segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

PARA QUE SERVE A UECE?



Por Plínio Bortolotti (*)
O governador Cid Gomes (Pros) dá declarações frequentes queixando-se do recurso despendido com as universidades estaduais. Insiste que o dever dele é com o ensino médio, conforme a divisão constitucional de responsabilidades na educação. Ocorre que o artigo 205 da Constituição dita que cada uma das esferas de poder deve atuar “prioritariamente” assim: educação infantil e ensino fundamental (municípios), ensino médio (estados e Distrito Federal) e ensino superior (União). Porém, por óbvio, “prioridade”, não significa excludência.
MEDICINA
Na sua peleja para desobrigar-se do ensino superior, a última do governador foi ameaçar transferir o curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) para a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção (O POVO, 18/2: http://goo.gl/qY8d4e). Se, por exemplo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), insinuasse transferir o curso de Medicina da USP para uma universidade federal, o céu desabaria sobre ele. A sociedade paulista (incluindo a situação e a oposição) por-lhe-ia a cobro. Aqui, nesta terra de sol, o negócio passou batido.
SEMINÁRIO
Cid ameaçou com retirada do curso de Medicina da Uece durante o seminário, reunindo cerca de 400 professores, estudantes e servidores, para debater o rescaldo da greve de três meses, finda no início deste ano. A propósito, ressalve-se, com louvor, o fato
de ter sido o próprio governador a propor o encontro, participando nos dois dias do evento, realizado esta semana no Centro de Eventos. (Nas outras universidades estaduais, Urca e UVA, também foram realizados seminários com a presença do governador.)
PROPOSTAS
Positivo também, o fato de Cid Gomes ter reafirmado o compromisso com as propostas que conduziram ao fim da greve: 1. correção dos salários e concurso público para servidores técnico-administrativos; 2. verba de R$ 10 milhões para aplicação em políticas de assistência ao estudante (a Uece vai investir a maior parte, R$ 6,5 milhões, em bolsas de estudo); 3. reforma e ampliação do campus de Itapipoca; 4. regulamentação do plano de cargos, carreiras e vencimentos (PCCV) dos professores e 5. concurso para professores.
O reajuste dos servidores técnico-administrativos será de 102%, escalonado. O concurso, em três etapas, contratará 134 novos servidores (número de baixas por aposentadoria e morte nos últimos sete anos). Tanto a primeira parcela do reajuste quanto a primeira etapa do concurso, serão realizados no atual governo. Para as demais fases, segundo o reitor Jackson Sampaio, será estabelecido um “marco legal” para garantir o cumprimento pela próxima gestão. (Atualmente a Uece tem 367 servidores; 20 anos atrás eram 970.)
Porém, o nó que opõe a comunidade universitária ao governador, é o concurso para novos professores. O reitor Jackson Sampaio afirma ser necessária a contratação emergencial de 163 professores (somente para repor as baixas dos últimos sete anos). Por seu turno, Cid discorda do número de professores necessários; deixando entender que autorizaria 50 contratações. Para Cid, há ociosidade, pois, na visão dele, os professores deveriam ficar mais em sala de aula, dedicando apenas 1/3 da carga horária para atividades extraclasse.
PESQUISA E EXTENSÃO
Pelo jeito, o governador Cid Gomes vê o ensino superior, como se fosse uma espécie de “colegialzão”, sem vislumbrar o importante papel da universidade na extensão social, pesquisa e inovação. A vida universitária não pode ser reduzida a uma sala de aula e a um giz (ou power point) manuseado pelo professor. Mesmo que o governador mantivesse essa visão estreita, ele poderia perceber que a Uece é um grande instrumento que ajuda a melhorar o ensino fundamental e médio (pelo qual ele é responsável), pois essa universidade é a maior formadora de professores do Ceará.
A comunidade universitária continua a debater o assunto. Por sua vez, o governo estadual afirma que, até a próxima semana, enviará as mensagens relativas às universidades para voto na Assembleia Legislativa.
(*) Jornalista. Ex-ombudsman de o Povo.
Fonte: O Povo, Política, de 22/2/1014.

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