domingo, 27 de março de 2011

O BRASIL ANEDÓTICO XXVI

AS ATENUANTES DA INTENÇÃO
Faria Neves Sobrinho, na "A Manhã", de 19 de janeiro de 1926.
Havia Barbosa Lima assumido o governo de Pernambuco, quando, em visita ao interior, foi ter a certo município onde o receberam com grandes festas, inclusive um banquete. À mesa, o Prefeito, um sujeito pernóstico, iniciou o seu discurso:
- Senhores, saudemos o Dr. Barbosa Lima; S. Excia. tem demonstrado no governo que é um homem de bem. Enfim, senhores, S. Excia. é um cínico, um venal!
Os convivas entreolharam-se. O orador gozou o efeito dos vocábulos, cuja significação ignorava.
E quando todos esperavam um protesto, Barbosa Lima aparteou:
- Obrigado, pela intenção!
E as palmas ressoaram.

O GUARDA-CHUVA DO PADRE SEVERIANO
Humberto de Campos - Discurso na Academia Brasileira de Letras, 8 de maio de 1920.
De regresso de Paris, onde deixara a batina, o padre Severiano de Rezende surgia, uma tarde, à rua Gonçalves Dias, trajando jaquetão claro, chapéu de palha, flor à lapela, mas tendo à mão, em conflito com aquela meia elegância, um guarda-chuva de cabo torcido.
Ao encontrá-lo à porta da Confeitaria Colombo, Emílio de Menezes abriu os braços para estreitá-lo:
- Estás belo, padre, assim à paisana!
- Achas?
- Decerto.
E olhando melhor:
- Agora, é só a bengala que traja à clerical.
- Que bengala? - estranhou o ex-sacerdote. - Isto é um guarda-chuva...
E Emílio:
- Pois é isso mesmo: que é um guarda-chuva senão uma bengala de batina?

A SOGRA DO POETA
Augusto de Lima - Revista da Academia Brasileira de Letras.
Os últimos anos da vida de Bernardo Guimarães foram de recolhimento e de isolamento. Pobre e modesto, depois de haver tentado vários lances da fortuna, vivia em um dos arrabaldes de Ouro-Preto, quando ali o foi visitar Augusto de Lima. No correr da palestra, o romancista da Escrava Isaura falou de si, assinalando o modo por que a sorte paradoxalmente o protegia.
- O meu destino é de tal ordem, meu amigo, - disse, - que a minha sogra tem o nome de Felicidade!...

LIBERDADE E LICENÇA
Anais do Senado. Ano de 1894.
O Congresso, incerto ainda das suas funções, discute o estado de sitio e as imunidades parlamentares. No Senado formam-se dois blocos, em torno dessas medidas. Virgilio Damásio, espírito liberal, ataca, na sessão de 9 de julho, a prorrogação do sítio, defendendo a liberdade dos cidadãos.
É melhor, então, o excesso de liberdade, a licença? - aparteia João Cordeiro.
- Não; a licença não é o excesso, protesta o orador.
E sentencioso: - A licença é a perversão da liberdade!

CAMPOS SALES E A IGREJA
Antônio Ribas - Ob. cit., pág. 724.
Magoado com o ato do Ministério Lucena revogando o decreto n.0 521, de 26 de junho de 1890, sobre a obrigatoriedade do casamento civil antes do religioso, Campos Sales subiu à tribuna do Senado a 13 de junho de 1891, e produziu um dos seus mais belos discursos, combatendo a ação do clero contra aquele seu ato.
E a certa altura, exclama: - Enquanto for necessário, sr. Presidente, combater a influência da Igreja para garantir, com a ação do poder civil, o progresso social, eu a combaterei!

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

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