e a criação de novos programas, incluindo os do Hospital Waldemar Alcântara; da Secretaria da Saúde de Fortaleza, que pôs em marcha um ousado programa de RM em Medicina da Família e da Comunidade; e do empenho da FMJ e da UFC, em prol da interiorização da RM.
Essas iniciativas, se bem que importantes, foram eclipsadas, todavia, pelo vertiginoso incremento do total de médicos egressos no Ceará, e pela persistência de algumas distorções, qualitativas e quantitativas, configuradas na ausência ou na insuficiência de vagas em certos programas, e no excedente de vagas em programas especializados (especialidades clínicas e cirúrgicas), frente à limitada oferta nos programas que compõem seus respectivos pré-requisitos (Clínica Médica e Cirurgia Geral).
As instituições formadoras de médicos, no Ceará, notadamente as mais novas, surgidas recentemente, necessitam, igualmente, assumir o ônus de contribuir para a educação médica continuada dos seus egressos, como um imperativo da sua responsabilidade social, avalizando e qualificando as entidades hospitalares que lhes servem de apoio, ao ensino de graduação, a fim de que essas venham a se inserir como centros formadores de médicos residentes.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública da UECE
* publicado in: Jornal O Povo, 25/01/09 Fato Médico, p.8.

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