Frei Teodoro Haerke nasceu em Hameln, no Norte da Alemanha, em 07/03/1905. Em 17/05/1928, ingressou na Ordem Franciscana Menor (OFM), cumprindo o noviciado em Bardel, chegando ao Brasil, em 17/07/1929, para receber a sua formação religiosa. Estudou Filosofia no Convento Nossa Senhora das Neves, em Olinda-PE, de julho de 1929 a julho de 1931, e Teologia, em Salvador-BA, de julho de 1931 a maio de 1934. Ordenou-se, em Salvador, em 17 de maio de 1934.
Como frade, exerceu trabalho missionário inicialmente no Convento de Salvador, depois, em João Pessoa, onde permaneceu alguns anos, daí transferindo-se para o interior de Pernambuco. Chegou ao Ceará, atuando, primeiramente, em Tianguá, e, mais tarde em Fortaleza, onde aportou em 1943, na época da II Guerra. Por dezesseis anos residiu nesta capital, estendendo a sua permanência até 1959, quando, então, foi remanejado para Canindé-CE, local em que veio a falecer em 1972.
Frei Teodoro era um homem alto e corpulento. Apesar de alemão, de nascimento, dominava muito bem o idioma português. Lecionava religião em diversos colégios da capital fortalezense, incluindo o Liceu, onde ministrava sempre a última aula, obrigando-se a voltar a pé ao convento, com o sol a pino, mas munido do seu guarda-chuva, um inseparável companheiro de caminhadas e de jornadas esportivas.
Era um modelo de franciscano, não apenas pelo hábito marrom, capucho, cordão e sandálias, mas por sua devoção ao próximo e pelos votos de castidade, caridade e pobreza, tão caros aos discípulos de São Francisco de Assis. Zeloso na aplicação dos preceitos da fé, coordenando as atividades do Catecismo, da Cruzada Eucarística e da Guarda de Honra, da Igreja de Nossa Senhora das Dores.
Mesmo sendo de origem germânica, foi uma pessoa que se integrou plenamente à alma nacional, identificando-se com o povo brasileiro, principalmente com a juventude. Fundou os times de futebol São Tarcísio, dos aspirantes, e o Montese - a equipe principal - cuja denominação foi dada em honra à conhecida batalha da II Guerra, tão festejada pelos brasileiros. Esse time amador funcionou como escola de formação de craques para as principais equipes de futebol profissional daquele tempo: Ceará, Fortaleza e Usina. Era um desportista nato, um torcedor empolgado com os seus times, que usava o esporte como instrumento de assistência espiritual e religiosa dos jovens.
No Bairro de Otávio Bonfim, fomentou a produção artística local, criando o Conjunto Teatral Santo Antônio, que encenou diversas peças, e impulsionou a programação de filmes no Cine Familiar, pertencente ao Convento, os quais eram submetidos a uma cuidadosa avaliação prévia, da sua parte, quando censurava e mandava cortar as cenas das películas que ele julgava impróprias às crianças e aos jovens.
Bastante forte era a influência que exercia sobre os jovens do Otávio Bonfim, freqüentadores da sua igreja, mantendo-os sob estreita vigilância, no que tange a outras atividades sociais, que pudessem infringir as boas práticas cristãs, ainda que realizadas fora dos muros conventuais. A sua personalidade enérgica imprimia respeito aos mais novos e, de certa forma, freava os arroubos juvenis, contendo arruaças e condutas anti-sociais, por receio das suas reprimendas.
Em Canindé, foi pároco e vice-superior da casa dos franciscanos; sua presença, entretanto, acontecia onde se fizesse necessária: no convento, na basílica, na assistência direta aos romeiros ou no acompanhamento dos problemas dos paroquianos. Jogadores profissionais de times de futebol, muitos deles egressos dos times que ele comandara, no Otávio Bonfim, costumavam ir a Canindé, para ouvir a sua mensagem evangélica, tal como ele fazia antes, e agora oferecia aos componentes da equipe local que formara e dirigira.
Seus últimos dias de vida foram de intenso sofrimento, amenizado, em parte, pela assistência dos seus “afilhados” da Guarda de Honra da Igreja de Nossa Senhora das Dores, notadamente do Sr. Francisco Martins Gonzaga, apelidado pelos antigos companheiros de Chico Tampa, que a ele concedeu gratidão, carinho, reconhecimento, e, sobretudo, amor filial.
A morte de Frei Teodoro, em Canindé, em 14 de junho de 1972, após trinta e oito anos de ministério sacerdotal, resultou em feriado escolar e municipal, com a paralisação até mesmo dos serviços essenciais no turno da tarde, quando cerca de duas mil pessoas participaram da missa de corpo presente e acompanharam o sepultamento desse querido frade.
Os jornais de Fortaleza, o Povo e o Correio do Ceará, de 15 de junho de 1972, noticiaram, com destaque, o passamento de Frei Teodoro, provocando ampla repercussão do fato, em todo o Estado.
Como homenagem póstuma prestada a Frei Teodoro, o vereador Moaceny Feliz, ex-integrante da Guarda de Honra da Igreja das Dores, aprovou projeto de lei municipal, dando o nome do querido discípulo de São Francisco a uma pequena pracinha, defronte à Capela de São Sebastião, situada na confluência das ruas Justiniano de Serpa e Quintino Bocaiúva. Por infortúnio, larápios apoderaram-se da erma revestida em bronze que o homenageava sendo que, até o momento, as autoridades municipais nada fizeram com vistas à reposição do busto surrupiado.
O nome do Frei Teodoro Haerke fez-se imorredouro, no primoroso livro de memórias de Vicente Moraes, intitulado “Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro”, que o reverencia, seguidamente, nas muitas páginas que compõem a meticulosa obra.
Enfim, Frei Teodoro Haerke, saído aos 23 anos da sua Alemanha, para o Brasil, em quase quatro décadas e meia passadas no País, das quais aproximadamente três só no Ceará, conseguiu marcar vigorosa presença em todos os recantos onde o povo se acotovelada para ouvi-lo. Pregou o amor a Cristo, o respeito à juventude e a ajuda aos desvalidos, bem de acordo com o modelo de cristandade exibido pelo “povarello” de Assis.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
* Publicado in: Força viva, 14 (149): 6, 2009. (Informativo da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Fortaleza-Ceará).
Uma bossa nova sobre a série de Fibonacci
Há 11 horas
4 comentários:
De 1949 a 1955 frequentei a paróquia de N.S. das Dores aonde fui coroinha participante da Cruzada Eucarística. Devo muito a frei Teodoro Haerke, de quem fui muito próximo durante esses anos, pela orientação, pelo apoio (inclusive financeiro, às vezes) e pelas demoradas conversas na Sacristia, quando ela falava saudoso da sua juventude e recordava sua Alemanha distante. A vida nos afastou mas sempre o menciono nas conversas sobre a minha juventude. Foi uma alegria encontrar todas essas referências a ele e recordar os anos agradáveis que passei fazendo parte da equipe de coroinhas. Era a época de Frei Lucas (já velhinho) e frei José (o único brasileiro do convento). Ele rezava quase sempre a missa das seis, única que eu podia ajudar antes de ir para as aulas do Ginásio Municipal. E curtia o belo acervo da biblioteca, as peladas no campo do convento atrás do cine Familiar e as séries exibidas 3 vezes por semana. Saudades eternas do meu grande amigo.
De 1949 a 1955 frequentei a paróquia de N.S. das Dores aonde fui coroinha participante da Cruzada Eucarística. Devo muito a frei Teodoro Haerke, de quem fui muito próximo durante esses anos, pela orientação, pelo apoio (inclusive financeiro, às vezes) e pelas demoradas conversas na Sacristia, quando ela falava saudoso da sua juventude e recordava sua Alemanha distante. A vida nos afastou mas sempre o menciono nas conversas sobre a minha juventude. Foi uma alegria encontrar todas essas referências a ele e recordar os anos agradáveis que passei fazendo parte da equipe de coroinhas. Era a época de Frei Lucas (já velhinho) e frei José (o único brasileiro do convento). Ele rezava quase sempre a missa das seis, única que eu podia ajudar antes de ir para as aulas do Ginásio Municipal. E curtia o belo acervo da biblioteca, as peladas no campo do convento atrás do cine Familiar e as séries exibidas 3 vezes por semana. Saudades eternas do meu grande amigo.
De 1949 a 1955 frequentei a paróquia de N.S. das Dores aonde fui coroinha participante da Cruzada Eucarística. Devo muito a frei Teodoro Haerke, de quem fui muito próximo durante esses anos, pela orientação, pelo apoio (inclusive financeiro, às vezes) e pelas demoradas conversas na Sacristia, quando ela falava saudoso da sua juventude e recordava sua Alemanha distante. A vida nos afastou mas sempre o menciono nas conversas sobre a minha juventude. Foi uma alegria encontrar todas essas referências a ele e recordar os anos agradáveis que passei fazendo parte da equipe de coroinhas. Era a época de Frei Lucas (já velhinho) e frei José (o único brasileiro do convento). Ele rezava quase sempre a missa das seis, única que eu podia ajudar antes de ir para as aulas do Ginásio Municipal. E curtia o belo acervo da biblioteca, as peladas no campo do convento atrás do cine Familiar e as séries exibidas 3 vezes por semana. Saudades eternas do meu grande amigo.
Convivi muito tempo com esse saudoso padre, cheguei até a jogar no time principal da Cruzada.Bons tempos.
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