O NOME DE MÁRCIA
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 21.
De passagem pela quinta de Cintra, em Portugal, havia Basílio da Gama deixado no tronco de uma árvore estes dois versos:
Neste tronco com os meus votos/
Escrevo os de Márcia bela.
Caldas Barbosa, que se achava no mesmo logradouro, foi chamado para completar a quadra, e terminou-a assim, entre aplausos:
Porém se o tronco murchar/
Não é por mim, é por ela.
FÍGADO E ESPÍRITO
J.M.Macedo - "Ano Biográfico", vol. II, pág.22.
Sofrendo de uma afecção crônica biliosa, o marquês de Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão, foi atacado de uma crise grave no momento em que combatia, em 1856, com todo o brilho do seu talento, o projeto de reforma eleitoral. Procurado pelos amigos, que lhe pediam se recolhesse ao leito, abandonando a campanha, recusou, terminantemente.
- Enquanto durar esta luta - declarou, - o meu espírito será mais forte do que meu fígado. Depois da vitória, cairei doente.
E assim foi. Uma semana após a vitória, recolheu-se ao leito, e morreu.
CAMARADAGEM ACADÊMICA
Rodrigo Otávio - Revista da Academia Brasileira de Letras, n° 27.
Em 1901, a Academia de Letras tinha como sede, ainda, o escritório de advocacia de Rodrigo Otávio, à rua da Quitanda. Foi aí que se reuniu na tarde de 31 de dezembro para eleger Afonso Arinos.
Carlos de Laet e José do Patrocínio, por essa época, viviam em constantes polêmicas, e até descomposturas, pela imprensa. Nessa tarde, porém, ao entrar na sala, foi Laet apertando a mão a um por um, até que chegou diante do grande abolicionista. Recuar, seria indelicadeza. Expor-se a uma desconsideração, seria desagradável. Teve, porém, um recurso: deteve-se diante do grande negro, e interpelou-o:
- Camarada! Nós agora estamos bem ou estamos mal?
- Mas, estamos bem, amigo! - fez Patrocínio, levantando-se.
E apertaram-se as mãos.
A GUARDA DOS BISPOS
Moreira de Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 165.
Era o conde de Irajá bispo do Rio de Janeiro, quando, um sábado, de regresso do Paço, em companhia do cônego Fernandes Pinheiro, encontrou, como de costume, a ladeira do morro da Conceição ladeada de pobres, de baixo até em cima.
Ao ver aqueles infelizes que esperavam a sua passagem, o grande prelado tornou-se risonho, imprimindo ao semblante uma expressão de ternura.
- Eis aqui a guarda de honra dos bispos! - disse.
CAVALHEIRISMO DE PRÍNCIPE
Alberto Rangel - "D. Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 37
Resolvida a morte de Ractcliff pelo tribunal que o julgou, levou o presidente deste a Pedro I a sentença de morte, para que o imperador a assinasse. Era um documento longo, minucioso e violento, em que a vítima era tratada com insolência e desprezo.
- Não assino! - rugiu o monarca.
E devolvendo o papel, para ser modificado:
- Morra o homem, que é quanto basta; mas não o insultem numa sentença!
ORGULHO DE GENERAL
Taunay - "Reminiscências", vol. I, pág. 150
Após as campanhas de 1868, quando supunha ir travar a batalha definitiva com as forças de Solano Lopez, viu o duque de Caxias que este, mudando de tática, se embrenhava nas cordilheiras, fugindo diante das tropas brasileiras a fim de iniciar o regime das guerrilhas.
- Não posso tomar o papel de capitão do mato, a correr atrás de fujões! - declarou Caxias.
E, pedindo uma licença, embarcou para o Rio.
OPÇÃO
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 109.
Era nos últimos dias de outubro de 1889. Chegado do sul, Deodoro era insistentemente procurado pelos camaradas para que se decidisse a chefiar o movimento republicano, quando, uma tarde, presentes os coronéis Andrade Vasconcelos e Melo Rêgo, o major Solou e outros, alguém aludiu à sua situação.
- Sou monarquista, - declarou o general, - mas...
E em tom firme:
- Se me convencer de que a Monarquia é incompatível com os interesses da Pátria, optarei pela Pátria!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)
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