sexta-feira, 23 de abril de 2010

VINICIUS BARROS LEAL: o Ceará perde um imortal da Medicina e das Letras

Morrer, dormir, quem sabe, assim termina a vida... essa foi a definição do poeta Francisco Otaviano sobre o evento da morte, ele que desconhecia, talvez, que há pessoas, como o Dr. Vinicius Barros Leal, que não morrem: se encantam.
A sensação de finitude da existência humana está, no entanto, presente desde o dia do nascimento. A cada dia, menos um dia. Mas isso não vale para quem, como o Dr. Vinicius Barros Leal, passou a vida plantando e colhendo, sem ficar preso às estações, posto que para ele havia sempre uma eterna primavera. O outono trouxe-lhe os seus encantos, tanto que, na maturidade, as folhas caídas viraram reflexões, transformaram-se em manifestações do pensamento, dispersadas por onde passou, notadamente na Academia Cearense de Medicina, onde deixou o seu nome impresso como um dos ocupantes de suas cadeiras, de maior brilho e entusiasmo.
O Dr. Vinicius Barros Leal, além de médico, era também um literato de grandes méritos, tanto assim que foi eleito membro da Academia Cearense de Letras, deixando ali um exemplo de inteligência, de capacidade intelectual, de retidão de caráter, primando sempre pela ética, dentro da casa que abriga os melhores expoentes da cultura de Ceará. Ingressando na ACL, em 1984, ocupando a Cadeira 34, patroneada por Samuel Uchoa, o pranteado colega revelou-se um escritor polimorfo, como se infere dos livros que trazem a sua autoria.
Da sua extensa biografia, consta que ele foi médico da Legião Brasileira de Assistência, ocupando o cargo de Diretor de Posto e de diretor do Departamento de Saúde Materno-Infantil; diretor do Posto de Saúde de Parangaba; diretor do Asilo de Menores Juvenal de Carvalho; mordomo e diretor de Patrimônio da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza.
A par disso, foi professor de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFC, e presidiu a Sociedade Cearense de Pediatria, da qual foi seu fundador, o Centro Médico Cearense e a Sociedade Médica São Lucas.
Além do legado de honradez e de compromisso com a ciência e com as letras, o Dr. Vinicius deixou também um patrimônio familiar, feito de amor e de compreensão, que irá se perpetuar, sem dúvida, através de seus descendentes, como ele, também, amantes da verdade, das palavras certas e das ações exatas.
Realmente, o Dr. Vinicius se foi, bafejado pela sorte. Ele teve a ventura de ver realizados os seus sonhos, de ter presenciado, ao longo de sua vida terrena, o desfilar das suas emoções, sob os aplausos de um público que o tinha na conta de um excelente pediatra, e de um criador de oportunidades para cultivar o belo, enquanto se deliciava no exercício da saúde comunitária.
Diante do seu passamento, ocorrido em pleno dia 13, data consagrada ao culto à Virgem de Fátima, o que se espera é que o Dr. Vinicius Barros Leal, agora repousando na eternidade, tenha o acolhimento de santos e anjos, dispostos a fazê-lo entender que a morte não existe para quem continua presente na saudade dos seus. A imortalidade é o seu destino: na Academia Cearense de Medicina, na Academia Cearense de Letras, no Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, e no coração de todos que lhe queriam muito bem.
Se vivo estivesse, provavelmente o Dr. Vinicius talvez repetisse, hoje, as palavras do seu colega acadêmico Antônio Girão Barroso: “quando eu me for, uma voz pedirá: silêncio!”
É isso que se está a clamar: um silêncio obsequioso, em respeito à memória de quem sempre só soube fazer amigos e granjear admiradores.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Academia Cearense de Medicina

* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 6(36):2-3, 2010.

2 comentários:

Ademar Mendes Bezerra disse...

Parabéns pela homenagem ao notável esculápio e historiador. Ele era sobrinho do Des. Adalberto de Barros Leal. O seus avô também era médico. Tinha ligação com Sobral. Creio que era sobrinho da tia Maria José, casada com o meu tio-avô Manuel Felizardo Pereira Mendes, este avô de vários médicos, entre os quais, Felizardo e José Nilson Ferreira Gomes e Francisco Mendes Adeodato.

Ademar Mendes Bezerra disse...

Parabéns pela homenagem ao notável esculápio e historiador. Ele era sobrinho do Des. Adalberto de Barros Leal. O seus avô também era médico. Tinha ligação com Sobral. Creio que era sobrinho da tia Maria José, casada com o meu tio-avô Manuel Felizardo Pereira Mendes, este avô de vários médicos, entre os quais, Felizardo e José Nilson Ferreira Gomes e Francisco Mendes Adeodato.

 

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