quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

SIMPLICIDADE


Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
José (18 anos) e Ana (17 anos) eram dois adolescentes enamorados. Ambos de classe média, moravam na rua República do Peru, entre Nossa Senhora de Copacabana e Barata Ribeiro, na cidade do Rio de Janeiro. Estudavam para concluir o curso médio e ingressar na UFRJ. Conseguiram. Os dois cursaram a faculdade de Medicina, fizeram os estágios necessários e tornaram-se médicos. Passaram a trabalhar, numa mesma clínica de pediatria, relativamente bem remunerados, decidiram se casar. Continuaram com a vida normal. A união matrimonial, no entanto, durou pouco mais de 2 anos, pois havia uma certa incompatibilidade entre o casal, causada pela vaidade de José. Talvez fosse uma maneira de demonstrar o desejo que possuía de ser mais competente do que ela. Não era o caso. Ana era preferida por um número cada vez maior de clientes. Certo dia, de forma grosseira e covarde, ele espancou a mulher, e resolveu abandonar o lar. Ainda bem que não tiveram filhos. Passou a ter uma vida de “play boy”. Largou a medicina e gastava de forma pródiga, gorda herança recebida de um tio industrial. Ana prosseguia, com amor e humildade, dedicando-se à medicina, visando superar o sofrimento conjugal como também reconstruir sua vida. A vaidade, causada pelo complexo de inferioridade, dominou José. Dinheiro na mão. “Muitos amigos”. Noitadas e mais noitadas. Perdeu a noção do ridículo. Tragicamente faleceu num desastre quando vinha de um “programa” na Barra da Tijuca. Ana, sempre seguindo os princípios cristãos, constituiu um novo lar. Com certeza, José não sabia que “A simplicidade é o mais alto degrau da sabedoria”, segundo Platão. A vida, às vezes, é assim.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 16/9/2016.

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