domingo, 31 de dezembro de 2023

O AMOR SE VIVE DE DENTRO

Por Pe. Vanderlúcio Souza (*)

Ao preparar a celebração das bodas de 25 anos de um casal muito amado, nesta época natalina, me ocorreu na oração por eles, falar sobre a dimensão do amor que se vive de dentro. A imagem que me vinha à mente era a de vitrais, que mostram todo seu esplendor apenas aos que o contemplam de dentro da instalação onde estão fixados.

O mundo que nos envolve parece nos querer sempre fora de si, à margem de nós mesmos, dispersos com tantos afazeres, nos colocando sem tempo de deitar um olhar demorado para dentro. Deste modo, nos perdemos buscando uma felicidade e uma paz que está em nosso próprio interior.

De repente, estamos completamente envolvidos com planos e desejos periféricos, nos tornamos desconhecidos de nós mesmos, ficamos à deriva no mar da vida e condicionamos nossa vida à validação alheia.

Ninguém é feliz vivendo apenas fora de si. Ao final do dia queremos uma casa, fechar a porta, sentir segurança. Quem viaja, por melhor e badalado que seja o destino sente a necessidade do regresso, de estar dentro do aconchego.

O mistério do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo revela a opção de Deus que decidiu nos amar de dentro, mas tão próximo que se fez carne, Ele armou sua tenda no meio de nós. O Senhor Todo-Poderoso não está mais, apenas, nas alturas, mas se fez um de nós. O pequeno Rei veio à manjedoura do nosso coração.

Contemplar o Pequeno Rei é volver o nosso olhar para a nossa essência, para a originalidade com a qual o Criador nos teceu no seio materno. A presença do Menino Deus é a luz beatíssima que banhando nosso interior revela-nos a nós mesmo o esplendor da criação Divina presente em nosso ser.

A cena de Jesus na manjedoura atrai o olhar dos magos, dos pastores, dos anjos e o nosso próprio. Aquela criança nos enternece, nos questiona. Como pode Deus ter nos amado tanto a ponto de vir morar entre nós?

Esse amor desconcertante do Senhor por nós nos silencia, nos coloca para dentro onde podemos desfrutar de uma paz impossível de se encontrar fora. O resultado desta experiência é que saímos renovados na esperança, desejosos de amar o Senhor e amar aqueles que Ele ama.

O encontro com o Pequeno Rei devolve o nosso olhar para as coisas essenciais, nos faz entender que Deus é amor, que o próximo é nosso irmão. Leva-nos a entender que somos uma missão de Deus neste mundo. Tomados de Sua luz nos tornamos luminosos, pessoas de esperança, conscientes de que o amor, quanto mais se vive de dentro, mais felizes nos tornamos.

O mistério do Natal se torna, assim, uma experiência transformadora, repele a melancolia e devolve o entusiasmo. Enche-nos de louvor, como aos magos e pastores. Tornamo-nos testemunhas felizes do Amor que decidiu resplandecer sua Luz a partir de dentro dos nossos corações, a manjedoura do Pequeno Rei.

(*) Jornalista e Sacerdote recém-ordenado. Coordenador do Setor de Comunicação da Arquidiocese de Fortaleza.

Fonte: O Povo, de 24/12/2023. Opinião. p.20.

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