A ELEGÂNCIA DE TORRES-IIOMEM
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 48
Sales Torres-Homem, apesar do seu tipo austero e pesado, primava em trajar-se com a maior correção e, mesmo, com certo luxo: sobrecasaca rigorosamente justa e abotoada, botina de verniz, luvas, gravatas de gosto com alfinetes adequados.
- É preciso - aconselhava ele, não deixar aos medíocres e tolos sequer essa superioridade: trajarem bem. As exterioridades têm inquestionável importância. A um tresloucado e criminoso é muitíssimo mais fácil dar logo cabo de qualquer maltrapilho, do que simplesmente desrespeitar um homem revestido das insígnias de alta posição social. Conturba-o a certeza de que esse insulto será incontinente punido pelas leis e pelas autoridades.
UM JULGAMENTO
Tobias Barreto - Pesquisas e depoimentos, pág. 242
Homem de sentimentos nobres e caráter inflexível, Ouro-Preto justificava o gesto de Deodoro, revoltando-se contra o seu gabinete, mas não perdoava a atitude de Floriano, traindo-o até a última hora, a 15 de novembro. De regresso do exílio, achando-se Floriano no governo, foi o último presidente do conselho cientificado por um amigo comum de que o ditador desejava ouvir alguns homens antigos e sugeria um encontro com a sua pessoa. Ouro-Preto cortou o assunto.
- Meu amigo - declarou, - se eu alguma vez tivesse encontrado Deodoro e ele me estendesse a mão, apertá-la-ia sem esforço. Mas, à presença do general Floriano...
- ?...
- Só irei preso!
OS "HISTÓRICOS"
Ernesto Sena - Deodoro, pág. 149
O marechal Deodoro jamais contestou que, até às vésperas de 15 de novembro tivesse servido devotadamente ao Imperador. A sua adesão às idéias de Benjamim data, talvez, de 10 a 12 daquele mês.
Certo dia, já presidente, recebeu Deodoro no Itamarati um cavalheiro que alegava ser republicano de longa data, batendo-se pela República desde 1875.
- Pois eu, meu caro senhor, não dato de tão longe.
E pachorrentamente:
- Eu sou republicano de 15 de novembro, e o meu irmão Hermes de 17!
OS ALTOS E OS BAIXOS
Taunay - Reminiscências, vol. I, pág. 158
Na sessão de 6 de setembro de 1869, atacado por Zacarias, José de Alencar, ministro da Justiça, investiu-o galhardamente. Zacarias, forte e esbelto, o havia chamado de "fanadinho", procurando ridicularizar a sua pequena estatura.
- Ora, senhores - bradou Alencar, em meio do seu discurso, - sei que alguns homens altos, e aqui não há certamente desses, - costumam curvar-se para poderem passar por certas portas; mas os homens baixos têm esta vantagem, nunca se curvam. Quando passam pelas portas baixas ou pelas altas, como esta do Senado, trazem a cabeça erguida!
A MONARQUIA E OS ESCRAVOS
Tobias Monteiro - Pesquisas e depoimentos, pág. 196
O que mais atemorizava os estadistas do Império quando se tratava da abolição da escravatura era o desgosto dos fazendeiros prejudicados, que passariam a agir contra a coroa. E esse receio, como se viu depois, era mais que fundado.
A 13 de maio, discutia-se no Senado a lei João Alfredo quando Cotegipe enunciou mais uma vez os seus temores.
- V. Excia. não tem razão, aparteou o visconde de Jaguaribe.
E entre os aplausos das galerias:
- Tenhamos fé nas instituições; se elas valem alguma coisa não há de ser por falta de escravos que hão de cair!
RESPEITO AOS VELHOS
Aluísio de Castro - Discurso da Academia Brasileira de Letras, 1918.
Quando o Dr. Francisco de Castro assumiu, em 1901, a direção da Faculdade de Medicina, quis ter a seu lado, no ato da posse, o seu velho amigo Machado de Assis. Encarregado de ir buscar o grande romancista no Ministério da Viação, ia o Dr. Aluísio de Castro, então estudante, ao lado do autor do Brás Cubas, quando, na rua da Misericórdia, começou a lamentar a desgraciosidade do casario colonial, que tornava o caminho mais longo.
- Que casas feias!... - lamentou o estudante, numa censura de moço olhando aquela edificação secular.
E Machado de Assis, numa desculpa:
- São feias, são: mas, são velhas...
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
"Ainda Estou Aqui"
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