terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

OPINIÃO PÚBLICA




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Nos dias de hoje a sondagem de opinião foi elevada a consciência pública.
A ideia de auscultar a opinião pública não é nova. Platão (428/ 427- 348/347 A.C) já afirmava, num dos seus principais livros, A República: “não é prudente o governante sempre dar ouvidos à opinião da maioria”. O povo não careceria de ser ouvido para a tomada de decisões, pois sua opinião é a junção de uma ideia nascida da ignorância com o seu despreparo...
Nicolau Maquiavel (1469-1527) em outro livro, O Príncipe, lembra ao príncipe: “não se deixe guiar pela opinião publica, mas não a ignore”.
A força maior da expressão popular, adormecida desde a Idade Média, desabrocha no início do século XIX, quando surgiram novas técnicas, supostamente científicas, para medir (auferir, auscultar) a avaliação pública dos eventos correntes.
Alexis de Tocqueville, aristocrata francês (1805-1859) escreveu longamente sobre o valor relativo dessas aferições e seu uso para referendar ações governamentais. E foi um dos maiores críticos da popularização das pesquisas de opinião na América do Norte. Quem nelas se baseia esquece de que a lógica das mentes humanas jamais poderá ser expressa por uma média (numa distribuição, valor que se determina segundo uma regra estabelecida a priori e que representa todos os valores da distribuição).
A mente humana, de fato, não pode ser medida por médias. Imagine o leitor que, em pleno obscurantismo do medievo, um monge-astrônomo polonês, Nicolau Copérnico (1473-1543), causou polêmica quando disse e provou que o nosso planetinha não passava de um astro mixuruca e que rodava em torno do Sol, estrela meio apagada — chinfrim. Caso a ideia do obscuro Nicolau fosse submetida a um referendo popular à época, o resultado seria bem previsível. Além do analfabetismo universal, grassava a ameaça das fogueiras, da Inquisição.
A moderna psicologia comprova que, de uma forma ou de outra, trocamos todas as nossas insaciabilidades por um bem-estar efêmero. O consumismo, ou o que seja, e as necessidades primárias seriam os fatores prevalentes da natureza humana. As técnicas da Psicologia de Massa levam os marqueteiros a investir no aumento dessa fragilização/dependência do humano, incrementada quando ajuntada à pobreza, à ignorância e à falta de educação básica.
Além do mais, a natureza consensual do povão é subjugada ao Poderoso de plantão. Esse consenso, natural ou não, passou a ser um reflexo condicionado, desvirtuado pelo marketing e cada vez mais aprimorado. O consenso é uma das mais fortes variáveis para uma escolha qualquer na vida; tanto faz se for escolher o Presidente ou uma marca de sabão em pó. A psicodinâmica é a mesma.
Passeando pelas Máximas, Pensamentos e Reflexões de autoria do Marquês de Maricá (1773-1848): “Existe muita gente que procura afiançar com a opinião pública os seus equívocos pessoais ou partidários”. O fato é que uma república que se diz democrática não pode jamais confiar às ruas a tarefa de aprimorar as instituições, com ou sem a Internet.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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