segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

DESAMOR À VIDA E À SAÚDE



Até que enfim, depois de tanto abusar da nossa paciência, por um período correspondente a uma gestação humana, chega a termo uma trama mal urdida, que bem merecia ter sido abortada, mercê das suas incongruências e das aleivosias assacadas contra a sociedade e, em especial, os profissionais de saúde deste País.
Desde o seu início, em maio de 2013, a novela “Amor à Vida” ocupava o horário nobre de uma rede de televisão, retratando uma estória de ficção que beira o fantástico, ou quiçá o escabroso, por tão inverossímil arcabouço.
O cenário de base é um hospital particular, estranhamente qualificado como filantrópico, com supostas atividades sociais para justificarem a benemerência e, assim, receber as benesses algo “pilantrópicas”. É incrível que um hospital privado, com a hipertrofia da atividade-meio, constatada por tantos funcionários administrativos, em detrimento de sua atividade-fim, pois o que menos se vê em cena é paciente, consiga sobreviver ao tempo de duração desse folhetim, sem ter experimentado à bancarrota, mormente diante da riqueza ostentada por seus proprietários, acionistas e dirigentes, advinda de pro labore ou de participação em lucros e resultados.
Os personagens, dos núcleos rico ou pobre, guardam uma relação, direta ou indireta, com o Hospital San Magno, um verdadeiro antro de práticas sexuais entre os seus funcionários, que mais assemelha um lupanar ou um prostíbulo decadente. Eram médicos assediando enfermeiras, e vice-versa, culminando, invariavelmente, no tálamo das relações consentidas, mas livres das amarras do amor.
Além das questões pessoais, e do campo afetivo, a novela buscou revelar a sordidez e a incompetência dos profissionais de saúde, e, especialmente, a dos médicos, trazendo à baila ações que violam os códigos de ética profissional e as leis vigentes no Brasil, pintando um cenário extremamente desabonador da prestação de serviços de saúde.
Longe querer ver chifres em cabeça de cavalo, pode até ser uma mera coincidência, mas o governo brasileiro parece ter aproveitado esse terreno minado, carrascal, em que a imagem médica estava enxovalhada, para agir como algoz da medicina e das leis nacionais, ao impor o Programa Mais Médicos, importando médicos cubanos, sem a validação dos seus diplomas, e descumprindo as mais comezinhas leis trabalhistas, vigorantes aqui e alhures.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece

* Publicado In: O Povo, de 3 de fevereiro de 2014. Opinião. p.13.

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