Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Nos dias
de hoje a sondagem de opinião foi elevada a consciência pública.
A ideia
de auscultar a opinião pública não é nova. Platão (428/ 427- 348/347 A.C) já
afirmava, num dos seus principais livros, A República: “não é prudente o
governante sempre dar ouvidos à opinião da maioria”. O povo não careceria de
ser ouvido para a tomada de decisões, pois sua opinião é a junção de uma ideia
nascida da ignorância com o seu despreparo...
Nicolau
Maquiavel (1469-1527) em outro livro, O Príncipe, lembra ao príncipe: “não se
deixe guiar pela opinião publica, mas não a ignore”.
A força
maior da expressão popular, adormecida desde a Idade Média, desabrocha no
início do século XIX, quando surgiram novas técnicas, supostamente científicas,
para medir (auferir, auscultar) a avaliação pública dos eventos correntes.
Alexis de
Tocqueville, aristocrata francês (1805-1859) escreveu longamente sobre o valor
relativo dessas aferições e seu uso para referendar ações governamentais. E foi
um dos maiores críticos da popularização das pesquisas de opinião na América do
Norte. Quem nelas se baseia esquece de que a lógica das mentes humanas jamais
poderá ser expressa por uma média (numa distribuição, valor que se determina
segundo uma regra estabelecida a priori e que representa todos os valores da
distribuição).
A mente
humana, de fato, não pode ser medida por médias. Imagine o leitor que, em pleno
obscurantismo do medievo, um monge-astrônomo polonês, Nicolau Copérnico (1473-1543),
causou polêmica quando disse e provou que o nosso planetinha não passava de um
astro mixuruca e que rodava em torno do Sol, estrela meio apagada — chinfrim.
Caso a ideia do obscuro Nicolau fosse submetida a um referendo popular à época,
o resultado seria bem previsível. Além do analfabetismo universal, grassava a
ameaça das fogueiras, da Inquisição.
A moderna
psicologia comprova que, de uma forma ou de outra, trocamos todas as nossas
insaciabilidades por um bem-estar efêmero. O consumismo, ou o que seja, e as
necessidades primárias seriam os fatores prevalentes da natureza humana. As
técnicas da Psicologia de Massa levam os marqueteiros a investir no aumento
dessa fragilização/dependência do humano, incrementada quando ajuntada à pobreza,
à ignorância e à falta de educação básica.
Além do
mais, a natureza consensual do povão é subjugada ao Poderoso de plantão. Esse
consenso, natural ou não, passou a ser um reflexo condicionado, desvirtuado
pelo marketing e cada vez mais aprimorado. O consenso é uma das mais fortes
variáveis para uma escolha qualquer na vida; tanto faz se for escolher o
Presidente ou uma marca de sabão em
pó. A psicodinâmica é a mesma.
Passeando
pelas Máximas, Pensamentos e Reflexões de autoria do Marquês de Maricá
(1773-1848): “Existe muita gente que procura afiançar com a opinião pública os
seus equívocos pessoais ou partidários”. O fato é que uma república que
se diz democrática não pode jamais confiar às ruas a tarefa de aprimorar as
instituições, com ou sem a Internet.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Nenhum comentário:
Postar um comentário