segunda-feira, 13 de setembro de 2021

AMÉRICA LATINA E GLOBALIZAÇÃO

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Existem elites responsáveis que conduzem seus povos à prosperidade e ao progresso. Vale lembrar Alexandre, o Grande, da Macedônia, e os povos da Mesopotâmia, do Egito e da Grécia Antiga. Entretanto há lideranças que se preocupam muito mais com a defesa de seus interesses pessoais ou de sua casta, do que com as legitimas aspirações populares. Assim aconteceu, por exemplo, com os dirigentes que determinaram a queda do Império Romano e, mais recentemente, com a Alemanha nazista, a Itália fascista e a União Soviética stalinista. Precisamos fazer uma reflexão democrática acerca do que historicamente vem acontecendo com a América Latina, com maior ou menor dificuldade em certos países. É inadmissível que, num momento de suma gravidade como este que a América Latina se encontra, quando a fome é grande, os níveis de desemprego são preocupantes, a violência é corriqueira, o narcotráfico está generalizado e a corrupção disseminada, parte significativa das elites latino-americanas finge que nada de mau está acontecendo. Por sua vez, a região tem possivelmente uma das mais perversas distribuições de renda de todo planeta, o que propicia a essas elites deterem o monopólio do poder político e do poder econômico. No atual contexto, não é preciso ser nenhum pessimista para perceber, com clareza, o futuro que nos aguarda. A insatisfação popular indica que estamos às vésperas de uma grande crise moral, ética e socioeconômica, se não houver, de imediato, uma mudança de mentalidade por parte de certas elites que não possuem espírito público e solidariedade cristã. Estrategicamente, acreditamos na globalização sem explorados e exploradores; sem discriminação; vinculada a um debate amplo sobre tecnologia, pobreza, crescimento, meio ambiente e políticas sociais. A globalização deve ser analisada mais como um processo político e cultural do que econômico e financeiro. Por isso, não podemos concordar com as exigências, muitas vezes irrealistas e cruéis, de organismos internacionais. É claro que as condições para concessão de ajuda devem existir, mas não a custa de penosos sacrifícios das populações. Devemos buscar a justiça, nunca a ganância.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 3/9/2021.

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